A Tesla em Santa Catarina é desejo dos governantes. Caso o Brasil supere outros países na disputa pelo investimento da Tesla – o Chile é um competidor forte – e o Estado de Santa Catarina consiga se sobrepor aos outros concorrentes, há o interesse do governo Moisés em fomentar a ida da companhia para a região Sul. Aí, Criciúma ganharia a preferência. Mas é preciso lembrar que quando Eduardo Pinho Moreira foi governador (e ele é de Criciúma) a região Sul não conseguiu atrair grandes players.
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Os tempos são outros, mas, lá, ainda é incipiente a cadeia de fornecedores apta a atender uma companhia do porte da Tesla; e a região não tem a mão-de-obra requerida. Dirão os adeptos da causa sulista que isso se constrói. Ok, mas não em prazos curtos. E a logística de escoamento de matérias-primas se oferece pelo porto de Imbituba.
Sim, o Sul precisa de impulso nos negócios para não se caracterizar como ambiente economicamente deprimido. Se isso é verdade para quem mora lá e para quem governa, para os investidores a questão é outra. Eles procuram por locais que ajudem na sua competitividade. Fugir disso só se justificaria mediante compensações fiscais e extraordinariamente imbatíveis.
No Norte catarinense, industrializado, já temos o exemplo positivo da BMW, em Araquari, como chamariz natural. Bem ao lado dos representativos polos industriais de Joinville e Jaraguá do Sul, com referências mundiais de empresas como Tupy, Schulz, WEG.
E quatro portos estão próximos, com a rodovia BR-101 duplicada. Na BR-101 Sul, só nesta sexta-feira, dia 21 de fevereiro de 2020, houve leilão para a privatização da rodovia: a CCR vai fazer, lá, os investimentos e explorar os pedágios a serem instalados.
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As negociações para a vinda da montadora de carros elétricos Tesla para o Brasil – talvez para Santa Catarina – esquenta o debate em torno das potencialidades e dificuldades que temos para conseguir atrair empresas globais de ponta tecnológica, e que estão na fronteira do conhecimento. Como é tudo muito novo, há vários fatores a considerar quando se fala sobre a possibilidade de uma montadora de carros elétricos se instalar num determinado país ou região: no caso, o Brasil ou, mais particularmente, no Estado de Santa Catarina.
Uma empresa como a Tesla, toda ela pautada no estado de arte quando se trata de tecnologias disruptivas, tem potencial para deslanchar num país onde ainda falta muito para ser considerado tecnologicamente preparado e avançado em aspectos relacionados à fabricação de veículos elétricos? A resposta pode ser sim; e pode ser não.
No curto e médio prazos – e lá vão pelo menos cinco anos – a resposta mais natural é não. No longo prazo, é possível uma afirmativa. Explico: O Brasil é carente de infraestrutura rodoviária adequada; falta-nos infraestrutura até para recarga de baterias; o tamanho do nosso mercado para veículos de alto valor é muito restrito, dadas as enormes desigualdades de renda da população.
Basta lembrar que, no geral, nossas estradas são de má qualidade. Anoto alguns dados: atualmente estão instalados, no país todo, apenas 250 pontos de recarga de baterias; só 12 mil consumidores compraram carro elétrico no ano passado contra 2,6 milhões de veículos movidos à combustão.
Estes números, por si só, já explicam a situação.
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O programa Rota 2030 contém avanços e pressupõe a modernização tecnológica do processo de produção da indústria automobilística nacional, adicionando-se vantagens fiscais, com o cumprimento de prazos para as fábricas se adaptarem.
De todo modo, por isso mesmo, legislações precisarão ser remodeladas. Outro fator crítico é a cadeia de fornecedores. Certamente também ela terá de se reinventar. Aí, então, surge uma oportunidade para diversas empresas do segmento de autopeças ajustarem-se às futuras demandas, convertendo seu modelo produtivo às novas exigências que estão chegando.
Ao final, interessa atrair empresas consideradas referência global, e que possam impulsionar um amplo conjunto de empresas satélites ao seu redor, de forma a encadear o desenvolvimento e geração de emprego e renda.