A greve dos caminhoneiros nos dá várias lições. A primeira é que a política de preços da Petrobras, atrelada à variação do preço do petróleo no mercado internacional, é potencialmente inflacionária. O motivo é simples: à medida que ocorrem os reajustes da estatal para as refinarias – e eles têm sido frequentes – os repasses são automáticos das refinarias para os postos. E daí, chegam aos consumidores finais – nós mesmos – que temos de pagar cada vez mais caro para comprar as mercadorias no dia-a-dia, inclusive gasolina e álcool para abastecer os carros.
Continua depois da publicidade
No caso dos caminhoneiros, o diesel também sobe de valor em patamar elevado, em contraposição ao valor de fretes, invariavelmente considerados baixos pela categoria dos caminhoneiros – razão fundamental da greve.
Há que se considerar outra questão macroeconômica: quatro tributos incidem sobre as vendas de combustíveis: ICMS, de cobrança dos Estados;, com repasse parcial da arrecadação aos municípios; o PIS e COFINS, cobrado pelo governo federal e a CIDE (tributo federal, que tem repasse aos Estados.
Parece absurdo? Sim, é.
Se este é o pano de fundo da situação, obviamente o problema mais agudo que uma greve dessas características e dimensões causa, tem a ver com o cotidiano da população. Preços abusivos dos combustíveis, falta de produtos nas gôndolas dos supermercados, dificuldades de alguns hospitais em fazer cirurgias eletivas são apenas alguns múltiplos exemplos das consequências da greve. E, claro, a paralisação de produção em indústrias.
Continua depois da publicidade
Enfim, os prejuízos se generalizam às dezenas e dezenas de milhões de reais por toda a sociedade.
Veja: Acordo está mantido mesmo com emprego das forças federais, diz Marun
Polícia Rodoviária Federal vai agir com rigor para desbloquear estradas em SC
Movimento x governo
A costura política em torno de um entendimento entre governo – que rejeita perder recursos – e as lideranças do movimento dos caminhoneiros, que naturalmente deseja ver reposta sua rentabilidade,- tomou muitas horas de diálogo desde terça-feira.
O que surpreendeu foi o apoio formal e público da Confederação Nacional dos Dirigentes Lojistas, a CNDL, aos grevistas. É raro uma entidade empresarial apresentar-se, assim, claramente, ao lado de quem paralisa atividades, e origina todo o caos social vivenciado pelos catarinenses e brasileiros nos últimos dias. Enquanto isso, a representação da indústria entrava com liminar para garantir o abastecimento de seus insumos.
Este é nosso Brasil: repleto de interesses pessoais, incapacidade das políticas públicas abraçarem as causas vitais. Ao fim, a mensagem que lemos é a de que nosso modelo mental está na lógica que nos leva ao modelo de desenvolvimento que temos.
Continua depois da publicidade
Leia outras publicações de Loetz
Veja também a coluna de Estela Benetti e de Pedro Machado