O doutor em Ciência Política e sócio da Tendências Consultoria Integrada, Rafael Cortez, apresentou na ExpoGestão Digital o cenário político atual, que também foi afetado pela pandemia. Explicou que os impactos da política e a interação entre esse mundo político e a sociedade reflete diretamente no país que teremos no futuro.
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Ao apresentar gráfico da evolução do PIB per capita de um grupo de países, mostrou que o Brasil tem um crescimento muito tímido. E muito desse crescimento pequeno é fruto das decisões políticas.
A seguir, na entrevista, a essência do pensamento do cientista político.
O governo gastou demais para auxiliar a população durante a pandemia?
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O Brasil teve gasto muito elevado em medidas fiscais de enfrentamento à pandemia da Covid-19, gerando um nível de endividamento muito alto. Isso tem um efeito danoso no déficit primário, que só deverá ter uma recuperação em 2025.
O cenário político é determinante para a evolução da economia?
A evolução das receitas líquidas e as despesas primárias do governo apontam um desajuste negativo desde 2014, e que foi acentuado ainda mais neste ano. Isso tudo decorre de decisões políticas, a afetar diretamente a economia. Neste contexto, não é possível fazer uma análise econômica de longo prazo sem um olhar cuidadoso no cenário político.
Bolsonaro é responsável pelos problemas do país?
A popularidade do presidente acaba sendo influenciada diretamente pela economia. A sociedade não enxerga no presidente o responsável pelos acontecimentos negativos da pandemia. A decisão do STF, dando aos Estados e municípios autonomia nas decisões sobre políticas públicas de combate à pandemia, contribuiu para tirar responsabilidade do presidente sobre o desempenho da economia. O auxílio emergencial foi outro fator que melhorou significativamente a popularidade do Bolsonaro.
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Como percebe o mandato de Bolsonaro?
Foi um início de mandato difícil. Mas alguns fatores mostram uma mudança positiva na postura que contribuiu para diminuir o risco de dano ao mandato presidencial. Houve uma moderação nas redes sociais, menor tensão institucional com os demais Poderes, investiu na política tradicional, com um relacionamento mais positivo com outros políticos.
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Qual é o maior desafio do governo?
Um deles, sem dúvida, é a tarefa que o mundo da política precisa fazer: o equacionamento do ponto de vista das finanças públicas, do tipo de gasto que será feito. O Brasil deve encerrar 2020 com uma dívida muito elevada. O Estado tem duas maneiras de financiar essa dívida. Fazer mais dívida – tem a saída inflacionária – ou aumentar a carga tributária. Todas as saídas têm um custo. Além disso, com a perda da legitimidade e do apoio da classe política, diminuiu muito o espaço para aumento da carga tributária. Essa é uma questão central para entender que país nós seremos daqui a cinco ou 10 anos.
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Qual é a solução?
A solução é acelerar as reformas para escapar dessas armadilhas.
Que papel joga o teto de gastos nessa hora?
A união entre antagonistas (o ministro da Economia, Paulo Guedes, e o presidente da Câmara, Rodrigo Maia) acaba sendo favorável, pois se contrapõe ao pensamento imediatista do “baixo clero”, que decide sem ter muita responsabilidade. Guedes precisa preservar o teto para manter o controle econômico e Maia faz o sucessor na Câmara. Com a emenda do teto, o governo vai ter que buscar soluções para as políticas sociais sem aumentar gastos. Essas políticas sociais são importantes, sim, mas não cabem mais dentro do orçamento.
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E a governabilidade depende de acordos políticos no Congresso…
A aproximação política do governo federal com uma nova base de apoio é relevante para a governabilidade. Atraindo deputados de partidos do chamado Centrão, consegue aumentar significativamente o número de apoiadores na Câmara. No Senado, a dinâmica segue na mesma linha. A base governista ainda não é majoritária, mas se aproxima disso. E lembra que as grandes reformas estruturais precisam da legitimidade que vem com o apoio dos parlamentares. As reformas tributárias, administrativas e outras precisam acontecer para que o país possa superar o dilema do crescimento econômico.
O discurso do presidente está mais moderado. O que isso significa?
O Brasil tem um cenário político com um presidente com popularidade em alta, construindo coalizão política, mas que ainda não tem o apoio da maioria dos parlamentares, e que tem adotado um discurso mais moderado, sim. Mas, ao mesmo tempo, continuam disputas no interior do governo e pelo comando das casas legislativas, além do calendário eleitoral de 2020. O que está certo é que não se tem clareza do que virá pela frente.
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Como é possível se conquistar a estabilidade da economia num ambiente tão complexo?
Não há crescimento sem estabilidade política. O cenário político afeta os negócios em diferentes setores, em maior ou menor escala. Então é preciso que a sociedade canalize esforços para que o governo e as políticas públicas gerem um ambiente em que prevaleçam a competitividade, o empreendedorismo, a capacidade de organização, com diferentes grupos econômicos e sociais participando desse processo.
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