Por Renan Medeiros, interino*
Duas mulheres suspeitas de falsificar exames toxicológicos foram presas na manhã desta terça-feira (22) em Criciúma. As prisões temporárias foram resultado de cinco meses de investigação do Grupo de Atuação Especial de Combate às Organizações Criminosas (Gaeco). Os exames eram utilizados principalmente para que motoristas de caminhão pudessem renovar a carteira nacional de habilitação sem que o uso de drogas fosse detectado.
Continua depois da publicidade
A operação Falso Negativo, como foi chamada, cumpriu mandados de busca e apreensão nas casas das mulheres e no laboratório onde uma delas trabalhava. De acordo com o promotor Gustavo Wiggers, titular da 10ª Promotoria de Justiça de Criciúma e coordenador do Gaeco na cidade, a técnica de laboratório, de 53 anos, prospectava interessados em fraudar o exame e encaminhava para análise amostras de cabelo de outras pessoas como se fossem do cliente.
Leia mais notícias da região Sul
O exame era realizado em São Paulo, e a empresa de Criciúma fazia apenas a coleta do material biológico. O Ministério Público vai recomendar ao Detran o descredenciamento do laboratório.
Continua depois da publicidade
— Nós temos a confirmação de que ao menos 40 pessoas solicitaram o exame fraudado. Aqui na região, os laboratórios cobram em torno de R$ 250 para fazer este serviço. Ela cobrava mais de R$ 1.200 para fraudar. Repassava os R$ 250 ao laboratório e ficava com o resto — detalhou o promotor.
Wiggers acredita que, além da renovação da CNH, a análise era fraudada também para ajudar aprovados em concurso público e funcionários de empresas que precisavam comprovar a abstinência de drogas.
Cabelo era colhido em salão de beleza
A outra mulher presa temporariamente tem 28 anos e é sobrinha da técnica de laboratório, mas não tinha nenhuma relação com a empresa. A investigação concluiu que a função dela era auxiliar a tia colhendo cabelo de outras pessoas em um salão de beleza e emprestando a conta bancária para receber pagamentos. Os materiais foram encontrados nas casas das duas investigadas.
— A reação delas ao serem presas, inicialmente, foi mentir. Mas depois já admitiram que fraudavam os exames. Ainda vamos ouvi-las e acreditamos que vão colaborar — afirmou o delegado Airton Ferreira, que também coordenou a operação. Segundo ele, as prisões estavam planejadas para a semana que vem, mas o Gaeco decidiu antecipar para evitar que novas fraudes fossem cometidas.
Continua depois da publicidade
expectativa do promotor e do delegado é que as mulheres informem os nomes dos “clientes”. Estes poderão ser indiciados por falsidade ideológica.
— Já temos alguns suspeitos. São moradores de cidades como Braço do Norte, Araranguá, Tubarão, que não teriam motivo para vir até Criciúma fazer o exame, já que eles tinham a opção de ir a laboratórios credenciados perto de casa — acrescentou o delegado.
O próximo passo será apurar se os responsáveis pelo laboratório tinham conhecimento das fraudes. De acordo com os investigadores, não há suspeita de envolvimento de funcionários do Detran. O órgão estadual de trânsito colaborou no início das investigações.
As mulheres que foram presas podem ser indiciadas por falsidade ideológica e associação criminosa, caso seja comprovada a participação de ao menos mais uma pessoa.
Continua depois da publicidade
Saiba mais
Desde 2015, está em vigor no Brasil a “Lei do Caminhoneiro”, que tornou obrigatório o exame toxicológico para obtenção, alteração de categoria, ou renovação da CNH para motoristas de caminhão, carreta e ônibus. As substâncias pesquisadas nos exames são maconha, cocaína, anfetaminas (rebites), metanfetaminas, ecstasy, heroína, morfina, codeína, emproporex, mazindol, oxicodona e anfepramona, além de derivados dessas drogas. O exame é feito a partir de amostras de pelo ou cabelo, já que eles conservam vestígios do uso de entorpecentes por mais tempo do que o sangue ou a urina.
Leia outras publicações de Lariane Cagnini