O empresário Moacir Gervásio Thomazi nos recebeu na sede do Corpo de Bombeiros Voluntários de Joinville para uma conversa sobre liderança e empreendedorismo. Em
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65 minutos falou de temas variados. Contou aprendizados e vivências junto a personalidades dos mundos corporativo e político joinvilense e do Estado. Em especial, recorda de ensinamentos de Baltasar Buschle, Hellmuth Fallgater e Hans Dieter Schmidt. “Acreditar nos sonhos não é ruim. Tudo o que fiz só foi possível porque muita gente ajudou”.
Thomazi foi professor de história em diferentes esferas de ensino – desde o fundamental até o superior. Como empresário, assumiu a direção do jornal A Notícia aos 29 anos. Presidiu a Associação Empresarial de Joinville por quatro vezes e, há 10 anos, dirige o Corpo de Bombeiros Voluntários de Joinville. Na área política, foi secretário municipal de Educação, em Joinville; e secretário de Educação do Estado de Santa Catarina.
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O que caracteriza um líder? Que atributos ele tem de ter?
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Moacir Thomazi – A liderança se conquista. Normalmente não é uma virtude inata, mas para alguns ela é natural. No entanto, acredito ser necessário muito trabalho e muito exemplo para se forjar uma liderança. A liderança surge com o tempo e exige dedicação e muito esforço para poder se consolidar.
O que é preciso para um líder ser respeitado?
Thomazi – Ele precisa convencer as pessoas a gostarem de fazer algo da qual elas inicialmente não gostam.
O que o senhor aprendeu ao empreender?
Thomazi – Eu aprendi tudo. Veja, eu não estudei para ser empresário. Não fiz administração de empresas, nem outro curso afim. Fiz história. Fui professor em todos os níveis de ensino. Inclusive fui funcionário administrativo da Secretaria de Educação, em Florianópolis, para pagar a faculdade. Então, minha carreira como empresário surgiu por uma série de circunstâncias.
Como isso ocorreu?
Thomazi – Vim morar em Joinville e, à época, havia um projeto político delineado por um grupo de empresários com o objetivo de Baltasar Buschle, Wittich Freitag e Helmuth Fallgater se sucederem como prefeitos da cidade – nesta ordem. Cada um seria prefeito por um mandato. O projeto foi exitoso. Buschle e Fallgater foram prefeitos naquela época. Freitag não pôde porque estava muito envolvido com a Consul. Acabou sendo prefeito duas vezes, anos depois.
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Qual era a intenção?
Thomazi – Buschle tinha a missão de acertar as conta; colocar a prefeitura em ordem. E Fallgater fazer obras de infraestrutura. Aprendi muito com Fallgater. Era um empreendedor de primeira classe. Também aprendi muito com o Baltasar. Ele era um sábio. O Baltasar ouvia muito. Tinha uma capacidade enorme de ouvir os outros. E anotava muito.
O senhor assumiu o comando do jornal A Notícia muito jovem. Como isso aconteceu e que lições extraiu disso?
Thomazi – Os antigos principais sócios do jornal A Notícia – Fallgater, Buschle e Freitag, entre outros, pensaram em vender o jornal nos anos 1970. Ofereceram o jornal a João Hansen Junior e a Hans Dieter Schmidt. Em 1976 a ideia era fechar o “AN”. Aí fui chamado para coordenar estudo sobre a viabilidade econômico-financeira do empreendimento. E concluímos que havia, sim, espaço para o jornal crescer e ser, cada vez mais, o porta-voz dos interesses da cidade. Isso exigia investimentos, modernização de equipamentos e nova sede. O jornal inaugurou nova sede em 1979.
Mas o senhor também teve ativa participação política. Foi secretário de Educação do governador Jorge Bornhausen, por exemplo.
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Thomazi – Jorge Bornhausen foi governador de 1979 a 1982. De Joinville ele chamou a mim e a Hans Dieter Schmidt para compor seu governo. Aprendi muito. Foi a partir daí que fiz meu aprendizado. O contato com as lideranças estaduais e o meio empresarial me ajudaram muito.
O que é necessário para um jovem se tornar empresário de sucesso?
Thomazi – Primeiramente, tem de saber o que quer fazer. E tem de acreditar naquilo a que se propõe. Também tem de trabalhar muito. E não ter medo de errar. Errar é da natureza humana. Ele deve ter fé. Sonhos. Acreditar em sonhos não é ruim. E, lógico, ele tem de correr riscos. Algo inevitável no mundo dos negócios.

