O Sindicato das Escolas Particulares de Santa Catarina (Sinepe/SC) já identifica o fechamento de dezenas de creches e pequenas escolas nas variadas regiões do Estado, como efeito direto do prolongamento da suspensão de atividades, por ordem do governo. Em março o setor reunia 1.300 estabelecimentos e empregava 40 mil trabalhadores.

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Nessa entrevista, o presidente do sindicato, Marcelo Batista de Sousa, ainda critica duramente a condução do governo estadual durante a pandemia do novo Coronavírus, e conta que mais de 90% das escolas privadas tiveram inadimplência no pagamento de mensalidades. O sindicato patronal das escolas particulares quer que o governo autorize o imediato retorno de seu pleno funcionamento.

Qual é o tamanho do setor de educação privada em SC? Quantas escolas e faculdades há no Estado? Quantos profissionais atuam e qual era o número de alunos até a pandemia vir?

Marcelo Batista de Souza – O setor contribui com cerca de 1,8% do PIB estadual. De creches a universidades, até março deste ano, éramos 1300 unidades, gerando 40 mil empregos e mais de 500 mil matrículas. Segundo pesquisa da Fundação Getúlio Vargas (FGV), as instituições privadas de ensino economizam diretamente ao Estado de SC mais de 10 bilhões de reais/ano. Economizam porque as famílias que matriculam seus filhos nas escolas particulares deixam de onerar o Estado com a ocupação das vagas em escolas do governo na rede pública de ensino.

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A pandemia do novo Coronavirus parou as atividades desde março. Neste período quantas escolas já fecharam em definitivo?

Marcelo – Impossível quantificar. A cada dia aumenta o número de relatos dando conta de fechamento de creches e pequenas escolas de ensino básico. O prolongamento da suspensão das atividades escolares presenciais contribui desastrosamente para o aumento dos casos de encerramento das atividades de dezenas de tradicionais estabelecimentos de ensino, desemprego, queda na arrecadação estadual e filas de espera por vagas na rede de ensino governamental do Estado.

O Sinepe fez algum estudo sobre a situação?

Marcelo – Em recente pesquisa online realizada pelo SINEPE/SC junto aos afiliados sobre os impactos da crise gerada pelo Coronavirus, podemos constatar: a) as escolas tiveram, em média, aumento de 29,8% de custos para suprir novas necessidades; b) tiveram, em média, economia de 11,66% com a redução de custos (materiais, água, luz, energia, telefone etc.; c) 93,5% das escolas tiveram aumento real de inadimplência, com índices que variam de 15% a 50% ao mês; d) 53,3% das escolas afiliadas, mesmo na crise, já concederam reajuste salarial a todos os seus colaboradores (professores e administrativos), no mês de março (data-base); e) 93,5% das escolas tiveram pedidos de cancelamento durante a quarentena.

Há dados sobre volume de demissões de trabalhadores?

Marcelo – Não há dados. Demissão é último recurso. Os professores seguem trabalhando e as escolas mantém ensino via online.

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Em relação a ações do governo estadual e das prefeituras pra combater a pandemia estão corretas?

Marcelo – Pelo que se acompanha através dos depoimentos de especialistas, estão incorretas. Há muita desinformação por parte das autoridades, das quais a população espera orientação segura, e só vem recebendo mau exemplo.

Concorda que as escolas ainda devem ficar fechadas?

Marcelo – Quem diz que devem permanecer fechadas desconhece o que a ciência recomenda. Temos o testemunho de médicos e cientistas e exemplos em outros Estados e países, assegurando a possibilidade e a necessidade do retorno seguro da escola. As famílias têm o direito de optar quando seus filhos podem voltar às aulas e a escola privada está preparada para perfeitamente atender essa demanda social. A escola, independentemente da pandemia, jamais foi grande vetor ou foco propagador de doenças. As escolas privadas são arejadas e mantém rigorosa assepsia.

Do ponto de vista pedagógico e de aprendizado, 2020 é um ano perdido?

Marcelo – Em hipótese alguma é um ano perdido! Nossos alunos vêm tendo um ótimo aproveitamento. No ensino privado, onde vivenciamos e acompanhamos de perto a realidade, vemos escolas, professores, coordenadores fazendo um trabalho de qualidade. Em pesquisa que realizamos com quase 45 mil famílias, aferimos naquela ocasião (final de maio) que 96,4% das escolas privadas já estavam oferecendo atividades remotas e que aproximadamente 70% das famílias se manifestaram satisfeitas ou muito satisfeitas com as atividades. De lá para cá, o ensino só ganhou em qualidade. O Conselho Estadual de Educação, diante da excepcionalidade provocada pela pandemia, criou regulamentos e orientações que as escolas seguem, evitando quaisquer perdas do ano letivo em curso. 

Aulas online são possíveis apenas para minoria que tem acesso à tecnologia. E mesmo assim, conteúdos ficam bastante prejudicados. Concorda que aulas presenciais são essenciais?

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Marcelo – Discordamos, respeitosamente, da afirmação acima que “aulas online são possíveis apenas para minoria que tem acesso à tecnologia” e que os “conteúdos ficam bastante prejudicados”. Essa não é a realidade nas escolas privadas. Seguramente uma ampla maioria tem acesso e realiza as atividades propostas. A escola privada é extremamente exigida pelas famílias em termos da qualidade do que oferta em serviços. Lembre-se, a escola particular é uma opção da família, que procura sempre o melhor para seus filhos. Trata-se de questão de sobrevivência para as escolas ofertar o serviço qualificado que atenda aos anseios dos alunos e suas famílias, mesmo com as limitações impostas pelo momento da pandemia. Nenhum dos nossos alunos terá prejuízo pedagógico.

Que efeitos o ano de 2020 terá para a qualidade de aprendizado desta geração de crianças e adolescentes?

Marcelo – Em todas as crises há aprendizados. Desta vez não está sendo diferente. A escola particular se supera e o aluno – principal razão da nossa existência – terá motivos para avançar na escalada do conhecimento. Faço minhas as palavras de António Guterres, secretário-geral da ONU, lembrando que a educação merece o qualificativo de atividade essencial: “Colocar os alunos de volta às escolas da forma mais segura possível precisa ser a maior prioridade”. No Brasil, porém, o debate sobre o tema foi virtualmente interditado pelos políticos, infelizmente.

Entende que a volta normal – como antes da pandemia – das aulas só acontecera em meados de 2021 ou poderá ser antes? 

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Marcelo – O Sindicato das Escolas Particulares (Sinepe /SC) quer, mediante as condições sanitária e epidemiológica favoráveis, que sejam imediatamente liberadas as aulas na rede privada, atendidos os protocolos e respeitada a escolha de livre arbítrio das famílias. Isso poderá se dar independentemente da rede pública. As realidades são muito distintas… nem melhores nem piores, mas distintas. Veja bem, desafios que a escola privada tem, tais como inadimplência, cancelamentos, pedidos de descontos, honrar compromisso com salários, encargos, impostos e demais despesas… não atingem a escola pública.

Em compensação…

Marcelo – Ao mesmo tempo, processo licitatório, burocracias do serviço público em geral, o ciclone bomba que atingiu mais de 400 escolas estaduais (atingiu escolas privadas também, que já se reconstruíram!), merenda e transporte escolar, não são situações vividas na escola privada… portanto, havendo condições sanitárias e epidemiológicas favoráveis, as escolas privadas devem voltar independentemente da escola pública, ficando à cargo das famílias a decisão acerca de enviar ou não seu filho para nossas escolas, que estarão aptas para recebê-los, com toda a responsabilidade e cuidados que o momento requer.