Em entrevista exclusiva à coluna, o presidente da Agemed, Pedro Assis, explica a situação financeira da operadora de plano de saúde, fala da expansão de atividades dos últimos anos, analisa a concorrência, confirma ter sido procurado para vender o negócio e diz que mantém o plano de construir hospital próprio em Joinville.
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Qual é o tamanho da Agemed atualmente? Número de clientes-beneficiários, número de prestadores de serviços conveniados (clínicas, laboratórios, hospitais)
A Agemed está entre as 30 maiores operadoras de planos de saúde do Brasil. O número de beneficiários gira entre 250 e 300 mil beneficiários de planos de saúde ativos e mais 20 mil beneficiários do plano dental. A empresa tem ampla rede de corretores e mais de 600 funcionários na cidade de Joinville.
A rede de parceiros prestadores de serviços tem mais de 10 mil credenciados. Entre esses, há mais de 60 hospitais – a maior parte deles estabelecimentos que são referência nas localidades onde atuam.
Quantos funcionários tem a empresa e atua em quantas cidades e Estados?
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Somos uma empresa joinvilense e que figura entre as 55 maiores companhias de Santa Catarina segundo a revista "AMANHÃ". A operadora também foi listada entre as 1000 maiores e melhores empresas do País pela revista "Exame". Está presente em Santa Catarina, Mato Grosso, em Mato Grosso do Sul, no Paraná e no Rio Grande do Sul.
Nos últimos anos a Agemed cresceu em seu raio de ação. Simultaneamente aumentou sua exposição financeira. Hoje tem grave dificuldade de caixa com dívidas junto aos prestadores de serviço. Qual é a atual situação econômico financeira do grupo?
O balanço do período encerrado em 31 de dezembro de 2018 certamente não indica o melhor desempenho da história da empresa. No primeiro semestre o prejuízo foi de 7% sobre a receita. No segundo semestre já houve recuperação, com superávit de quase 2% sobre a receita. Feitas as correções, em 2019 a expectativa é atingirmos um resultado superior a 8% sobre a receita.
Qual e o total do faturamento em 2018 em comparação com anos anteriores?
Fechamos 2018 com um faturamento de R$ 789 milhões, o que representou um crescimento de 55% sobre o ano anterior. Conquistamos esse resultado apenas com crescimento orgânico.
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Qual é o total dos débitos? Quanto é de curto prazo e quanto de longo prazo?
A companhia apresenta um endividamento da ordem de 7,22% do seu faturamento, sendo 60% no curto e 40% no longo prazos.
A opção por crescer revelou-se equivocada? Por quê?
Para a Agemed, crescer é uma benção. Assim ela proporciona mais empregos, mais renda, mais saúde para milhares de pessoas, que muitas vezes não dispunham do serviço médico hospitalar de qualidade. Estamos completando 21 anos de existência este ano e somos uma das poucas empresas do setor que apresenta um crescimento constante ao longo dos anos.
A operadora de saúde está sob uma espécie de intervenção da Agência Nacional de Saúde Suplementar a ANS desde maio de 2018 no procedimento que implica em tutela gerencial. Por que isso ocorre?
A Agemed não está sob intervenção. O processo instaurado foi de direção fiscal. A saúde suplementar no Brasil é um setor regulamentado e isto significa que todas as empresas que atuam nesta área estão sujeitas às auditorias da Agência Nacional de Saúde Suplementar – ANS – conhecidas com regime de direção fiscal. É um procedimento de zelo do governo federal para com as empresa que oferecem o serviço privado de saúde.
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Que correções de rota administrativa e financeira estão sendo implantadas desde então?
Assis – Mudança é a única coisa constante nas empresas feitas para vencer, principalmente para empresas com o perfil de crescimento da Agemed. Nos últimos meses estamos revendo processos internos, buscando redução de custos operacionais e fortalecendo parcerias com prestadores de serviços para garantir a qualidade do atendimento com custos sob controle.
