Voltando das férias com aquela energia abastecida e renovada. Neste retorno, trago uma entrevista especial com um catarinense que nada diariamente com os Tubarões no Hawaii. Nascido em Floripa no fim da década de 70, Gustavo Fidelis dedicou parte da vida na Ilha de Santa Catarina. Aluno do Colégio Catarinense durante os anos de 2003 a 2007, o manezinho fez sucesso na cidade com a dupla: Fidelis & Ribeiro, ao lado do amigo, e também músico, Rodrigo Ribeiro. No fim de 2007, o catarinense foi para os Estados Unidos. Em Fort Lauderdale, Fidelis começou tocando nos bares da famosa cidade da Flórida. Filho do saudoso Nilson “Pico” Fidelis, presidente do Avaí, campeão em 1988, pai do Ty, de 7 anos, o manezinho se tornou local no Pacifico. Atualmente, Gustavo mora na ilha de Maui, no Hawaii. Além da música, o catarinense também é um dos instrutores de mergulho mais requisitados da ilha.
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Tive a honra de passar uma semana em Maui ao lado do “local” Gu Fidelis e aproveitamos para fazer uma entrevista especial com o manezinho das Ilhas, de Floripa e agora de Maui, no Hawaii.
Leo Coelho: Assim como Floripa, Maui, no Hawaii, é uma Ilha. Quais as semelhanças e diferenças com Florianópolis?
Gu Fidelis: Acredito que tudo depende dos olhos de quem vê e vive cada uma delas. O turista, diferente do morador, vê tanto Floripa como Maui de um jeito diferente.
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Eu morei/moro nas duas e em ambas existem características peculiares que me chamam a atenção, me satisfazem e me desanimam.
Sendo mais direto, eu considero Maui a Floripa em que cresci. Principalmente no quesito segurança e senso de comunidade que existe. Meus verões quando criança/adolescente/começo dos 20 anos em Jurerê tradicional onde tinha casa de praia, por exemplo, eram de portas abertas e a vizinhança era ano após ano a mesma. Todos os pais se conheciam e toda a criançada brincava, comia e se divertia na rua e na casa dos amigos como se fosse um grande condomínio fechado, sem na verdade ser. Em Maui ainda acontece isso e o ano de 2020 (COVID) fortaleceu ainda mais esse sentimento.
LC: Em Floripa você ficou muito famoso com passagem pelo programa Ídolos e compondo a dupla Fidelis & Ribeiro. Como está sua carreira artística atualmente?
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GF: Obrigado pelo “muito” mas menos, Leo. Definitivamente foram experiências que mudaram a minha vida e serviram de alicerce pra pessoa que sou hoje e tudo o que conquistei.
Minha carreira artística é modesta. Saí do Brasil há pouco mais de 15 anos atrás com o sonho de me tornar uma pessoa reconhecida (internacionalmente ou mesmo numa volta ao Brasil, cito o caso do Seu Jorge, Tiago Iorc…) mas minha vida acabou “se fazendo” aqui nos Estados Unidos e percebi que a caminhada seria mais prazerosa que o destino final.
Assim sendo, o sonho grande de ser famoso foi deixado de lado mas continuo me sentindo um privilegiado de poder tocar meu violão e cantar em vários hotéis, restaurantes, bares e eventos privados em Maui numa constância suficiente pra me dar uma boa qualidade de vida nesse lugar onde muitos sonham em conhecer, alguns conseguem passar férias e poucos conseguem chamar de casa!! 🙏🙏🙏
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LC: Sua outra principal profissão, atualmente, é ser instrutor de mergulho. Quais espécies são possíveis de se encontrar ao mergulhar em Maui?
GF: Esse é o lado fascinante da coisa: O Hawai’i é o lugar mais isolado do mundo! Está no meio do pacífico norte a duas mil e quinhentas milhas do pedaço de terra mais perto.
A biodiversidade de espécies (e obviamente a claridade e qualidade da água) nos dá assunto pra uma vida toda!
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Pra começar, 25% dos peixes daqui são endêmicos, ou seja, só se vê aqui e em mais lugar nenhum do mundo. Citando alguns exemplos, moreias, lagostas, tartarugas, polvos e tubarões fazem parte da rotina diária dos mergulhos que faço.
