A explosão de casos e de mortes por Covid-19 tem razões bem objetivas: o sol, o incentivo às pessoas irem para as praias; e a cerveja, estimulante natural para a propagação de festas. Nada mais simples do que isso. Como os governos não podem controlar o clima, e nem proibir a produção de mercadorias consumidas largamente pela população, eis o resultado nefasto: a multiplicação de óbitos e a crescente necessidade de hospitalização por parte de doentes do coronavírus.
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Claro que isso é ironia.
Vamos falar sério: enquanto na Europa países fecham tudo, com lockdown de 15 dias ou mais, aqui, nos trópicos, os governantes têm medo de enfrentar categorias econômicas fortes e entidades de classe movidas a poderoso lobby. Assim, as praias estão lotadas, os eventos haviam sido permitidos. Precisou a Justiça ordenar a proibição de eventos e impedir lotação máxima nos hotéis, em decisão de evidente bom senso e de recuperação do juízo. Sabemos todos que bastam algumas horas de folia para que haja consequências duradouras para milhares de famílias, pela via da contaminação coletiva.
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Sim, a população é suficientemente esclarecida para saber que não deve se expor, em grupos, à possibilidade do contágio. Sabe, mas não está minimamente preocupada com isso. Então, essa combinação de fatores – governantes permissivos e sociedade irresponsável – tornam a vida de todos quase irrespirável. Não é por acaso que, segundo pesquisa, 87% dos brasileiros têm sintomas de ansiedade.
Impossível ser diferente. Hoje, depois de nove meses desde a chegada do vírus, não dá para dizer que se desconhece o problema. Nem dá para admitir a omissão de quem tem a missão de gerir a coisa pública no interesse comunitário. Está bem: dirão que a economia precisa seguir, sob pena do flagelo do desemprego criar outra onda de desesperança e desespero. É um argumento defensável, claro.
Mas está longe de ser o mais importante. Nada é mais importante do que a vida.
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No contexto atual, ninguém pode afirmar que não conhece alguém que já tenha sido infectado pelo novo Coronavírus. A disseminação da doença alcança todos os grupos sociais, econômicos, e todas as faixas etárias. Por que, então, as pessoas “fingem” que a doença não existe, e insistem em agir como se nada estivesse acontecendo?
Duas razões predominam: a ideia de onisciência, de que “comigo nada acontece”; e a certeza da impunidade, rastreada na incapacidade de fiscalização efetiva e no discurso e nos atos dos governos.
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Portanto, é claro que quem libera atividades econômicas não essenciais; edita um toque de recolher “pra inglês ver”; invoca Deus para não assumir responsabilidades; e quem continua se divertindo em aglomerações diversas, são todos, corresponsáveis pelos fatos noticiados diariamente.
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Quem defende a liberação irrestrita de negócios não é, apenas, um liberal nas suas convicções ideológicas, é alguém insensível para com a aflição alheia – que bem poderá a própria aflição de uma hora para outra. O não uso de máscaras, o ajuntamento de pessoas, e as falas e decretos oficiais facilitadores desse comportamento, são os elementos indutores para o crescimento da doença entre nós.
Assim será o Natal, o fim de ano; e o verão: gente bebendo até cair, enquanto outros velam seus mortos.
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Ironicamente, os que fazem festa também querem receber a vacina. Muito possivelmente, ainda vão tentar furar a fila, sob qualquer pretexto idiota. Mas, enquanto isso, enquanto a vacina não chega, para uns – os governantes -, falta a coragem de contrariar gente poderosa; e para outros – as pessoas comuns, sobra egoísmo.
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Para ambos falta empatia, aquela capacidade de enxergar o próximo com a atenção que merece.
Não, nem o sol, nem a cerveja são culpados de nada.
Feliz Natal aos sobreviventes!