Os fatos relacionados às dificuldades financeiras e ao processo de falência da Busscar – ao tempo em que o comando estava com a família Nielson – são praticamente inesgotáveis desde 2010, quando a fabricante de carrocerias de ônibus entrou em recuperação judicial, e caiu na falência, anos depois. O processo que corre na 5ª Vara Cível da comarca de Joinville ainda está pendente de importantes encaminhamentos e decisões relacionadas aos credores da massa falida. Após a venda da empresa para investidores paulistas – inclusive da Caio-Induscar –, ocorrida no ano passado, (que retomará a produção na fábrica a partir de março/abril deste ano), a Justiça ainda não conseguiu pagar os credores da antiga Busscar. 

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O motivo é simples: a cada dia, entram novos pedidos de impugnações à lista de credores. Pela regra, o juízo só poderá pagar depois de estar completamente consolidado todo o quadro de credores. E isso depende da finalização de julgamento de todas as 200 impugnações já formalizadas nos autos do processo de falência da companhia. Desde o ano passado, o processo está nas mãos da juíza Karen Schubert Reimer.A magistrada explica por que não é possível fazer os pagamentos, como era seu desejo quando assumiu a vara: – Temos muitos pedidos de impugnações de credores com garantia real; e, inclusive da União, referente ao não recolhimento de tributos previdenciários junto ao INSS pelos ex-gestores da companhia. Preciso julgar todas as impugnações, e não há como atropelar o processamento. Por isso, não arrisco mais dar prazo para o início dos pagamentos. Preliminarmente, a juíza pretendia pagar os credores até o final de 2017, mas isso tornou-se inviável.Karen Reimer conta:  – Estimamos haver R$ 22 milhões a serem pagos. E, em caixa, há R$ 8 milhões. Mas nem mesmo estes recursos podem ser utilizados até o momento. O restante está bloqueado em razão de recursos impetrados. Com o Judiciário em recesso, todos os processos recomeçam a ser analisados a partir do dia 22.

Se o passado cria obstáculos, nem tudo é notícia ruim. A notícia boa vem dos novos controladores da Busscar: anunciaram que os primeiros ônibus fabricados na unidade de Joinville, nesta nova fase, serão colocados no mercado nos próximos meses. Os novos modelos – inclusive double deck – e as tecnologias empregadas no processo produtivo são mantidos em absoluto sigilo industrial. A nova Busscar já recebeu 11 mil currículos de gente interessada em trabalhar lá. E persiste a buscar por ex-profissionais e técnicos experientes, que atuaram, anteriormente, na companhia. É uma maneira de garantir expertise e conhecimentos técnicos acumulados ao longo de décadas nesta nova etapa dos negócios.

Cidade do Transporte 

Os líderes da iniciativa da construção da Cidade do Transporte-, – Ari Rabaioli, à frente – vão chamar para uma reunião até o final de março para reanálise da situação econômica para dar andamento do projeto de 7,6 milhões de m2, previsto para ser construído em Garuva, no Norte catarinense. Os investidores,  grande maioria de Joinville,são  do setor de transporte de carga e encaminharam a ideia em 2015, mas, em razão da crise, haviam suspendido os encaminhamentos no ano passado. O objetivo é reunir, num só local, variadas empresas de transporte e outras, de atividades afins (como postos de combustíveis, restaurantes, oficinas de reparos). Ao longo destes últimos três anos, foram feitos os projetos iniciais, estudos técnicos de viabilidade. Também houve negociações com a Prefeitura e com o Conselho da Cidade para se viabilizar o empreendimento sob aspectos jurídicos. A Prefeitura mudou o zoneamento na região toda, e a Câmara de Vereadores aprovou novo texto da lei de ordenamento territorial. A mudança jurídica, implementada em 2017, transformou toda a área e a região no seu entorno, de uso rural para industrial. Agora a bola está com os empresários.

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A nota cai e abre disputa política
As dificuldades em aprovar reformas, em especial a da Previdência, determinaram o rebaixamento da nota do Brasil, e de 32 empresas (entre elas os principais bancos e a própria Bolsa (B3), pela agência de classificação de risco Standard´s & Poors, de BB para BB -. O fato tem desdobramentos múltiplos. Sob a ótica da economia, significa um novo alerta no sentido de que o País já não é tão atrativo para os investidores estrangeiros. Importante é a compreensão da agência sobre a incapacidade do governo e do Congresso brasileiros em promover as transformações estruturais exigidas por quem, de fora, analisa aportes de recursos bilionários em negócios produtivos ao redor do mundo e, para isso, espera por solidez e segurança para aplicar o dinheiro. 

A decisão da S&P tem, também, óbvia implicação de caráter político. Henrique Meireles, o condutor da política econômica, aparentemente perde pontos na corrida por uma candidatura presidencial. Ao responsabilizar a Câmara de Deputados pela queda no rating, abre confronto direto com o presidente da Casa, Rodrigo Maia. O dois querem a mesma coisa: disputar as eleições para Presidente da República em outubro próximo, no estreito espaço de um nome referendado por Temer. A ruína de um tende a ser bom para o outro. E vice-versa.

Maia argumenta que o rebaixamento até pode ajudar a convencer os políticos a aprovar a reforma, em 19 de fevereiro. E deseja capitalizar. 

O jogo está em andamento. 

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