Natural de Joinville, o empresário Tirone Meier, 72 anos, começou a trabalhar aos nove anos, ajudando a mãe na bombonière do Cine Palácio. Um ano depois, foi promovido a projecionista do cinema. Mudou de emprego três anos depois, enquanto atuava de forma voluntária com o médico Sadalla Amin Ghanem recolhendo as contribuições financeiras de pessoas físicas e empresas que faziam doações para a construção da catedral de Joinville.

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Passou por outras empresas ao longo de sua jornada profissional. Montou negócio próprio em 1987 e, em 1996, concorreu a vice-prefeito de Joinville pelo partido político PPB (atual PP).
Além de membro do conselho de SPC da CDL de Joinville, Tirone também integrou o conselho superior da Acij. 

Dono da rede de lojas Colchões Center, com seis lojas na região (cinco em Joinville e uma em Jaraguá do Sul), recebeu homenagem da CDL (foto) e mostra, nessa entrevista, o humanismo do empreendedor e ensina o que aprendeu na vida em mais de 60 anos de trabalho. A seguir, os principais trechos da conversa:

Quem é Tirone Meier?
É uma pessoa com 72 anos, que foi profundamente marcada por perdas bem cedo. Perdi o pai aos dois anos, e a mãe aos 14. O que transformou a minha vida foi a paixão pelo trabalho e pela leitura e estudos. E, também, a aproximação com pessoas mais velhas, que muito me ensinaram.

Então, teve de começar a  trabalhar cedo.
Aos nove anos ajudava minha mãe a vender balas na bombonière do Cine Palácio. Aos dez anos, ganhei a oportunidade de ser projecionista e rodar os filmes no cinema. Pegava um banquinho para ficar na altura necessária. Aos domingos, entrava ao meio-dia e saía de lá à meia-noite. Aos 14 anos, comecei a trabalhar na Fábrica de Móveis Cimo. Fiquei lá por oito anos. De office-boy a assistente de vendas.

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Você passou por várias áreas?
Trabalhei por nove anos na Cervejaria Antarctica, em áreas como publicidade, propaganda, relações públicas e promoção de vendas. Juntava dinheiro para fazer o então Científico (atual ensino médio). Eu queria fazer Medicina. Mas aí casei, e os planos mudaram. Concluí o segundo grau e, aos 28 anos, entrei na Companhia Hansen Industrial, a Tigre. Me formei em Administração de Empresas.

Que responsabilidades tinha?
Montamos estrutura de vendas para negócios governamentais e construtoras. A Tigre já era referência. Depois, assumi o departamento que cuidava do gerenciamento de filiais e depósitos. A Tigre tinha 25 mil revendedores. Me aposentei em 1987.

Como surgiu a veia empreendedora?
A Colchões Center foi criada no mesmo ano, de 1987. Queria ter a minha própria empresa. Era um sonho antigo. Escolhi o setor de colchões por entender que havia um vazio no mercado e queria qualidade de vida. 

Você acompanhou as transformações de Joinville. O que mudou nessas décadas?
A migração mudou a cidade. O extraordinário espírito empreendedor também. E grandes oportunidades se viabilizaram para milhares de pessoas de fora. A cidade acolhe e dá espaço para as pessoas.  A evolução na área da saúde também mudou Joinville. Tenho profundo amor pela cidade onde nasci e me desenvolvi. Tenho sorte de viver aqui.

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Qual é teu maior acerto?
A dor e a solidão, a carência afetiva, marcaram a minha vida. O objetivo era ter família, um lar feliz e ser totalmente dedicado ao trabalho. O trabalho e ter pensamentos construtivos para seguir e vencer sempre estiveram comigo. Conquistei isso tudo. Não tenho nenhum arrependimento. 

Viajar é teu hobby.
Viajar e conhecer outras culturas, outros países, é investimento. É conhecimento que ajuda a compreender melhor as pessoas e as coisas. Viajo uma vez por ano para fora do país. É enriquecedor. 

É fácil empreender no Brasil?
Não, não é nada fácil. Os governantes não têm sensibilidade. Minha bandeira, de muitos anos, é a ampliação do teto do Simples. Em 2007, o limite para enquadramento nesse sistema tributário era de R$ 2,4 milhões de faturamento anual. Cinco anos depois, em 2012, passou a R$ 3,6 milhões. E, em 2019, continua sendo de R$ 3,6 milhões. Se uma empresa ultrapassar esse total, vai pagar impostos como se fosse uma grande indústria.  

Qual foi o momento de maior crise?
No negócio nunca tive uma grande crise. Pratico margens pequenas. A prioridade é ter pés no chão e permanecer no mercado, crescendo aos poucos. 

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Que experiências traz das atividades associativistas?
Em 1987, assumi o comando da Ajorpeme. E reerguemos a entidade, que estava em situação precária. Me orgulho disso. Foi muito gratificante. Hoje, a Ajorpeme tem 2.200 empresas associadas. Também fui cofundador do Sicredi. Aprendi muito em todas as entidades de classe. 

Como enxerga o momento atual?
O Brasil é um país de oportunidades. Vejo muita gente com pouca motivação. O bom profissional se viabiliza em Joinville. Temos carência de mão-de-obra no varejo e no setor de prestação de serviços. O maior problema do Brasil é a desintegração das famílias.

Mesmo com sucesso nos negócios, o empresário e cidadão Tirone Meier nunca ambicionou possuir patrimônio vasto. Por quê?
Com o passar do tempo, e uma vida dedicada ao trabalho e à família, aprendi que só uma coisa interessa: é ser feliz.