O primeiro turno das eleições para prefeito de Joinville mostrou a força de dois grupos antagônicos e que levaram personagens absolutamente distintos à disputa final. Darci de Matos (PSD) e Adriano Silva (NOVO) chegam ao segundo turno, cada um a seu modo, amparados por elementos próprios. De um lado, um nome tradicional na política joinvilense:

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Darci é conhecido da população desde os tempos em que coordenou a campanha de Wittich Freitag à prefeitura do mais populoso município catarinense, nos anos 90 do século passado. Desde então foi eleito para variados cargos legislativos – vereador, deputado estadual e deputado federal – e já disputou (e perdeu) eleições para prefeito. A última, para Udo Dohler, em 2016.

Agora, neste ano, sem a onipresença de Luiz Henrique da Silveira, e como não há nenhum líder carismático a galvanizar o interesse da sociedade, ele percebeu que havia um vazio a ser preenchido. Contra ele há o fato dele encarnar a lógica do que se convencionou denominar “velha política”, e também tem forte rejeição, segundo pesquisas.

De outro lado, Adriano encarna, literalmente, o novo. E não só por causa do nome do partido. Empresário de sucesso, presidente de companhia tradicional em Joinville e filho de Ney Silva, bastião do antigo MDB local, chega com força para disputa do turno final, em 29 de novembro.

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Nome preferido do empresariado, ele transita com muita desenvoltura entre a classe média e a população mais instruída, mas carece de popularidade nas regiões mais periféricas da cidade. Com o apoio entusiástico de vereadores eleitos e de suplentes bem votados, e no embalo da conquista de domingo, vai tentar capturar os votos daqueles que votaram nos demais candidatos derrotados: principalmente daqueles que votaram em Fernando Kreling (MDB);  Ivandro de Souza (Podemos) e Tânia Eberhardt (Cidadania).

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Claro que não há mais a transferência direta de votos só porque alguma liderança escolheu apoiar alguém. Mas, numa disputa acirrada, como promete ser a de Joinville, não dá para desdenhar apoios – se eles vierem.

Historicamente, MDB e as siglas pelas quais passou Darci são adversárias, e isso já coloca freio natural para essa aproximação. Mais ainda: programaticamente Ivandro tem mais afinidade com Adriano do que com seu opositor.

Vai daí…

No primeiro turno, Adriano superou o noviciado em política e enfrentou o imenso desinteresse coletivo pelas ideias dos candidatos em geral. Como a pandemia do novo Coronavírus dominou, e domina, ainda, a atenção das pessoas, não sobrou espaço para que as propostas de quaisquer candidatos se fixassem nas mentes dos eleitores.

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Agora vem a propaganda eleitoral de segundo turno. O tempo de TV e rádio será o mesmo a partir de sexta-feira, igualando a divulgação de mensagens. E nas redes sociais, cada um vai apostar fichas em estratégias próprias.

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Com pitadas de convicção e esperança, tanto Darci quanto Adriano vão mostrar ideias sobre desburocratizar a máquina pública; facilitar licenciamentos para empreendimentos; pavimentar centenas de quilômetros de ruas; melhorar a mobilidade urbana; criar creches (CEIs); melhorar a saúde nos bairros e cuidar da zeladoria da cidade, com atenção especial à deteriorada região central. Com variações, essas serão as falas comuns dos dois finalistas.

Os dois que vão para o segundo turno representam grupos políticos bem distintos. De um lado, Adriano aparece como novidade jovem, mas com experiência administrativa exitosa na iniciativa privada e oferece o discurso do compromisso de diálogo com as lideranças da sociedade, ouvindo as pessoas. Do outro lado, Darci lidera um time que critica asperamente a atual administração, fala em “projeto de reconstrução” e promete escolher pessoas “com experiência e capacidade técnica”. Tenta mostrar que tem ideias factíveis para a cidade, e procura distanciamento do fato de ser um político profissional, e da prática do que se convencionou chamar de “velha política”.

Os eleitores terão 13 dias para decidir quem vai gerir Joinville pelos próximos anos. Nesta hora, é importante lembrar que dois  fatores podem decidir o resultado no segundo turno: a taxa de rejeição dos candidatos e a capacidade deles em motivar o joinvilense a votar, em vez de ir para praia. Essa fator – a abstenção – é relevante.

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A julgar pelas caras fechadas dos votantes nas seções eleitorais deste domingo, 15, há uma certeza: acabou a alegria e o entusiasmo que campanhas não tecnológicas despertavam. O povo, quando muito, se (des)informa via redes sociais, e apenas cumpre um compromisso. Uma pena, porque esse desinteresse pela política terá efeitos, e poderá trazer consequências pelos próximos quatro anos.