A um mês do início da Copa do Mundo de Futebol, há silêncio sobre o assunto, só cortado pelo anúncio dos jogadores convocados. Nas rodas de conversa – e aí não importa onde –, o tema Copa do Mundo tem sido relegado a terceiro plano. A constatação se faz tanto nos terminais de ônibus, em praças de alimentação de shopping centers, nos diálogos com vizinhos e amigos, nas filas de banco e em supermercados.
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Em anos de edições anteriores da Copa, mesmo quando realizadas longe do Brasil, a população já falava com entusiasmo e expectativa sobre a possibilidade de o Brasil ser campeão, ou não. Historicamente, os palpites se multiplicavam na esteira do que se denominou de “paixão nacional”. Este sentimento já não acontece neste ano.
A convocação da Seleção Brasileira, feita pelo técnico Tite nesta segunda-feira, já não parou o país.
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Evidentemente que a massiva cobertura jornalística, que se acentuará de agora em diante, colocará o assunto na pauta cotidiana de milhões de brasileiros. Os comentários da população vão ser mais apaixonados à medida que se aproximar o começo da competição, claro. Inevitável.
Mas o que cabe destacar aqui, neste espaço de informação e análise econômica, é exatamente a inflexão comportamental do brasileiro em relação aos temas futebol e Copa do Mundo.
O futebol, em geral, e a Copa do Mundo em particular, já não atraem as atenções generalizadas, o que ocorria facilmente nas competições passadas. A efervescência emocional que a Copa sempre gerava – mesmo bem antes de começar o primeiro jogo – desta vez ficará para o dia em que o Brasil der seu primeiro chute nos campos da Rússia. O Brasil só vai parar nos dias dos jogos da Seleção.
O novo, em 2018, é o fato de a sociedade estar se dissociando daquele “espírito esportivo” próximo da convulsão e da irracionalidade só porque joga(va) a Seleção (foto).
A população está bem mais interessada em temas mais presentes no seu cotidiano. Cuida da própria sobrevivência. Desemprego, endividamento, insegurança, falta de remédios nos postos de saúde, a nota do filho na escola, a briga entre vizinhos, o noticiário das decisões do Supremo Tribunal Federal, as corrupções, os salários baixos, o assassinato de alguém conhecido, a separação de um casal de famosos, o chope com amigos no barzinho da esquina, as alegrias e os problemas no cotidiano do trabalho, a expectativa pelo vestibular, o celular que travou, os efeitos da instantaneidade das postagens de mensagens no Instagram e no Facebook – os clássicos dramas familiares e sociais – ocupam, predominantemente, as atenções das pessoas.
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Geromel, Fred, Ederson e mais 20 nomes não são razões suficientes para felicidade coletiva surgir do nada. A forma de o brasileiro se comportar mudou. Isso é bom. Mostra evolução. Até a geração passada, embebia-se fartamente de futebol e se engalanava, entorpecida, com um copo de cerveja na mão e um monte de pipoca do lado: tudo por um gol!
Ela, a sociedade, depositava a sua felicidade nos pés e nas mãos dos jogadores da Seleção, como se os resultados dos jogos – e, em especial, a conquista, ou não, da Copa – fosse a redenção ou o inferno; como se as dores diárias sumissem de repente: um anestésico.
Claro que a partir de hoje as mídias vão dar enorme destaque a tudo o que acontecerá com a Seleção. Natural. Por isso, o tema, aos poucos, vai ser objeto de conversas mais frequentes nos mais variados ambientes coletivos ou privados.
O que interessa aqui é uma reflexão: a de que é mais importante olharmos para nossas aflições e alegrias próprias do que enxergar em terceiros desconhecidos – íntimos – nossa possível alegria suprema antes, durante e após sete partidas de futebol.
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De todo modo, vamos, lógico, torcer muito por Neymar e companhia.
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