— A sociedade apoia, mas é mais um capítulo da implosão do sistema político brasileiro. Isso dá fôlego para travar a reforma (da Previdência) porque o MDB vai querer negociar com o governo, não a situação de Temer, mas o que isso representa para o futuro do partido.
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O comentário, do analista político Leopoldo Vieira, da consultoria Idealpolitik, resume, à perfeição, o que acontecerá a partir de agora, como efeito da prisão do ex-presidente da República, Michel Temer. Para ajudar a piorar o clima entre os investidores, o conteúdo da proposta da reforma revelou que os militares não vão contribuir tanto para o pretendido equilíbrio fiscal, e isso azedou o paladar dos donos do capital.
A prisão de Temer mexeu com as estruturas. A Bolsa de Valores caía 2% já na sequência da divulgação da informação, logo depois do meio-dia desta quinta-feira, dia 21 de março, um dia que faz parte da História do Brasil. Em menos de um ano, é o segundo ex-presidente preso por corrupção – Lula foi preso em 7 de abril de 2018.
Nada mais natural, então, que o mercado financeiro tenha ficado estressado. Por características, o sistema atua e age de acordo com os fatos, e joga com expectativas de médio e longo prazos, com os dois olhos e ouvidos no que (e quem) pode ser útil a seus interesses, e focado nas possibilidades de elevação de ganhos e minimização de perdas.
Em momentos de instabilidade, acaba-se com alguma previsibilidade, e este é fator mortal, a induzir os investidores à cautela maior. Daí, afluxo de recursos de investimentos externos na economia real do País pode ficar para depois. Novamente.
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No contexto, a relação entre o mundo político e o mundo empresarial a comandar a criação e acumulação de fortunas. Algumas delas consolidadas com a intermediação de caciques com tinta na caneta no Executivo, e/ou legislando em causas legalmente duvidosas.
Porque Temer sabe muito sobre muitos, dá para imaginar o tamanho da inquietação no meio das grandes corporações, sempre prontas para estar perto do Poder.
Na perspectiva de curtíssimo prazo, os efeitos da prisão do ex-presidente se dão, inevitavelmente, nas oscilações da B3, e na espera por novos fatos a se desdobrarem a partir dessa sexta-feira, 22 de março. Por isso, os juros futuros dispararam rapidamente.
Na sua longa trajetória política, com mais de 50 anos de vivência no Poder e junto a ele, Temer coleciona histórias e é um imenso arquivo vivo dos últimos 50 anos da vida pública nacional. Possui muitas informações de bastidores. Detém, ainda, o poder de ter sido o receptor de muitos segredos de centenas e centenas de interlocutores. E foi protagonista de situações que, tanto auxiliaram a construir este país; como outras que causaram males à nossa República, como demonstra, agora, a Polícia Federal. Já imaginaram se Temer faz delação? Vai aumentar a venda de ansiolíticos.
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