Impossível falar de música no Brasil sem citar Rita Lee. A última passagem da cantora por Florianópolis foi em 3 de outubro de 2009, no saudoso Floripa Music Hall, no centro da cidade. Com seu tradicional e poderoso cabelo vermelho, a cantora subiu ao palco lesionada. Além do visual roqueiro, Rita também carregava uma tipoia no braço direito (consequência de uma cirurgia no ombro) e um pé torcido (fruto de uma queda durante outro show). Apesar das limitações, Rita Lee fez um show impecável.

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Acompanhada de uma superbanda, que tinha nas guitarras o marido Roberto de Carvalho e o filho Beto Lee, Rita conversou com o público e cantou seus principais sucessos para cerca de duas mil pessoas. Ela nem podia imaginar que aquela seria sua última passagem pela Ilha. O show foi produzido pela competente Eveline Orth e contou com a promoção dá Rádio Itapema.

Material de divulgação da última apresentação de Rita Lee em Florianópolis, em 2009

Nascida no fim dos anos 40, a roqueira ultrapassou a marca de 55 milhões de discos vendidos no país. No currículo invejável, de obras inesquecíveis, estão clássicos como “Saúde”, de 1981, e o mais contemporâneo “Balacobaco”, de 2003. Rita também recebeu o aval para lançar um disco dedicado a versões dos Beatles em bossa nova, intitulado: Aqui, Ali, em Qualquer Lugar, de 2001.

Sua rica discografia também é sinônimo de amor com o marido e músico, Roberto de Carvalho. De um casamento recheado de composições marcantes também nasceram Beto, Antônio e João Lee. O mais delicioso deste legado deixado pela artista é a possibilidade de viver a vida com sabores de pecado.
Com sua personalidade forte e intensa, Rita escreveu canções que demonstram muito bem os prazeres da vida. Sua impaciência em dizer: “Me cansei de lero-lero. Dá licença, mas eu vou sair do sério” é quase um mantra para quem busca liberdade de uma rotina presa a padrões da sociedade.

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Canções picantes também fizeram parte de suas obras. A provocante “Banho de Espuma” e a emblemática “Caso Sério”, com um instigante trecho: “Você e eu somos um caso sério, ao som de um bolero, dose dupla, românticos de Cuba Libre, misto-quente, sanduíche de gente”, denunciavam a imaginação fértil de uma musa que inspirou inúmeras gerações.

Comigo não poderia ser diferente. Depois de retornar de uma viagem à Europa, onde adquiri meu primeiro equipamento de som moderníssimo, aos 18 anos, havia chegado a hora de escolher meu primeiro CD. Com a informação de que Rita Lee havia lançado um disco acústico, novidade na época, fui ao centro de Florianópolis encomendar a obra, que demorou dias até chegar.

Assim que recebi o tão desejado CD, a obra não saiu mais do equipamento. Por meses aquele moderno disquinho prateado rodou dias e noites e madrugadas. A obra era perfeita, contendo os grandes sucessos da carreira da roqueira, que num determinado momento conversava com o público, falando do futuro do Brasil. “Eu tava aqui pensando, pensando… no ano dois mil e vinte como será que vai estar o Brasil?” e Rita encerrava a fala com: “De repente os trombadinhas crescem e viram políticos, que pena. É, o Brasil é tão bonito, não é? Um país doido este…”

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