O que o empresário não deve fazer. O que dará errado?
Thomazi – O empresário não pode deixar de treinar sua equipe, seus funcionários. Os recursos humanos são fundamentais para qualquer organização evoluir. É preferível investir nas pessoas e elas, mais tarde irem para outras empresas, do que não fazer nada, não apostar nelas e no seu crescimento.
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Quais são as oportunidades que não se pode desperdiçar?
Thomazi – Com a inovação surgem muitas oportunidades a todo instante. O empresário não pode deixar de investir e aperfeiçoar seus negócios. Atualmente, o conhecimento disponível dobra de tamanho muito rapidamente e é difícil acompanhar. Tenho certeza que ter foco é essencial.
É possível planejar o sucesso?
Thomazi – Planejar o sucesso é difícil. Mas é possível minimizar o risco do insucesso. O sucesso se constrói com bastante esforço e trabalho contínuo. O relacionamento é superimportante para se alcançar o sucesso. Ao menos, ajuda a evitar o fracasso. A troca de ideias sempre é proveitosa e ensina.
O fracasso ensina?
Thomazi – Ensina muito. No mínimo, aprende-se com os próprios erros. Quando os erros acontecem – e resultam em algum fracasso – é preciso avaliar as razões do insucesso. E consertar, corrigir.
Qual foi o seu maior acerto?
Thomazi – O maior desafio foi gerir o jornal A Notícia, algo que não passava pela minha cabeça. Uma tarefa maior do que eu imaginava. Foi uma história bonita no “AN”. Conseguimos fazer um jornal respeitado por todos. Ganhamos – um jornal de cidade do interior de Santa Catarina – prêmio Esso de Jornalismo; ganhamos prêmio Pini de melhor impressão de veículo do Brasil concorrendo com O Globo, Estado de S.Paulo, Folha de São Paulo, Correio Braziliense.
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E qual foi seu maior erro?
Thomazi – Sinceramente, não me lembro. Erros cometemos todos. Todos os dias. Se tivesse que começar tudo de novo, faria o mesmo do mesmo jeito. Tudo o que fiz só foi possível porque muita gente ajudou. O exercício da gratidão é importante e deve ser feito.
Quem é seu guru?
Thomazi – Baltasar Buschle. Ele era muito culto. Lia demais. Tinha uma visão ampla das coisas. E sabia, como ninguém, o valor da união de esforços em favor de causas comunitárias. Ele tinha uma frase marcante: “Não há problema humano que não possa ser resolvido com cooperação”. Outros que admirava muito eram Eggon João da Silva e Hans Dieter Schmidt.
A política influi na atividade empresarial. Como interfere?
Thomazi – Não há mudança que não ocorra pela via da política. Só isso já dá a ideia de sua importância. E não há separação entre a política e o empresário. Convivem juntos. A lei é feita pelos políticos; então temos todos – empresários e a sociedade em geral – de estar atentos. Em Joinville, nos anos 1980, empresas de Joinville bancaram candidaturas a vereador. Tupy e Tigre fizeram isso. E elegeram seus representantes.
Qual é a importância do associativismo para os empresários ganharem significância?
Thomazi – O associativismo é fundamental. O isolamento é o pior que pode acontecer para o empresário. Participo da Acij desde 1977. Lá se constrói relacionamentos, e se aprende com os exemplos e a prática dos demais.
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Nos últimos 20 anos, o que mudou no seu pensamento e na sua prática como empresário?
Thomazi – Talvez eu aperfeiçoasse as coisas com as quais me deparei. Mantenho o mesmo hábito de ler o jornal no papel, apesar de tê-lo, também, no celular. Continuo ativo no associativismo. Estou há 10 anos no Corpo de Bombeiros Voluntários de Joinville. É uma atividade gratificante. A corporação é diferenciada. Administro um grupo de pessoas que trabalham de graça. Tem gente de diferentes áreas, de diferentes classes sociais. É prazeroso.
Qual é seu livro preferido, inspirador?
Thomazi – É O voo da águia. Trata da história de um empresário que lidera o resgate de funcionários feitos reféns. Muito interessante a estratégia usada e como ele se entregou a essa causa.
Este conteúdo faz parte do projeto que marca os 20 anos da coluna econômica do jornalista Claudio Loetz. Até dezembro, 20 empresários vão compartilhar, neste espaço, conhecimentos, informações e visões em formato de grande entrevista.