Maior produtora de maracujá em Santa Catarina, a região Sul enfrenta um inimigo na lavoura por mais um ano consecutivo. O vírus que causa endurecimento dos frutos do maracujazeiro (CabMV), detectado na região pela primeira vez em 2016, reduz a produtividade e a qualidade dos frutos. Em alguns casos, o fruticultor pode perder todo o pomar. De acordo com a Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina (Epagri), no ano passado o prejuízo aos produtores foi de pelo menos R$ 4 milhões. Dos cerca de 2 mil hectares cultivados em Santa Catarina, 1,6 mil estão na região de Araranguá, com maior concentração nas cidades de Sombrio e São João do Sul. A produtividade em uma área livre da doença fica entre 20 e 25 toneladas por hectare, o que gera uma renda bruta estimada em R$ 50 milhões aos agricultores.

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A virose é transmitida por um pulgão, inseto que suga a seiva das folhas. Com um pé contaminado, a doença pode se espalhar rapidamente por contato conforme é realizado o manejo das plantas, inclusive por meio das ferramentas utilizadas na poda, por exemplo.

— Nessa safra, mais uma vez teremos perdas na lavoura, porque ainda temos uns 30% da área sendo cultivado o maracujá de dois anos, quando nossa recomendação é para ter apenas uma safra. Para enfrentarmos essa virose, realizamos diversas capacitações aos agricultores, produtores de mudas e compradores da fruta — explica o gerente regional da Epagri Araranguá, Reginaldo Ghellere.

A expectativa é que na próxima safra todos os produtores adotem as quatro medidas sugeridas pela Epagri para diminuir a incidência da doença. O cuidado começa pela produção de mudas, em viveiros protegidos onde o pulgão não entra, e que essas plantas sejam levadas a campo já maiores, com no mínimo 70 centímetros. Os pomares também devem estar protegidos com quebra vento, e caso algum sintoma seja detectado na folha, a planta tem que ser erradicada imediatamente. Por último, a Epagri recomenda um vazio sanitário ao final da safra, eliminando todas as plantas vivas no período de 15 de julho a 15 de agosto.

— Se todos fizessem isso, a gente conseguiria reduzir bastante a infestação na região e com isso manter essa cultura, que remunera bem os produtores de áreas pequenas. Aqueles que mantiveram o maracujá de segundo ano serão bem prejudicados. Nossa fruta sempre foi muito conhecida pela qualidade, brilho, tamanho e tem começado a aparecer no mercado frutas não tão boas. Nosso maracujá é reconhecido nacionalmente e não podemos perder esse reconhecimento quando temos técnicas para enfrentar essa doença — alerta Ghellere.

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Perda de mais de 50% em uma das lavouras


Em um dos pomares na propriedade de Jairo Borges Elias, o que se vê são maracujás menores, com a casca grossa, manchada e sem brilho, e polpa seca. Quase todas as plantas com dois anos ou mais estão infectadas, por isso a produção vai ser 53% menor do que a do ano passado. Elias estima que se em 2017 conseguiu colher 5,3 mil caixas, neste o volume deve chegar a no máximo 2,5 mil caixas. 

— Alguns vizinhos não quiseram tirar a planta, e pela proximidade, a minha plantação poderia contaminar também, então não mexi. Porém me arrependi, se tivesse plantado novo, com certeza seria bem melhor. Na outra lavoura a produção vai ser boa — comenta o produtor.

Esse é o terceiro ano que Elias cultiva maracujá, e por causa desses 1,5 mil pés contaminados, o lucro vai ser pequeno. Ele espera minimizar os prejuízos a partir do que for colhido em outra área da propriedade onde há plantas mais novas e livres da doença.


Bons exemplos e ganho no preço

Para quem se preveniu e plantou novas mudas, a expectativa é de uma boa safra. A colheita já começou em algumas propriedades e vai até a metade do ano. Edinei Marcelo Bendo, atacadista e produtor, relembra que no ano passado a caixa chegou a ser vendida a R$ 12, em média, bem abaixo do esperado. Como o ponto alto da safra deste ano ainda não chegou, alguns produtores têm vendido a caixa a R$ 20, mas o preço ainda pode melhorar. 

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— A expectativa é de uma grande safra e de bastante produção, uma qualidade melhor da fruta, pois no ano passado a gente perdeu preço e acabou mandando muita fruta para a indústria. Neste ano plantamos mudas novas, a recomendação da Epagri foi seguida e acredito que dará mais qualidade. A gente vai vender 70% para o mercado, que é o carro-chefe, e 30% para a indústria.

Ele erradicou as lavouras antigas para evitar o vírus na propriedade e deu certo. O produtor reforça que é cada vez mais imprescindível fazer o manejo correto, plantar mudas novas e, assim, assegurar fruta de qualidade.

Responsável por 80% da produção catarinense de maracujá, o Sul do Estado espera manter esse mesmo patamar e as plantações livres do doenças

EM NÚMEROS

– O Brasil é o maior produtor e consumidor mundial de maracujá, produzindo cerca de 1 milhão de toneladas ao ano.
– A produtividade média de 14 toneladas por hectare/ano é considerada baixa pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), já que alguns produtores conseguem colher acima de 50 toneladas quando adotam cultivares melhoradas geneticamente e tecnologias.
– Santa Catarina produz em torno de 2 mil hectares da fruta, sendo que 1,6 mil estão concentrados na região Sul do Estado.

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– A produtividade na região é melhor do que a média nacional, e gira em torno de 20 a 25 toneladas por hectare.
– Estima-se que a receita bruta gerada com a venda da fruta, paga aos produtores da região Sul de SC, gire em torno de R$ 50 milhões ao ano.
– A virose do endurecimento do fruto provocou perda de pelo menos R$ 4 milhões aos produtores na última safra.

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