Às vezes, o governante tem de demonstrar força e, então, destacar-se como líder. Principalmente quando tem o dever de encarar desafios gigantes como o atual: evitar a absoluta derrocada dos negócios pequenos e, simultaneamente, garantir condições para que a população se proteja contra um vírus letal, reafirmando ao princípio basilar de que a vida vem em primeiro lugar. Daí, a #fiqueemcasa.

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Foi isso o que Carlos Moisés fez, ao anunciar, na quinta-feira, a liberação do funcionamento de atividades de comércio em seus variados setores, a partir de segunda-feira, dia 30. Como as duas mensagens – aparentemente de sinais trocados – vão coexistir, veremos em abril.

Moisés atendeu os empresários, que, via lideranças instituídas em federações, clamavam pelo direito ao reinício de trabalho. E, simultaneamente, pregou a necessidade de se ficar em casa. O que isso vai significar, saberemos daqui a algumas semanas, daqui a alguns meses.

Estamos em guerra contra o mais maligno dos vírus que a sociedade contemporânea da minha geração já viu. Algo inédito e virulento.

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A convicção de que a continuidade da proibição de lojas, restaurantes, bares e a cadeia da construção civil trabalharem, chegou ao governador como resultado de forte e persistente pressão dos líderes empresariais nos últimos quatro dias.

Saberemos logo se, depois de tanta ansiedade, o comércio vendeu o que desejava na primeira semana de abril. A contabilidade do faturamento em contraposição aos custos de operação dará a noção do acerto, ou do equívoco, da decisão.

Porque há uma pergunta que será respondida na prática, no dia-dia: os consumidores potenciais, instados a ficar em casa, vão fazer compras em estabelecimentos que vendem itens não essenciais? Haverá gente em quantidade nas ruas e nos shoppings, locais de possível aglomeração de pessoas? O povo freará o consumo com medo do desemprego? Ou vai se presentear, num típico gesto de autoindulgência, como explicam os psicólogos?

Sim, é lógico que a economia precisa respirar – e, de preferência, sem respirador, ao natural.

O que ninguém sabe é se os trabalhadores de quaisquer áreas estarão dispostos a consumir e endividar-se, como faziam antes do Coronavírus, dado que os efeitos econômicos negativos já estão previamente contratados.

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Todos compreendem que as crises econômicas – mais ou menos graves – vêm e passam. Já sabemos o que houve entre 1981 e 1983; o que houve em 1986; o que houve em 1990; o que houve em 2008-2010; o que houve em 2014/2017.

Em todos estes períodos – e lá se vão quatro décadas – o Brasil sofreu, e se recuperou, sacrificando empregos de milhares, sim; vivenciando dificuldades coletivas, sim. Recessões brutais aconteceram.

Os grandes empresários não faliram; ao contrário, as crises sempre favorecem a maior concentração de renda, como todos os livros-texto e a realidade objetiva demonstram.

Sim, os pequenos necessitam de apoio massivo, tanto com crédito favorecido e abundante, como por políticas públicas que os beneficiem efetivamente. Então, uma vez readaptados a um novo ambiente de negócios, estejam devidamente protegidos para que, de um jeito ou outro, possam estar ativos num cenário transformado.

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Evitar que a chamada curva de proliferação da doença cresça exponencialmente é o dever máximo do governo do Estado. Aliás, é o que Moisés tem reiterado em várias falas: a preservação da vida é o mais importante.

Como a História mostra, a economia se rearranja. Em outras bases, com a substituição de alguns agentes, com a chegada de novos líderes, com a mudança de hábitos, com uma transformação social a guiar todos num direção ainda desconhecida.