A mortalidade das toninhas, pequenos golfinhos que vivem na costa leste da América do Sul, tem chamado a atenção dos pesquisadores. Em Santa Catarina, a equipe do Projeto de Monitoramento de Praias da Bacia de Santos (PMP-BS), com a Universidade do Estado de Santa Catarina (Udesc), já recolheu 11 animais sem vida de janeiro a março deste ano entre Laguna e Imbituba. Desde o início da pesquisa, em agosto de 2015, já foram mais de 570 toninhas encontradas em todo o Estado.

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A estimativa é que cerca de 20 mil animais circulem entre SC e RS em uma área de 120 quilômetros, população que tem sofrido baixas expressivas, inclusive de fêmeas em período reprodutivo. Esse golfinho é a única espécie de pequeno cetáceo ameaçada de desaparecer das águas brasileiras, segundo a Lista Oficial das Espécies da Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção. 

O que preocupa é que os dados dizem respeito aos animais que chegam à costa, por isso o número de perdas deve ser superior.

– Pode ser maior porque aqueles que morrem em alto mar e ficam lá a gente desconhece. Estamos tentando cruzar dados com o Projeto Toninhas da Univille e outras parceiras. À medida que investigamos o tamanho populacional por sobrevoo, por exemplo, consegue-se ter um valor mais realista – explica Pedro de Castilho, coordenador do Projeto Toninhas em Laguna.

 causa da morte pode estar relacionada a doenças, envelhecimento natural ou outros fatores, porém boa parte dos indivíduos encontrados apresentam lesões. Além de marcas por interação com redes de pesca, muitas toninhas estão mutiladas, com parte da causa cortada, das nadadeiras ou de outras partes do corpo. Por instinto, os animais se aproximam das redes para se alimentar, e ao ficarem presos, acabam feridos pelos pescadores.

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– A rede é uma delas, não necessariamente a única. Vários agentes que interferem na mortalidade. Temos dados que demonstram interações negativas com parasitas, contaminantes, poluentes. A toninha não é a espécie alvo da pesca, é um organismo que interage no mesmo espaço do pescador. Ela também está pescando, então a gente tem de alguma forma trabalhar nesse equilíbrio entre a atividade produtiva e a preservação – salienta o pesquisador.

Cerca de 70% pode ser relacionado à pesca

Dos animais encontrados sem vida nos últimos meses na região de Laguna e Imbituba, pelo menos três apresentavam mutilações. O médico veterinário do Projeto Toninhas, Eduardo Macagnan, afirma que o caso mais grave foi de um animal com o ventre aberto. Essa tática é utilizada para que a água entre no animal e ele vá para o fundo, diminuindo as chances de aparecer na praia. A prática é preocupante.

– Em sua maioria, as toninhas que chegam na nossa base para necropsia têm alguma interação com pesca, com marca de rede. Em torno de 70% dos animais têm algum sinal que pode ser relacionado com essa atividade. Com o objetivo de não perder as redes, eles acabam matando o animal – comenta Macagnan.

Os últimos dois animais encontrados na orla, nos dias 16 e 18 de março, são fêmeas, o que preocupa ainda mais os pesquisadores. Quando elas morrem antes de entrar no período de reprodução, que ocorre dos 4 aos 6 anos, não conseguem deixar filhotes para aumentar a população, o que pode criar um desequilíbrio.

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– Eu considero perigo de extinção, sim, porque o número de mortes que registrado nos últimos anos tem se mantido semelhante – analisa Pedro Volkmer.
 

Consientização

Na APA da Baleia Franca, um dos trabalhos em andamento é o diálogo com lideranças locais e grupos de pescadores para buscar o equilíbrio entre a atividade pesqueira e a vida dos animais. Uma equipe do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) visitou recentemente o Projeto Toninhas em Laguna e quer avançar nas ações dirigidas à conservação desses cetáceos.

Sem políticas específicas nesse sentido, a Fundação de Meio Ambiente (Fatma) explica que nos próximos dias inaugura a ampliação no Centro de Triagem de Animais Silvestres (Cetas) localizado no Parque do Rio Vermelho. Com a obra, o local se tornará referência no atendimento a animais marinhos, o que pode ajudar na recuperação de diversas espécies.

Ibama e Polícia Militar Ambiental também foram procurados para falar sobre a preservação das toninhas, mas não se manifestaram sobre o assunto.

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