Conversei por 85 minutos com o empresário e prefeito Udo Döhler em seu gabinete na prefeitura de Joinville. Do diálogo anoto ideias e concepções sobre liderança, sucesso, práticas de administração. Udo destaca a importância do esforço e da persistência do trabalho para conquistar êxitos. Prega o desapego, valoriza o associativismo e afirma: “é preciso olhar para o futuro”.
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Udo é empresário, ex-presidente da Döhler S.A. Em 2012 foi eleito prefeito de Joinville e, em 2016, foi reeleito. Udo também se dedica voluntariamente, há mais de quatro décadas, ao Hospital Dona Helena. Foi cônsul honorário da Alemanha na cidade e presidiu por cinco mandatos a Associação Empresarial de Joinville (Acij). Participou de lutas e conquistas da cidade nas últimas décadas. Esteve durante vários anos à frente do Corpo de Bombeiros Voluntários. Foi integrante do conselho de política industrial da Fiesc, conselheiro master da Confederação Nacional da Indústria e diretor da Associação Brasileira da Indústria Têxtil.
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Quais são as características de um líder?
Udo Döhler – Liderança é elemento que constitui traço de gestores e que faz sentido quando buscamos melhorar a qualidade de vida e o bem estar coletivo. Todos têm oportunidades e, especialmente, os avanços extraordinários da tecnologia e do conhecimento permitem que surjam oportunidades de qualificação.
Ser líder é algo natural ou se aprende?
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Udo – Hoje qualquer pessoa pode se capacitar. Ser bom gestor significa executar continuamente o esforço. Mas liderança se conquista; não é hereditária.

Há valores essenciais nessa busca e exercício de liderança?
Udo – Praticar e desenvolver dois valores são muito importantes, tanto na vida, quanto na administração de um negócio, de um empreendimento, de uma cidade. São a família e a ética. Sem uma boa e estruturada família, o restante se desmancha.
O que o senhor apreendeu ao empreender?
Udo – Aprendizados são constantes ao longo da vida. Só se consegue avançar se há esforço persistente. Sempre digo – e repito: não há segredo; há trabalho. E sem trabalho árduo não há agregação de valor. Para cada fase há formas de agir. Aprendi que temos de pensar sempre diferente.
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O senhor tem visão diferente em relação a que senso comum, por exemplo?
Udo – Certamente. Dou dois exemplos. Acredito que santo de casa faz milagre, sim! Como também digo que a pressa é amiga da perfeição. As coisas têm de ser feitas bem e rapidamente. E isso é plenamente possível.
Como isso se dá na prática?
Udo – Unindo inteligência artificial – a tecnologia em suas variadas vertentes e possibilidades – com a inteligência emocional, que é vetor importante das relações humanas e sociais. O administrador tem de buscar o bem coletivo. Não basta só duplicar a produção e aumentar lucro e a rentabilidade.
O que é necessário para um jovem se tornar um empresário de sucesso?
Udo – Ele tem de ter e conhecer referências. Uma delas é o associativismo. Integrar-se ao meio e aprender e trocar ideias com os outros. Isso é estimulante. A outra coisa é saber filtrar as informações adequadamente. Hoje a informação está democratizada. Está em todos os lugares – e nos consome. É preciso também persistir no objetivo traçado. Atualmente, o mundo corporativo e a complexidade para decidir é tanta que é mais confortável sentar no chão de fábrica do que vestir terno e gravata.
O que o empresário não pode fazer? o que vai dar errado?
Udo – O empresário não pode, apenas, ser honesto. Tem de ser íntegro. Se não for íntegro, ele não avança. A integridade é essencial. Em tempos de muito mais longevidade, o que vai ficar não é o valor financeiro das conquistas. A Organização Mundial da Saúde já avisa: a humanidade vai viver mais de 80 anos, chegando a mais de cem em algum momento não tão distante. A Singularity University aponta que em 2038 vamos ter vida adicional de 30 anos.
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Isso quer dizer…
Udo – Isso quer dizer que temos de olhar para o futuro. Me dizem: você, como prefeito de Joinville, tem de deixar uma grande obra. Digo, ok, mas o mais importante é preparar o futuro.
Quais são as oportunidades que não se pode desperdiçar?
Udo – As oportunidades estão em qualquer lugar. O empreendedor tem de partir para a ação. Entendo que avanços acontecem de forma mais consistente quando empresas, poder público e academia se unem. Fica mais fácil avançar de forma conjunta.

Como é mais fácil avançar?
Udo – Goethe (o escritor alemão Johann Wolfgang von Goethe) já dizia: “não basta querer, é preciso agir”. Quem faz uma empresa são as pessoas que lá trabalham. A decisão sobre no que empreender não pode demorar. A tomada de decisão tem de ser rápida, mesmo sob o risco de se equivocar.
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É possível planejar o sucesso?
Udo – Claro que sim. Confundimos sucesso com patrimônio; confundimos sucesso com prestígio. Isso não tem a ver com sucesso. Sucesso não pressupõe aparecer na primeira página do jornal ou em matéria na TV. O sucesso é uma construção. Nós desprezamos o desapego. Acumular bens não significa ser bem sucedido.
Qual foi teu maior acerto?
Udo – O exercício da boa conduta. Não fosse isso, talvez eu não tivesse sido prefeito. Se não se buscar isso não se alcança a paz.
E teu maior erro? Algo do qual se arrepende.
Udo – Não me lembro de algo que tenha me arrependido.
O fracasso ensina?
Udo – Sem dúvida! Isso está no contexto daquela ideia de esforço como fator de êxito. Esforço somado ao talento. As pessoas precisam ter paixão pelo que fazem.
Quem é teu guru?
Udo – Tive uma professora no terceiro ano do ensino fundamental, a Emília Siqueira de Campos. Foi marcante. Quando me formei em Direito, eu mandei convite para ela ir à solenidade. Na ocasião ela me disse: você pode deixar alguma coisa para o futuro. Eu demorei para compreender o significado da frase.
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Alguém mais foi inspirador?
Udo – Hans Dieter Schmidt, Baltasar Buschle, Sadalla Amin Ghanem. Dieter me chamou para o associativismo, tinha um enorme espírito público. Baltasar foi exemplo de retidão. E Sadalla me ensinou que o revide nunca é uma boa prática.
Em 20 anos, o que mudou no seu pensamento e na prática?
Udo – Mudaram pouco as minhas concepções. Temos de olhar sempre para frente. Nunca para trás. Errou, trata de resolver.
Algum livro inspirador?
Udo – Tem muitos. Agora, estou entusiasmado com o livro “Garra”. A autora Angela Duckworth trata de quatro etapas para se conquistar o objetivo: interesse, prática, propósito e esperança.