A comparação mais próxima que podemos fazer seria com Fernando de Noronha, por exemplo, que existe uma abundância e diversidade de fauna marinha parecida por estar afastado no meio do Atlântico.
LC: Inevitável perguntar sobre os tubarões. Além de respeito, é preciso ter medo ao encontrá-los durante o mergulho?
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GF: Aprendi muito nesse assunto e hoje em dia tentamos “educar” nossos alunos e clientes nesse quesito, sabia?
O nome “tubarão” (qualquer espécie) sempre foi massacrado por Hollywood como o predador mor, o tirano, o vingativo, o que ataca por maldade. Não é verdade. Existem espécies mais dóceis e espécies mais agressivas, evidentemente, mas o respeito é regra número um sempre. Não só por eles mas por todo o fundo do mar. Afinal, nós somos os intrusos quando lá estamos, não é mesmo?
O medo era maior no início. Hoje em dia já entendo como “a banda toca” lá embaixo d’água e te confesso que o medo só bate nos dias em que a água não está tão cristalina como logo após tempestades ou grandes ondulações. Aí a banda já toca meio fora de compasso… 🤣🤣🤣
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LC: A triangulação das ilhas de Maui, Moloka’i e Lana’i forma um canal de águas “mais rasas” onde é possível encontrar baleias Humpbacks durante a temporada de inverno. Como é esta convivência com os humanos na região?
GF: Extremamente respeitosa. As Humpbacks são baleias que se reproduzem e nascem nas águas do Hawai’i, migrando para o Alaska no verão para se alimentarem e de volta pra cá no inverno.
Quando aqui chegam, os jet-skis, por exemplo, são proibidos. Os catamarãs de passeio são rigidamente inspecionados e monitorados pela nada ociosa guarda costeira americana. Diversos órgãos também estudam e monitoram a presença e preservação da espécie nativa. Mas o mais bonito disso tudo é a consciência da população local e que trabalha com esse tipo de turismo. Absolutamente todos que trabalham na indústria fazem questão de proteger de todas as formas possíveis, dando ênfase à educação dos que aqui visitam da importância do respeito às nativas.
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LC: Você é filho de um ex-presidente do Avai, o saudoso Pico Fidelis. Você sente saudades da vida em Floripa? Principalmente dos amigos, família e do Avaí?
GF: Nesses meus 15 anos aqui já tive várias fases de amor, saudade, aversão e entendimento com o meu processo em relação a Floripa.
Sinto uma nostalgia muito grande da Floripa que vivi até 2007 e todas as vezes que volto vejo como muda constantemente.
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Já falei (no passado) abertamente e aos quatro ventos que nunca mais voltaria pra morar. Hoje em dia minha mente é mais aberta a esse assunto e tenho respondido que “nunca é muito tempo”. Tudo em nossa vida pode mudar em questão de segundos né? Voltar a morar em Floripa realmente não está nos planos de um futuro próximo mas se o destino assim quisesse, voltaria tranquilamente, feliz, com muito amor no coração por nossa terra e com bastante vontade de fazer de novo de Floripa a minha casa.
LC: Muita gente em Floripa sente falta da sua musicalidade. Para ver e rever o som do Fidelis, as pessoas devem esperar o retorno do manezinho a Floripa ou precisam pegar um avião até o Hawaii?
GF: Não vou a Floripa com tanta frequência assim mas quando lá estou tento sempre de alguma forma usar a desculpa de uma apresentação pra reunir os conhecidos, colegas e amigos que sempre prestigiaram minha música com o Ribeiro. Evidentemente que não lotamos mais os lugares como há 15 anos atrás mas é muito bom rever pessoas queridas que nem sempre estamos em contato pelas redes sociais mas que mantém o carinho pela gente desde sempre.
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Agora, quem quiser pegar um avião e vir visitar, a casa está aberta e a frequência de shows é quase comparada a frequência de dias lindos por aqui.
Aprecie as fotos de Gu Fidelis na ilha de Maui, no Hawaii.