O professor de economia na PUC-São Paulo, membro do Conselho Permanente de Política Econômica do Conselho Nacional da Indústria e ganhador do Prêmio Jabuti de Literatura com o livro “Desnacionalização”, Antonio Corrêa de Lacerda fez, recentemente, palestra na Univille. A seguir, a entrevista resume o seu pensamento.
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O Brasil superou a crise?
Antonio Lacerda: Continuamos em crise. A recessão acabou estatisticamente. Mas ainda estamos bem longe de recuperarmos o que tínhamos até 2014. Em 2018, o PIB cresce somente ao redor de 1%; o PIB per capita é 8% inferior ao de 2014 e o nível de investimentos está 38% abaixo na mesma base de comparação.
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O desemprego é o maior problema?
Antonio Lacerda: É um deles, sem dúvida. Temos 12,5% de desempregados, mas o percentual dobra no conceito mais abrangente, computando os desocupados que desistiram de procurar emprego.
O que dá para se fazer no curto prazo?
Antonio Lacerda: A crise foi desencadeada pelos equívocos da política econômica dos governos Dilma e Temer. Não bastasse isso, o crédito é muito caro e, por isso, pessoas físicas e empresas ou não tomam empréstimos ou não conseguem pagá-los. Criamos um país de rentistas, e esse dinheiro não volta ao sistema produtivo. Todos os países precisam de adequada política de crédito para dar ânimo à produção. Neste sentido, a ação do governo é essencial. Lembro que cinco bancos concentram 85% de todo o crédito disponível.
Essa concentração, evidentemente, gera distorções.
Antonio Lacerda: Sem dúvida. E isso é prejudicial a toda a economia. É importante recuperar as funções dos bancos públicos, em especial o BNDES, como instrumento de capitalização e fomento empresarial.
A política cambial varia ao sabor dos momentos. Essa forma de ver lhe parece correta?
Antonio Lacerda: A política cambial oscila muito, sim. E é muito livre. Dá margem à especulação. Controlar o câmbio futuro é necessário.
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Outra questão séria é a da área fiscal. Muitos analistas afirmam que é o principal desafio a ser vencido pelo próximo governo.
Antonio Lacerda: Verdade. Mas, veja, o teto de gastos, por exemplo, é uma falsa solução. Por causa disso, o investimento público está sendo sacrificado. E restringir o investimento é o pior dos mundos.
E a cena política acirra instabilidades…
Antonio Lacerda: A instabilidade gera alta nos juros futuros e provoca arranjos na Bolsa de Valores, com flutuações frequentes, ao sabor dos fatos políticos que se sucedem. Dos candidatos mais bem posicionados, o discurso de Bolsonaro difere do pensamento do seu escolhido para comandar a Fazenda, o economista e banqueiro Paulo Guedes. E a esquerda não gera confiança. Sequer assume os erros dos governos Dilma e Lula. A polarização entre Bolsonaro e Haddad é ruim para o país. É importante compreender que, eleitoralmente, cada desempregado a mais é um conservador a menos.
O que o próximo presidente deve fazer para reduzir o desemprego?
Antonio Lacerda: Estimular setores geradores de emprego, como construção civil, a cadeia de alimentos e o segmento da indústria calçadista, por exemplo.
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Austeridade fiscal, então, não é um caminho?
Antonio Lacerda: Desde 2014, com Joaquim Levy, o modelo de austeridade fiscal não deu certo. Isso só aprofundou a crise. O caminho é estimular a economia para as empresas aumentarem o faturamento e criarem mais empregos, portanto, elevando a arrecadação do poder público nos municípios, Estados e da União.
As reformas (da Previdência e tributária) são essenciais para o Brasil ter um norte a longo prazo?
Antonio Lacerda: A reforma da Previdência é uma contrarreforma. O que é fundamental é eliminar privilégios. A instituição da idade mínima é correta, mas não basta. Na questão tributária, é importante tributar heranças, lucro e dividendos e reduzir/eliminar a tributação sobre exportação e investimentos.
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