A próxima reunião do Conselho de Entidades Empresariais (Cofem), na segunda-feira (29), terá uma pauta extra. E explosiva: a exoneração do empresário Amandio João da Silva Junior, da Casa Civil do governo do Estado, na sexta-feira, por telefone.

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Entenda o caso: Chefe da Casa Civil de Santa Catarina é exonerado

Era ele o interlocutor que começava a fazer a ponte entre o empresariado catarinense com Carlos Moisés. Ficou 45 dias no cargo, abatido por fogo da área política e parlamentar de oposição,, no contexto da apuração de eventuais irregularidades, que está sendo feita na CPI dos Respiradores, na Assembleia Legislativa.

Assim é a política: não perdoa sequer aqueles que têm boas intenções. Uma atitude – vínculo com um advogado investigado no caso dos respiradores – e um contrato firmado no âmbito do movimento Excelência SC  colocou-o rna berlinda a prejudicar-lhe a biografia.

A exoneração de Amandio expõecomo a política é um campo minado. Vindo da iniciativa privada foi o adjunto de Lucas Esmeraldino na Secretaria de Desenvolvimento Econômico no início do governo, por curto período. Saiu de lá por discordar de práticas internas na Pasta.

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Na região do Vale do Itajaí, saída de Amandio também é uma ducha de água fria

Logo a seguir, Esmeraldino foi retirado do posto, atingido por apuração de irregularidades e intenso bombardeio externo, já que nunca se aproximou do empresariado., nem tinha formulado política desenvolvimentista conhecida.

Pinçado de volta, Amandio foi guindado a uma das mais importantes funções de qualquer governo: dirigir a Casa Civil – por onde passa todo o processo de articulação política, e é conhecida como ao lugar mais diretamente ligado ao govenador.

Carlos Moisés quis fazer um agrado aos empresários, com esta nomeação. Lá, entre outras coisas, está a formatação política do Fundo Garantidor de Crédito, tão caro aos micro e pequenos empreendimentos – algo a nascer com aproximadamente R$ 1 bilhão, para ajudar empresas nestes tempos de crise.

A troca de secretário na Casa Civil vai atrasar o projeto?  Amandio começava a mexer os pauzinhos no sentido de reaproximar as lideranças da iniciativa privada do governo estadual.

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Como Moisés geria o Estado de costas para a sociedade, “enclausurado”, na palavras do prefeito Udo Dohler, Amandio, o recém-alçado, tinha a missão de abrir portas.

Enquanto, isso os deputados estaduais de oposição procuravam, nos escaninhos, falas ou gestos que pudessem comprometer o governo e seus integrantes na CPI dos Respiradores.

Então, conversa dele com o advogado Rodovalho o alcançou, por vias transversas – e foi exonerado por telefone.

Do ponto de vista político, o gesto do governador se explica: não queria mais ter de conviver com o desgaste de críticas e investigações na CPI por conta de supostas e eventuais equívocos de seus subordinados.

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A lista de amigos dele mesmo, Carlos Moisés,  ceifados no governo por suspeitas de corrupção ou irregularidades diversas vão do ex-chefe da Casa Civil, Douglas Borba — agora preso —; passa pelo ex-secretário de Saúde, Helton Zeferino; alcança Lucas Esmeraldino, que conseguiu passaporte para Brasília, onde faz lobby na Secretaria de Articulação Nacional do governo estadual; atinge o ex-presidente do porto de São Francisco do Sul, Diego Enke e diretores; além de chegar à muita gente grande na Controladoria Geral do Estado.

Dá para compreender que o empresariado se sinta incomodado. Há suspeitas de crimes em pelo menos cinco áreas sensíveis da gestão pública. E isso em um ano e meio de mandato.

Ao mesmo tempo que a indústria e o comércio precisam dialogar com instâncias oficiais – até porque tem inúmeras demandas com foco nos seus negócios e interesses – receiam estar perto demais de um ninho onde, aparentemente, há sempre uma bomba prestes a explodir.

Conversei com alguns líderes empresariais catarinenses desde sexta de noite. Em Joinville,  há um consenso no meio empresarial,  mas jamais explicitado abertamente: “o governo Moisés acabou sem ter começado”.

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Vai ser árduo o trabalho de tentar recomeçar. Na prática, só restam dois anos de mandato. Como sabemos, o último semestre de qualquer governante é só o de servir cafezinho frio. Todos os olhos estão postos no processo sucessório, naturalmente.