O economista-chefe do Bradesco, Fernando Honorato Barbosa (foto), traçou cenário bem otimista para o Brasil em palestra de 50 minutos na Acij, na segunda-feira, dia 16. Diz que os bancos têm de baixar juros e a economia terá crescimento sustentado quando o PIB per capita se elevar. Anota que a expansão cíclica da economia se dará pela via do consumo das famílias. Ainda avalia o cenário de reformas, o ambiente global dos negócios e o processo eleitoral. A seguir, os principais trechos.
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O mundo vai ajudar
A economia mundial vai ajudar o Brasil. Há um crescimento disseminado por diferentes países e regiões. A expansão ganhou tração. E as projeções são todas para cima. Estados Unidos, Alemanha, Japão, África do Sul, Turquia e Rússia estão em processo de crescimento. Setorialmente, os negócios de vendas de máquinas e equipamentos também estão em expansão pelo mundo, e isso é fator importante para investimentos industriais.
As exportações globais cresceram abaixo de 5% nos últimos cinco anos. Agora já crescem mais. Trump tomou a decisão errada ao optar por proteger a economia norte-americana.
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Expansão e inflação
Para 2018-2019, teremos expansão mundial, com possibilidade de inflação ascendente. Ainda não é uma preocupação grande, mas é um lembrete. Se inflação e taxas de juros sobem em países centrais, perdem os emergentes – inclusive o Brasil.
Reformas importantes
O Brasil fez reformas importantes: 1. A reforma do teto dos gastos públicos. Essa decisão vai mudar o perfil de despesas ao longo dos próximos 20 anos porque os governos só poderão gastar o igual à variação da inflação; 2. A reforma trabalhista. Ela admite a flexibilidade inédita nas relações entre empregadores e trabalhadores. Haverá mais empregos formais do que em anos passados; 3. A reforma do BNDES. Essa reforma permitirá que a taxa de juros produza queda dos juros em todos os bancos. A taxa Selic abaixo de 6,25% pode ocorrer em até 90 dias.
Retomada cíclica
Entramos no período de retomada cíclica da economia. Explico isso em alguns pontos: o consumo das famílias; o nível dos estoques; e a inflação em baixa. O consumo das famílias aumentará. Um dos motivos é o menor endividamento, comparativamente a três anos atrás. Na crise, as famílias também sofreram menos do que as empresas.
Estoques menores
Neste ponto, importante mostrar que os níveis dos estoques nas indústrias estão os mais baixos dos últimos três anos. Lógico que isso acelera a produção e, em consequência, vai abrir mais vagas de trabalho. Os estoques eram muito altos no triênio 2014/2016.
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Inflação baixa
Continuaremos com inflação baixa – ao redor de 3% – por pelo menos 12 a 18 meses. Na sequência, os juros também cairão. Isso tudo auxilia o processo de crescimento. A inflação está ao redor de 3% ao ano faz nove meses! Isso é inédito. Acontece porque ainda temos desemprego elevado, algo como 13%, e isso gera descompressão salarial bem significativa. Evidente, assim há redução de custos nas empresas.
O melhor dos mundos
Então, situação com salário baixo e crescimento econômico permite inflação reduzida. Mesmo assim, os trabalhadores têm algum ganho real. A massa salarial subiu 3,7% de 2017 para 2018. Esse é o melhor dos mundos. Isso tudo explica por que Temer, com só 6% de popularidade, não sofre pressão das ruas. Não há protestos.
Ainda projetamos a possibilidade de não haver alta de juros em 2019 se for eleito um presidente comprometido com as reformas.
Foco no emprego
A lembrar que o pico do endividamento das famílias foi em 2012. Atualmente, está no patamar de 2006/2007. O consumidor está pronto para voltar às compras.
Temos de olhar para a geração de vagas de trabalho. É fator essencial para monitorarmos a economia brasileira. O índice de confiança do consumidor já está perto da média histórica. As vendas de automóveis e de eletrodomésticos foram retomadas. As quatro grandes do setor da construção e setor imobiliário do Brasil nos informam que vai haver 10% a mais em número de lançamentos de imóveis residenciais. O crédito está começando a aumentar e vai se expandir até 2019.
Os desafios
Transformar a recuperação cíclica em recuperação sustentada em 2019 depende de se conseguir superar alguns desafios. Há três agendas necessárias: aumentar a taxa de investimentos; equacionar as contas públicas; e promover o corte de juros. Pessoal de banco dizendo para baixar juros? Sim. É muito importante. O Brasil só vai dar certo quando os juros forem baixos. Só vamos dar certo quando a renda per capita se elevar. Os juros reais (Selic menos inflação), no curtíssimo prazo, estão em 2,5%. Mas os juros de longo prazo…
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Investimentos
O governo não terá dinheiro para investir em 2019. Os investimentos terão de vir da iniciativa privada. O governo terá de estimular privatização, promover concessões. Além da reforma da Previdência, o Brasil precisa fazer a reforma do PIS/Cofins e a do ICMS. E integrar o mercado dentro do País. Lógico que terá de haver políticas compensatórias para setores que perderão e vão desempregar quando as mudanças acontecerem.
Eleições
Não sei quem vai ganhar as eleições. Ninguém sabe. O dado mais importante da mais recente pesquisa feita pelo Datafolha está nas respostas à pergunta estimulada com candidatos: 67% dos entrevistados não sabem em quem vão votar. Significa que está tudo em aberto.
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