Em entrevista exclusiva, o secretário de Articulação Internacional do governo de Santa Catarina, o empresário joinvilense Derian Campos, fala das prioridades da pasta e revela como foram os bastidores de sua chegada ao cargo. Também diz o que pensa sobre concessão de benefícios fiscais e defende a criação de parcerias público-privadas para a área de infraestrutura. A seguir, um resumo da conversa.
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Como o senhor recebeu o convite para ser secretário de Articulação Internacional do governo Moisés?
Derian Campos – Vamos recuar no tempo. No começo de 2018 me coloquei à disposição para ser o candidato do PSL a governador. Nem achava que ganharia a eleição, e nem que seria o melhor candidato. Mas vi uma oportunidade de contribuir, em face do cenário político que se desenhava. Foi quando surgiu o nome do comandante Carlos Moisés como outra alternativa. O PSL quase fez coligação. Defendi, desde o início, a chapa própria. Na convenção, abri mão para Moisés ser homologado candidato. E, desde então, fiz a campanha dele.
O senhor já esteve em outros partidos antes.
Campos – Sim. Fui filiado ao PV e ao PSB. E quase fui para o Patriota. Optei pelo PSL, seguindo o hoje presidente Jair Bolsonaro.
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Como foi o convite para ser secretário de governo?
Campos – Eu era o interlocutor do então candidato Moisés em Joinville. A equipe dele é técnica. Moisés fez indicações técnicas para todas as secretarias. Ele me convidou no final de novembro. Tivemos um almoço para alinharmos o que pensamos a respeito das atribuições e da natureza do trabalho a ser desenvolvido.
Como o senhor se define?
Campos – Morei dez anos nos Estados Unidos. Tenho também a cidadania norte-americana. Acompanhei as eleições do (Donald) Trump (presidente americano). Sou empresário do setor plástico focado no setor automotivo (é CEO da CRW Plásticos, de Joinville) e de startups. Mas eu me defino pela profissão: sou um vendedor. E é isso o que quero fazer no governo: “vender” Santa Catarina.
Qual é a estrutura da Secretaria de Articulação Internacional?
O governador nos deu cem dias para analisarmos a situação da secretaria. E, neste prazo, definir metas e ações. A pasta tem três diretorias: exportação, captação de investimento e articulação internacional. E algumas gerências. Vou agir com foco no aumento das exportações de produtos agregados. Esta é e será a prioridade. Vamos ter amplo diálogo com a iniciativa privada nesse sentido. A secretaria cuida de indicadores estratégicos, acordos e tratados e de elevar as exportações, fomentar negócios e também cuida de promover a captação de investimentos externos para o Estado.
O que falta para Santa Catarina ser um Estado com maior inserção global?
Campos – O ciclo de negócios de exportação é de 180 dias. O período médio de transações no mercado interno é de 90 dias. O Brasil não tem mentalidade internacionalista. E os empresários precisam ser educados para querer e saber exportar. Um adolescente chinês já sabe o que é overseas (no exterior). Aqui mal se fala duas línguas. E o governo precisa apoiar os exportadores. Na secretaria, vou desenvolver programa voltado à exportação como negócio e também, fortemente, impulsionar a educação exportadora.
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Há alguma ação específica pensada para Joinville?
Campos – Penso na região de Joinville como um todo. Vejo a região de Itapoá, São Francisco do Sul, tendo Joinville no centro geoeconômico, como um hub de negócios logísticos. Enxergo este espaço – o da região da baía Babitonga – com enormes potencialidades. É necessário juntar modais (rodoviário, aeroportuário e ferroviário), duplicar a BR-280… As demandas por infraestrutura são bem conhecidas.
E na área de atratividade de empresas para o Estado, o que pretende fazer?
Campos – Vamos focar em buscar empresas de tecnologia, software e de produtos manufaturados que agreguem valor a nossa cadeia produtiva. Inclusive montadoras com olhar para produção de veículos elétricos, por exemplo.
Como vai se aproximar de países centrais?
Campos – Teremos mais cooperação com os Estados Unidos. Isso é determinação do governador. Tanto para atrair companhias norte-americanas como para aumentar os negócios das empresas catarinenses para lá. Outro interesse nosso é promover mais negócios entre Santa Catarina e o norte da Índia e com províncias da China.
O senhor vai tratar desses assuntos com as lideranças empresariais. Já houve reunião com a diretoria da Fiesc nesta semana.
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Campos – Sim. Me reuni na terça-feira com o presidente da Federação das Indústrias do Estado de Santa Catarina, Mário Cezar de Aguiar. Naturalmente falamos sobre fatores que podem auxiliar os negócios das empresas e formação de parcerias entre a iniciativa privada e poder público estadual. A dinâmica das exportações será um dos assuntos que mais queremos avançar. Há cooperação a ser desenvolvida entre o governo e a federação. O Investe SC é exemplo disso. Vamos fortalecê-lo. Há outras pastas envolvidas: Desenvolvimento Econômico e Fazenda.
Há polêmica em relação à concessão de benefícios fiscais dados a muitas empresas de diferentes setores. O que pensa a respeito?
Campos – Antes de tudo, SC tem outros atributos que tornam o Estado bem competitivo: mão de obra qualificada, bons portos, posição geoeconômica estratégica no Mercosul, um dos melhores índices em segurança pública do país, polos de inovação relevantes. Entrar em guerra fiscal? Não é por aí. Incentivos fiscais são bons desde que agreguem à economia. Duvido que não se dê incentivos à produção de carros elétricos, a empresas de tecnologia. E na infraestrutura, que é questão crítica para a competitividade, as PPPs (parcerias-público-privadas) são boa alternativa.
As privatizações de empresas públicas são fundamentais?
Campos – O governador Carlos Moisés vai analisar se vale a pena manter, ou não, empresas estaduais. O Brasil vai adotar o modelo norte americano, com Paulo Guedes (Economia) e Ernesto Araújo (Relações Exteriores) à frente. A privatização será inevitável. Análises serão feitas em autarquias e empresas públicas estaduais.
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