Uma visita rápida a supermercados mostra dezenas de balcões vazios. Realidade que se agrava a cada hora. Carnes, frutas, verduras e leite desapareceram. Café se escasseia velozmente. Não se encontra mais gás de cozinha. Gasolina nas bombas, nem pensar. Alguns restaurantes já não atendem aos clientes por falta de insumos.

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Restam creme dental, enlatados, papel higiênico, alho. Assim estamos: em situação crítica. Vida amarga. Num dos supermercados da região central de Joinville não havia nenhum produto em 24 prateleiras. Os poucos clientes olhavam o ambiente e se entreolhavam perplexos. Um ou outro fazia comentários do tipo:  “Pois é, está difícil.”

O desespero e a desinformação são tantos, que na tarde desta segunda-feira tinha gente fazendo fila em posto de combustível que não tinha nem gasolina, nem álcool. Acreditar em mensagens passadas via redes sociais dá nisso. 

A paralisação dos caminhoneiros provoca efeito múltiplo sobre o cotidiano da população, o que se vê por todos os lados: escolas sem aula e hospitais cancelando cirurgias eletivas. A vida real está de pernas para o ar. 

Leia todas as notícias sobre a greve dos caminhoneiros

 

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Movimento extrapolou

O movimento grevista dos caminhoneiros extrapolou. Em meio aos caminhoneiros, há gritos de “fora, Temer!; Lula livre!”. Se nem um acordo aprovado em reunião com o presidente da República foi capaz de pará-lo, temos pelo menos três conclusões:

1. Michel Temer perdeu qualquer respeitabilidade. Já não comanda mais nada. 

2. É mais complicado enquadrar um movimento grevista que não tem lideranças personalísticas, que é um movimento difuso e recebeu apoio da população desde o começo.

3. O futuro imediato é imprevisível.


Férias fora de hora

Empresas dão férias coletivas. A Whirlpool já comunicou a seus fornecedores que só retomará o trabalho no dia 7 de junho. A Electrolux volta no dia 4. São apenas dois exemplos de fabricantes da linha branca. No geral da indústria plástica catarinense, muitas companhias também estão estudando concessão de férias coletivas.
A Tupy dispensou 15% dos seus empregados do trabalho temporariamente, por tempo indeterminado. São aproximadamente 1.500 funcionários nesta condição. Não são férias coletivas, esclarece a companhia. 
Inúmeras outras empresas de setores diversos, têxtil e metalmecânico, por exemplo, já avaliam a possibilidade de também dar férias coletivas aos trabalhadores. Na indústria de bens de capital, idem.

Segunda-feira (28) foi dia de reuniões intermináveis. Um movimento dessa dimensão não se sustentaria unicamente por obra dos milhares e milhares de caminhoneiros autônomos, por mais organizados que sejam. Há empresas de transporte de carga estimulando a situação desde o seu início. Isso engorda o movimento e cria condições naturais para o aprofundamento do caos.

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Veja: Empresas paralisam linhas de produção e dão férias coletivas em Joinville


Frete

O vice-presidente da Federação das Indústrias do Estado de Santa Catarina, Mario Cezar de Aguiar, fala em esperança de regularização da situação, mas analisa as consequências graves da paralisação:

– A economia já estava dando sinais de esfriamento. Por causa desse desaquecimento da economia que virá de agora em diante, o preço do frete vai baixar. Ao natural.
E avalia a apatia do governo:

– Temer ficou muito tempo sem falar à Nação. No começo, perdeu a chance de fazer um pronunciamento forte. 

 

Perda de credibilidade

Outro olhar sobre a situação vem do presidente da Fiesc, Glauco Côrte:

– Os efeitos nos próximos meses serão muito ruins. Os exportadores de Santa Catarina não conseguem produzir. Então, não entregam as mercadorias no prazo combinado. Por isso, poderão receber multas, inclusive com perda de contratos e clientes.

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Ainda Glauco:

– Para a agroindústria, o momento é gravíssimo. SC poderá perder a confiança do mercado porque surgem dúvidas sobre a capacidade de manter a sanidade animal, já que a alimentação dada aos animais não é a mesma.

 

Refeições

A indústria de máquinas e equipamentos relata falta de insumos, paralisação parcial de produção, absenteísmo ao trabalho, falta de material para refeições aos funcionários de empresas associadas. 

 

Retrocesso

A Confederação Nacional da Indústria emitiu nota na qual afirma que o tabelamento dos preços de frete para o transporte rodoviário de cargas é um retrocesso para o Brasil. O tabelamento está na medida provisória 832, uma das ofertas feitas aos líderes dos caminhoneiros na tentativa de acabar com a paralisação. O argumento: o tabelamento do frete levará, inevitavelmente, ao aumento geral de preços para a população brasileira em função da alta dependência rodoviária do país. 

 

Bolsa

No mercado financeiro, os reflexos aparecem nos índices: o Ibovespa caía 3,40% no meio da tarde, e as projeções de crescimento do PIB apontam para algo próximo a 2,30% para este ano. 

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Memória

Ambiente assim tão tenso e potencialmente conflagrado se viu na última vez durante o governo Sarney. Ao tempo da hiperinflação, um fenômeno macroeconômico inexistente agora.

 

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