Por Renan Medeiros, interino*

Mais de seis meses após o encerramento das atividades do frigorífico da JBS em Morro Grande, no Extremo Sul de Santa Catarina, a população desempregada do município já perdeu a última fonte de renda que restava: o seguro-desemprego.

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Para piorar, Morro Grande é um dos municípios da região que decretou situação de emergência por causa do desabastecimento decorrente da paralisação dos caminhoneiros.

As lideranças políticas da cidade de menos de 3 mil habitantes procuram uma nova empresa para se instalar e oferecer trabalho aos moradores, mas até agora não há solução alguma para o curto prazo.

Entre novembro e dezembro do ano passado, 189 dos mais de 400 trabalhadores de Morro Grande que foram demitidos solicitaram entrada no auxílio.

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Com isso, o volume de recursos federais destinados ao seguro-desemprego para Morro Grande saltou de R$ 10 mil em novembro para R$ 221 mil em dezembro e R$ 240 mil em janeiro, valor que se manteve constante até abril, quando encerrou o benefício para mais da metade dos trabalhadores. A outra parte recebeu a última parcela em maio. Agora, quase ninguém mais tem direito ao seguro.

Depois dos ex-funcionários, os primeiros a sentir o efeito da demissão em massa foram os comerciantes. Farmácias, lojas e mercados tiveram redução drásticas nas vendas, e alguns não tiveram escolha a não ser fechar as portas.

Em frente à unidade da JBS, um restaurante que estava sempre lotado ao atender aos mais de 700 trabalhadores agora fica fazia na maior parte do tempo.

— Antes, nós colocávamos as mesas na rua para atender a todos. Hoje, às vezes, vêm duas ou três pessoas durante toda a tarde. Fica tudo às moscas, a hora não passa — conta a responsável pelo estabelecimento, Dulceleia Barabas.

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Segundo a JBS a decisão de encerrar o abate na unidade foi tomada em função da “otimização e racionalização da malha produtiva” da empresa. Alguns dos funcionários foram transferidos para fábricas em municípios vizinhos.

De acordo com o prefeito, Valdionir Rocha, o fim da última fonte de renda de boa parte dos moradores fez a prefeitura se tornar um local para a qual os desempregados recorrem na esperança de encontrar algum serviço.

— Existe um prejuízo econômico muito grande. A partir de 2019, vamos perder cerca de R$ 250 mil a R$ 280 mil de receita. Mas o pior prejuízo é o social, é esse que nos tira o sono. Recebo no meu gabinete muitas famílias desesperadas. Muitas delas têm casas alugadas, outras financiaram uma moradia, um carro — relata o prefeito.

Investidores estrangeiros têm interesse na fábrica

O prefeito diz já ter recebido contato de interessados em investir em Morro Grande, seja comprando a unidade da JBS ou construindo em outro local. Para facilitar, o Município oferece um apoio generoso, com a doação do terreno e a preparação de toda a infraestrutura necessária para que futura empresa opere.

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— Já fomos procurados por um pessoal de Cuba, da China, da Armênia, de Israel e também aqui do país. Mas a JBS continua batendo na tecla de que não vende para não abrir espaço para um concorrente e manter o monopólio — critica o prefeito. — A solução mais próxima é construir uma nova planta com um desses grupos de investidores. O local já está definido e é ideal para aproveitar a mão de obra, o fluxo de água que temos e acesso à energia elétrica.

A JBS informou que está aberta a negociações para venda da unidade de Morro Grande desde que decidiu pelo encerramento das atividades de abate na planta.

Em outra frente de trabalho, a Administração Municipal tenta reverter judicialmente o fechamento do frigorífico. O argumento é que houve subsídios para que a Tramonto Agroindustrial se instalasse no local. Em 2014, a empresa adquiriu o frigorífico para a JBS, que encerrou as atividades três anos depois, antes mesmo de concluir o pagamento à Tramonto, que hoje está em processo de recuperação judicial.

Mas os moradores desempregados não podem mais esperar. O casal Carine Nascimento e João Cerqueira, pais de uma menina de nove anos, ambos demitidos da JBS, já procuram emprego em outras cidades, assim como os vizinhos.

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— Não podemos sair daqui porque temos a nossa casa própria. Nossos gastos são todos muito bem controlados. Estamos em busca de um trabalho com horário que facilite o transporte para todos. Nós não vamos esperar, não — diz Carine.