O presidente da Federação das Indústrias do Estado de Santa Catarina (Fiesc), Mario Cezar de Aguiar, mostra nesta entrevista o pensamento dele sobre liderança, sucesso, empreendedorismo, acertos e equívocos.
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Argumenta que o líder tem de estar apto a encarar cenários de mudanças; afirma que o planejamento é fundamental para o êxito e destaca: a política deve ser exercida no sentido de fortalecer a cidadania. Confira a seguir:
Mario Cezar de Aguiar é engenheiro civil e empresário dos setores da construção civil e do plástico. Preside a Fiesc. É membro dos conselhos nacionais do Sesi e do Senai, do Sebrae/SC. Na Fiesc, antes de ocupar a presidência, foi diretor, primeiro secretário e primeiro vice-presidente.
Formou-se em Engenharia Civil pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) em 1978. É especialista em construção civil pela Fundação Universidade Regional de Blumenau (Furb), em marketing pela Universidade da Região de Joinville (Univille) e em gestão empresarial pela Pensylvania State University, em 2000.
Atua na área da construção e incorporação imobiliária desde 1981, tendo construído mais de 100 edifícios. Presidiu a Acij por dois mandatos; a Câmara Estadual da Indústria e Construção de Santa Catarina e, por duas vezes, o Sindicato da Indústria da Construção de Joinville (Sinduscon).
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O que caracteriza um líder?
O líder é quem consegue ser seguido por um grupo de pessoas com o objetivo de alcançar um objetivo comum. Liderança é um predicado inato, próprio de algumas pessoas. Não se faz um líder. O líder tem de ter a capacidade para conduzir ao sucesso. É muito importante ter pessoas com esta característica nas organizações.
O que aprendeu ao empreender?
Sempre fui ligado ao associativismo. Tive uma boa formação e aprendi muito com os contatos nas associações. Os picos de crescimento e os de queda nos ensinam muito. Quero dizer com isso que os líderes têm de estar preparados, aptos a encarar mudanças de cenários porque as mudanças acontecem, muitas vezes sem aviso prévio. A convivência com outros empresários, tanto no Sinduscon de Joinville, como na Fiesc, ao longo de tantos anos, me acrescentou muito para conseguir atingir bons resultados.
O que é necessário para um jovem se transformar em um empresário de sucesso?
Há os jovens naturalmente empreendedores; estes têm vocação clara para os negócios. Os jovens, para terem sucesso, têm de ter características empreendedoras. Eles também devem se capacitar para gerir um negócio. Os empreendedores precisam, ainda, se cercar de gente boa com valores e conhecimentos; além de ter pleno conhecimento da área que escolheram para atuar. 99% dos empreendedores aventureiros, que não se preparam, não dão certo. Era mais fácil empreender no passado do que hoje.
Por que hoje é mais difícil?
A legislação emaranhada e a excessiva burocracia atrapalham demais. Em nada ajudam a quem quer empreender. A questão é que a burocracia, as exigências de cumprimento de leis, decretos, portarias, regulamentações tiram o foco do negócio.
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O que um empresário não deve fazer? O que dá errado?
Você tem de aprender com os erros. Cometer o primeiro erro não significa que deve desistir. Depois que se errou, há menos chances de errar de novo. O empresário não pode descuidar da avaliação econômico-financeira do negócio e tem de tomar cuidado porque o sistema bancário em nada auxilia o empresário.
Quais as oportunidades que não se deve desperdiçar?
As oportunidades estão nas áreas de tecnologia, na de alimentação, e na da construção civil, por exemplo. Diferentes segmentos do setor de tecnologia são atraentes. As tecnologias simplificam a vida das pessoas e isso tem forte apelo.
É possível planejar o sucesso?
Alcançar o sucesso é efeito de algo bem planejado. O planejamento é essencial para se atingir os resultados esperados. É fundamental identificar as potencialidades e as fraquezas. Sem planejamento o sucesso será um acaso.
Qual foi o teu maior acerto?
Meu maior acerto foi a escolha da profissão de engenheiro. Tive muitas dúvidas na minha adolescência. Pensei em ser advogado, ser médico, ser engenheiro. Optar por engenharia me oportunizou fazer muitas coisas.
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E qual foi o teu maior erro?
Foi na primeira experiência como empresário, não ter planejado adequadamente a minha empresa. Quando identifiquei os erros, não fiz a mudança de rumos. Poderia ter feito uma reengenharia. Posterguei as decisões, um equívoco.
Tem de se combater as causas dos problemas. Demorei para agir e paguei o preço por isso. Os problemas não se resolvem por si só.
O que isso significou?
Compreendi que se algo precisa ser transformado, que se comece por você mesmo. O fracasso ensina.
Há um preconceito para com quem fracassa…
Sim. No Brasil as pessoas não olham bem para quem fracassa. O fracasso é uma escola. É necessário avaliar onde estão os erros e seguir adiante, corrigir os erros para sair fortalecido. Quem errou tem bagagem para fazer melhor depois.
Quem é teu guru?
Não há um nome em particular. Sempre digo que no Estado de Santa Catarina temos muitas lideranças, temos muitos empresários em quem nos inspirar. Da Tupy, da Tigre, da WEG, da Marisol, da Embraco, da Schulz há modelos.
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Como a política influencia na vida empresarial?
Da mesma forma como há o empreendedor, tem de haver o político. Empresários e políticos têm de construir, em conjunto, o desenvolvimento da sociedade. A política deve ser praticada no sentido de fortalecer a cidadania. As pessoas têm direito à saúde, segurança, educação e moradia. A atividade política deve garantir esses direitos.
Qual é a importância do associativismo para a evolução dos negócios?
Minha dedicação ao associativismo é uma forma de retribuir à sociedade o que ela me deu. Fiz universidade pública e é importante devolver parcela do que recebi. A Acij, por exemplo, sempre defendeu – e defende – causas da sociedade para melhorar a vida das pessoas.
O que mudou em seu pensamento, em sua prática nos últimos 20 anos?
As pessoas evoluem. Aprendi dirigindo empresas e com a convivência com outros empresários.
Este conteúdo faz parte do projeto que marca os 20 anos da coluna econômica do jornalista Claudio Loetz. Até dezembro, 20 empresários vão compartilhar, neste espaço, conhecimentos, informações e visões em formato de grande entrevista.