Em entrevista exclusiva para a coluna, Guilherme Bertani, presidente da Docol, fala do planejamento estratégico da companhia, coloca-se à disposição para presidir a Associação Empresarial de Joinville (Acij), comenta a importância que a Acij tem para a cidade, e como enxerga o mercado. O executivo, formado pela FGV, com cursos de especialização na FDC; Wharton; London Business School e Harvard, também já escalou outros desafios gigantes: quatro das sete montanhas mais altas de cada continente. A seguir, os principais trechos da conversa.
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O senhor esteve recentemente na feira Revestir. O que traz de novo para o mercado?
A Revestir é a mais importante feira do setor da arquitetura e construção e é onde se mostram as novidades. Precisamos ficar atentos com a escalada dos custos locais que podem dificultar a competitividade da empresa. Temos o dever de expandir ainda mais nossas atividades e a entrada no seguimento de louças sanitárias reforça este desejo. Somos a empresa mais inovadora da América Latina, cerca de 20% de nosso faturamento vêm de produtos novos. A torneira de cozinha Vitalis Ozônio, a tecnologia capacitiva nas torneiras economizadores de água e os novos acabamentos Docol Chroma são exemplos dessa inovação.
Quais são as perspectivas de negócios?
A Docol tem 1,6 mil empregos. Faturou R$ 460 milhões no ano passado e conseguiu crescer 5%, depois de recuo entre 2015 para 2016. As exportações amenizaram os efeitos da crise, com alta de 20% em 2017 na comparação com o ano anterior. A expectativa é bem promissora: abriremos filial comercial na Cidade do México até metade do ano. As exportações representam 15% do faturamento e devem aumentar sua presença. Apostamos muito no mercado do Oriente Médio, via distribuidores.
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Como enxerga o mercado brasileiro?
No mercado nacional, a retomada é consistente, mas isso só vai se refletir daqui a dois anos. Os problemas estão nos altos custos, que subiram muito. O preço do cobre dobrou de valor; o mercado está bem competitivo e isso impede repassar os custos para os clientes. O desafio é grande.
O ano começou bem?
O primeiro trimestre não está tão fácil. Esperava mais otimismo; melhorou, mas não está tão forte. A Associação de Fabricantes de Materiais de Construção (Abramat) fala em crescimento de 1,5%.
Neste cenário, a empresa investirá neste ano?
O cenário é de inflação baixa, juros baixos e o nível de desemprego está estabilizado. Mas há capacidade ociosa. A confiança do consumidor subiu e a oferta de crédito também. Assim, vamos investir R$ 17 milhões neste ano _ valor dentro dos padrões históricos. Principalmente na atualização do parque fabril.
Qual é a estratégia de longo prazo?
A nossa estratégia é agregar benefícios aos consumidores. Lançamos purificadores de água e temos preocupação maior com o bem-estar. É possível agregar outros produtos e economizadores de água, sem perder o conforto.
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A Docol vai entrar em novos mercados?
Planejamos construir fábrica de louças sanitárias. Inicialmente via comercialização de produtos com a nossa marca já no segundo semestre deste ano. A fábrica de louças está prevista para ser erguida daqui a cinco anos. Com produção de um milhão de peças por ano, a fábrica deverá ter 600 funcionários e ocupará área de 50 mil m². A definição da cidade que sediará o empreendimento ainda está em análise, mas Joinville é bem cotada. Neste novo negócio, serão produzidos pias, cubas e vasos sanitários, entre outros itens. O investimento será de R$ 80 milhões a R$ 120 milhões.
O senhor está dirigindo o planejamento estratégico da Acij. Como está essa construção?
Vejo a Acij como uma importante conquista não só do empresariado local como de toda a comunidade, que pelo associativismo conseguiu montar uma estrutura de apoio ao desenvolvimento da cultura empreendedora na cidade. E isso precisa ser defendido e desenvolvido. O planejamento estratégico visa construir uma pauta de trabalho para Acij, para seu futuro presidente, sua equipe de colaboradores e também para os empresários. Lideramos um grupo de empresários neste trabalho. Vamos identificar oportunidades, levantar pontos fundamentais da ação da entidade, e que se relacionam com Joinville e com o Estado.
O que pode ser feito?
Parafraseando JFK, é chegada a hora do associado se perguntar “o que posso fazer pela Acij?”, não em termos de pagar uma mensalidade maior, mas sim, em se engajar e participar mais do dia a dia da entidade. O empresariado joinvilense tem uma predisposição muito grande de participar para melhorar ainda mais a cidade e seu ambiente empreendedor, agregando mais dinamismo e força para a economia local. A Acij deve continuar apoiando temas de interesse da comunidade, mas também precisa ter uma pauta voltada para os interesses do empresariado e com uma participação mais ampla do associado no dia a dia da entidade.
O senhor representa uma importante indústria tradicional da cidade de Joinville. Há tempo na sua agenda para dirigir a Acij?
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Tenho interesse em dar continuidade ao trabalho já bem feito. A Docol sempre vai ser candidata natural à presidência da Acij. Eu teria como acomodar o compromisso à minha agenda.
Como enxerga a cidade?
A gente é fanático por Joinville. A cidade é competitiva para se produzir e fazer negócios, e a Acij tem papel muito importante. Temos mão de obra qualificada, embora já não seja mais tão barata. Sua posição geopolítica é excelente, e a cidade é dinâmica, voltada à atração de novas empresas. Dentre os problemas, destaco três pontos: a segurança, que tem piorado, a mobilidade, com o Estado sem recursos, e no campo da saúde, há carência de hospitais. A saúde é cara em Joinville.
O cenário político atrapalha o ambiente de negócios?
Precisamos de lideranças políticas capazes de desenvolver, negociar e implantar propostas que, de maneira pragmática, deem mais dinamismo à nossa economia. Só o desenvolvimento econômico gera riqueza e justiça social. Certamente o empresariado vai apoiar quem lutar por essa causa. A participação não só de empresários, mas de qualquer pessoa, na vida politica é fundamental para evitarmos os erros do passado. Não adianta só falar grosso no whatsapp; precisamos de um comprometimento mais sério, como o feito pelo prefeito Udo e pelo prefeito de Jaraguá do Sul.
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