A Agemed enfrenta a concorrência de grupos igualmente importantes como Unimed, Bradesco Saúde, Amil entre outros. O que diferencia a Agemed dos demais?
A livre oferta de produtos e serviços gera qualidade e preços competitivos e quem ganha é o cliente. A Agemed tem no seu DNA a visão do empresário que custeia o benefício para o seu colaborador. Entre os empresários que oferecem este benefício existem aqueles que têm condições de patrocinar totalmente o benefício, e aqueles que não podem, sob pena de sacrificar o resultado da sua operação.
Qual é o desenho dos produtos?
Nesse caso podemos ajudá-los, desenhando e implantando um produto “taylor made”, dentro das condições daquele empresário. Isso nos deixa realizados pois podemos ajudá-lo a atrair e reter a melhor mão de obra para a sua empresa e oferecer serviços de assistência médica da melhor qualidade para o colaborador e sua família.
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Não dispor de hospital próprio em Joinville dificulta a operação, já que a torna dependente dos serviços do Hospital Dona Helena?
A Agemed sempre trabalhou com serviços de terceiros. Assim montamos uma excelente rede de hospitais em Santa Catarina e no Paraná. Em Joinville, nossos clientes estão muito bem servidos com o Hospital Dona Helena. Essa parceria é benéfica para a operadora e para o hospital. Não há, portanto, qualquer dificuldade extra pela manutenção da parceria.
No fim de 2018 o Dona Helena considerou a possibilidade de deixar de atender a Agemed. Mas o atendimento continuou. As dívidas com o hospital foram pagas?
O contrato de prestação de serviços entre o hospital e a operadora é muito antigo, com muitos aditivos feitos ao longo do tempo. Isso gerava muitas dúvidas entre os colaboradores de ambas as empresas. Aparamos algumas arestas, e iniciamos, naquele momento, a elaboração de um novo contrato que já está em fase de conclusão.
O projeto de construção do hospital próprio no bairro Boa Vista foi abortado?
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Não. O projeto do Hospital Monte Hermon precisa ser entendido no contexto de nossas atividades. Atuamos em muitas cidades de pequeno porte, onde é baixíssima a oferta de serviços médicos hospitalares de alta complexidade. O hospital, a ser construído em parceria com investidores e profissionais da cidade, vai operar junto dos hospitais já existentes em Joinville e ajudar a transformar a cidade num centro de excelência médica do sul do Brasil. O projeto está desde 2015 aguardando as liberações dos órgãos competentes.
Novos players estão chegando a Joinville. HapVida inaugura seu hospital em fevereiro e inicia atividades em abril. A LifeDay entra no Dona Helena. A Amil tem planos de ampliar sua atuação em Joinville. Como a Agemed encara esse momento?
Assim como alguns players estão chegando aqui, a Agemed está ampliando a presença em outros mercados. Há pouco, por exemplo, iniciamos as atividades em Campo Grande, no Mato Grosso do Sul. Cabe todo mundo neste mercado e o cliente tem que ter o direito de experimentar os serviços disponíveis. Isto certamente irá fazer com que todos os players se reciclem e se reinventem.
Há rumores de que a Agemed pode ser vendida. Há desejo de vender o negócio? Já houve prospecção e conversas neste sentido?
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Por ser uma empresa familiar que se destacou no mercado nacional, e principalmente do Sul do Brasil, região há muitos anos dominada por apenas um desses players, com certeza, a Agemed tem sido muito assediada. Mesmo assim, a empresa não deu continuidade a qualquer uma dessas conversas.
Como agir de agora em diante para manter se competitivo? Teme perder contratos de empresas para os entrantes no mercado?
Loetz, ninguém é dono do cliente. O que faz a diferença neste mercado é a equipe de vendas treinada para descobrir as necessidades que sua companhia tem a capacidade de atender. Este mercado é tão vasto que isso não pode ser uma preocupação. Temos que pensar sim em atender o cliente da melhor forma. Mas feliz o mercado onde você tem o direito de experimentar outros jeitos e modelos daquilo que você precisa.