Lula criou fato político novo ao não se entregar à Polícia Federal na sexta-feira, até as 17 horas, como determinava o juiz Sérgio Moro. Essa situação diz muito da personalidade do ex-presidente e da forma como age, sempre em busca de espetáculo. Tem direito, desde que arque com as consequências. E isso vale para todos. Indistintamente.

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O fato, por si só, não surpreende tanto. O impacto maior é quanto à mensagem que passa. O fim de semana foi um dos mais agitados para quem gosta de fortes emoções e vive o cotidiano da informação. Agora, neste início de semana, é hora de acompanhar como vão se comportar agentes econômicos – investidores, analistas financeiros, industriais. 


Se terminou a angústia do mercado financeiro e da classe média na quarta-feira passada com o resultado do julgamento do ex-presidente no STF, o momento atual é de perceber as consequências econômicas e político-eleitorais dessa nova conjuntura, determinada pelo gesto político do ex-metalúrgico na sede do sindicato que liderou.


Claro que para as pessoas comuns nada muda repentinamente. Elas continuam a tomar café, ir ao trabalho ou à escola, a pagar contas. Vão ao médico, andam de ônibus, viajam. Assistem à TV e conversam nos bares. Dito assim, parece que nada mudou. 


Engano de percepção. O Brasil vive um momento irrepetível da História. Não há como desconsiderar. É preciso ponderar o seu significado. A cada minuto, os bastidores se agigantam. As dúvidas persistem. Não aquelas diretamente ligadas ao destino do ex-metalúrgico, pronto para ocupar cela na PF, com 15 metros quadrados. Há outras perguntas no ar. As mais óbvias: como ficará o quadro eleitoral e quem estará apto a conquistar os votos que poderiam ir para ele? A centro-direita conseguirá obter a unidade em torno de um nome eleitoralmente consistente? Há espaço para votações de projetos reformistas no Congresso? 

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Os investidores e empresários, naturalmente, vão demandar muito mais as consultorias especializadas em fazer análises macroeconômicas e políticas sobre o quadro nacional. Inclusive as lideranças joinvilenses certamente trocarão telefonemas e mensagens em torno do que afirmam seus gurus. Lógico que este acompanhamento mais próximo só é viável para aquelas lideranças que têm mais trânsito junto a estes cenaristas e a instituições acreditadas que conduzem expectativas, a cada “paper” que escrevem.


O Brasil desta segunda-feira, dia 9 de abril de 2018, não é o mesmo de antes de 3 de abril de 2018, véspera do julgamento do de Lula no Supremo. A nova realidade nos obriga a ter dois olhares: um voltado ao cotidiano, porque, como disse o eterno Cazuza, “a vida não para”. O outro olhar é para aquilo que as informações de São Bernardo, de Brasília e de Curitiba estão nos dizendo. Neste caso, chovem possíveis desdobramentos. Arriscar desfechos ou emitir certezas soam inadequados. Acompanhar os fatos, aprender a ler o que dizem os protagonistas e perceber seus silêncios passam a ter valor inestimável para a melhor tomada de decisões para os negócios.

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