A convite do Convention & Visitors Bureau de Joinville e região, o fundador da CVC e ícone do turismo no Brasil, Guilherme Paulus, fez, recentemente, palestra na Expoville. Contou sua trajetória profissional, explicou o crescimento da CVC – hoje a terceira maior operadora de turismo do mundo -; fez críticas ao aeroporto de Joinville, e disse que a atividade turística precisa de infraestrutura para se desenvolver.
Guilherme Paulus: O senhor é referência nacional – e internacional – na área do turismo. Qual é a receita do sucesso?
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Paulus: Dedicação é essencial. Gostar, amar o que se faz é imprescindível. Isso vale para todos os empreendedores. Igualmente importante é ter objetivo de vida. Não podemos ter medo de definir objetivos. Ter sonhos e acreditar no que fazemos completa a lista de requisitos para se chegar ao êxito.
Qual é o atual estágio do setor de turismo no Brasil, atualmente?
Paulus: Na década de 80 do século passado o Brasil recebeu 900 mil turistas por ano. Em 2018 são 6,5 milhões. Houve crescimento, mas na real, somos Terceiro Mundo no segmento do turismo. Para a América Latina até que somos Primeiro Mundo. Temos um país maravilhoso a ser explorado muito melhor.
O senhor fundou a CVC em 1972, há 46 anos. Hoje, é uma das maiores companhias operadoras de viagens do mundo. Como percebe esses dois momentos?
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Paulus: Temos 1200 lojas. Somos a maior operadora da América Latina. A CVC comprou três empresas na Argentina, recentemente. Os tempos são outros.
O consumidor de viagens também mudou.
Paulus: Sem dúvida! O comportamento do cliente que vai viajar mudou. Ele quer experiências, não apenas sr contemplativo. Quer viver situações novas, vivenciar situações que agreguem para a vida. Viajar passou a fazer parte do cotidiano das pessoas. Em férias, elas querem sair da mesmice, conhecer outras realidades.
Há muito a ser conquistado, ainda.
Paulus: Só para se ter uma ideia, acredito que se for feita pesquisa em Santa Catarina só 50% das pessoas conhecem o Beto Carrero World. Sabem o que é. O brasileiro não conhece o Brasil. O brasileiro não conhece a sua história.
O que é necessário para o turismo evoluir como atividade econômica?
Paulus: O grande desafio do Brasil é ele se tornar mais competitivo. É preciso melhorar os aeroportos, as rodovias, os portos. Os cidadãos têm de se conscientizar para conhecer os pontos turísticos e as atrações de onde moram. As cidades se divulgam muito mal. As secretarias de Turismo deveriam divulgar e mostrar seus pontos e marcos históricos.
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O senhor já esteve algumas vezes em Joinville…
Paulus: Joinville foi “Cidade das Bicicletas”; “Cidade das Flores”. Joinville sempre foi cidade de passagem para a CVC. No começo, nossos destinos, em Santa Catarina, eram Blumenau, Florianópolis; depois se incorporou Balneário Camboriú. Joinville nunca teve atuação forte; sempre dependeu das ações da Secretaria de Turismo do Estado e da Santur. Joinville tem o Ballet Bolshoi, fantástico. Mas deve ser mais divulgado. O turista precisa ser convencido a ficar mais do que um dia na cidade. O turismo exige infraestrutura, as cidades têm de ter embelezamento, chamar a atenção para si e para o seu entorno.
A CVC quase fechou em tempos de crise.
Paulus: Em 1972, quando eu e um sócio criamos a CVC, só havia quatro companhias aéreas: Varig, VASP, Cruzeiro do Sul e Sadia (Transbrasil). Passados mais de 40 anos e só sobrou a CVC. Verdade que quase fechamos, quando houve a crise e a decretação de compulsório, quando as viagens internacionais praticamente não eram possíveis. Não operávamos rodoviário.
O que salvou o negócio?
Paulus: Aí recebemos cotação da Mercedes-Benz para três ônibus para o Vale do Itajaí. Blumenau era o “case”. Balneário Camboriú tinha o Hotel Marambaia. Joinville era passagem. Tomávamos café da manhã em Joinville. Tempos dos hotéis Tannenhoff e Colon. Ainda existem. A partir do atendimento a Mercedes-Benz, estendemos convênios para mais de 300 empresas conveniadas.
O senhor concretizou seu sonho.
Paulus: É importante ter um sonho. Meu sonho era tornar o turismo acessível a todos os trabalhadores, com qualidade e preços justos. Para isso, atendimento é tudo. Outra coisa: tem de saber vender e saber o que se está vendendo. Equipe é muito importante. Sozinho você não faz nada. Sem equipe não há sucesso.
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Como fazer o turismo evoluir em Joinville?
Paulus: É fundamental preparar a cidade para quem mora nela. Só então ela será agradável para o visitante. Tem o Bolshoi, referência única no país todo, a proximidade com a histórica São Francisco do Sul, e é perto de Balneário Camboriú…
O senhor desembarcou no aeroporto de Joinville. Qual sua impressão?
Paulus: Joinville é a maior cidade de Santa Catarina. O aeroporto de Joinville não pode ser como é. Só pode pousar dois aviões simultaneamente. Tem de ter receptivo em Joinville. As empresas de Joinville têm de fazer um evento por semana. Divulguem o que vocês têm pelo facebook, instagram… é de graça. Vocês têm museus?
Há novidades a serem criadas em breve?
Paulus: Estamos criando pacotes rodoviários com receptivo nas rodoviárias., como se faz nos aeroportos. Temos que entender os clientes. Estamos atendendo o sonho deles. Isso vai dar muito certo.
Os negócios se tornarão cada vez mais virtuais também no setor de viagens?
Paulus: Não há possibilidade de êxito se uma loja não tem espaço para estacionamento. Como já dizem os norte-americanos há décadas: no parking, no business. Na década de 80 abrimos, na CVC, a primeira loja em shoppings centers. Hoje estamos presentes em todos os shoppings. Em 2000 e já faz 18 anos! Criamos a primeira loja virtual no Brasil. Atualmente, temos 1.300 unidades, com foco em franquias.
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O resultado das eleições vai influir no desempenho da atividade turística?
Paulus: Não importa quem ganhar a eleição. As pessoas vão continuar viajando. Tanto a negócios, como a lazer. Viajar faz parte do cotidiano de milhões de brasileiros. A CVC é a terceira maior operadora de turismo do mundo. Queremos ser a primeira em até dez anos. Hoje, 40% de todos os bilhetes aéreos emitidos no Brasil são da CVC. Neste ano, até julho, emitimos 2,1 milhões de passagens.
Em que medida a crise atrapalha as vendas?
Paulus: A crise só atrapalha seis pessoas: eu, tu, ele, nós, vós, eles (risos). Então, tire o s. Crie. Ficamos encolhidos. E só reclamamos. Troque ideias. Ouça os outros.
Onde cresce o turismo no país?
Paulus: O turismo, no Rio, cresce 10,9% neste ano. A CVC colocou lojas nas favelas, nas comunidades. No Brasil, se faz 200 milhões de viagens domésticas. O país recebe 6,5 milhões de turistas internacionais. Sessenta milhões de brasileiros viajam pelo país. Outros 40 milhões têm potencial para viajar. Neste contexto, e de acordo com a nossa cultura, tem de ser o primeiro. Nós não valorizamos o segundo lugar em nada.
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