Desde a barra do Camacho, em Jaguaruna, até a barra do Mampituba, em Passo de Torres, o Museu de Zoologia da Universidade do Extremo Sul Catarinense (Unesc) monitora e ajuda a preservar a vida marinha. Professores e estudantes de biologia acompanham as espécies que vivem no local e ajudam a identificar de que forma a poluição as prejudica. Alguns animais já são encontrados mortos, depois de confundirem algum lixo jogado ao mar com alimento, por exemplo.
Continua depois da publicidade
O trabalho no trecho de 120 quilômetros é feito desde 2003, e uma parceria com a Polícia Ambiental garante que boa parte dos animais encontrados possa ser levada à universidade para análise. Depois disso, uma parte é destinada ao acervo do museu. Na coleção dedicada aos animais marinhos, muitos deles foram encontrados com vestígios de interação com o homem.
— Existem as mortes naturais, mas muitas ocorrem pela ação humana, como no caso de um animal que fica preso em uma rede, não consegue ir à superfície respirar e morre afogado, além de sofrer lesões causadas pelas redes e cordas. No caso de animais maiores, como o lobo-marinho, já houve casos de encontrarmos projéteis de arma no corpo, marcas de agressão e de pauladas — conta o biólogo Rodrigo Ribeiro Freitas, do Museu.
Óleo e esgoto são alguns dos inimigos
As espécies que costumam interagir com as redes de pesca – lobo-marinho, tartaruga, golfinhos, toninhas e pinguins – são as que mais apresentam lesões. Elas são atraídas pela quantidade de peixe concentrada em um único lugar e querem aproveitar a fartura. Em algumas situações os animais de maior porte acabam agredidos pelos pescadores, para que se afastem do cardume.
Continua depois da publicidade
Outra espécie bastante encontrada na região, e que faz parte do acervo, é o pinguim-de-magalhães. A coordenadora do museu, professora Morgana Cirimbelli Gaidzinki, explica que às vezes uma embarcação mal regulada, que libera uma quantidade mínima de óleo na água, já é uma ameaça principalmente às aves. O óleo gruda nas penas e pode dificultar o voo. Em contato com o sol pode causar queimaduras e se ingerido, intoxicar.
— Ao tentar se limpar ele ingere esse óleo e se intoxica. Trabalhamos essas e outras questões. Muitas vezes as pessoas não têm conhecimento de como essas ações podem interferir na vida animal — explica a professora.
As tartarugas marinhas também são vítimas do lixo no oceano. Ao confundir sacolas plásticas com algas, por exemplo, elas as ingerem e o organismo não consegue eliminar. O animal não consegue se alimentar e vai morrendo. Outra descoberta que surpreendeu os pesquisadores foi a quantidade de vermes encontrados em algumas deles, em decorrência da água contaminada de esgoto humano que vai parar no oceano.
Areia é local de descanso para os animais
A equipe do Museu de Zoologia trabalha também no protocolo de encalhes da Área de Proteção Ambiental (APA) da Baleia Franca, que abrange o território costeiro. A cada trecho, uma universidade fica responsável por monitorar as espécies e acompanha a Polícia Ambiental na remoção de animais encontrados mortos na praia, para levá-los a estudo. Quando um deles é achado com vida e precisa de reabilitação, é encaminhado ao Centro de Triagem de Animais Silvestres (Cetas) ou ao projeto Tamar, ambos em Florianópolis.
Continua depois da publicidade
Os técnicos orientam que quando uma pessoa se depara com um animal, deve observar de longe se tem alguma lesão aparente, sem se aproximar. Segundo o comandante da Polícia Militar Ambiental de Maracajá, tenente João Hélio Schneider, é comum que alguns deles se desloquem até a faixa de areia para descansar. A praia é o habitat natural de espécies, e elas fazem essas pausas durante ações migratórias.
A interação com os animais não é recomendada, e muito menos a remoção. A equipe do museu conta já ter sido acionada para recolher pinguins em diversos locais inusitados, até mesmo paradas de ônibus próximo a lagoas e até em casas, dentro do freezer, o que não é recomendado. Se o animal estiver bem, basta deixá-lo descansar. Em caso de dúvida, deve-se entrar em contato com o órgão ambiental do município.
Plástico, corda e tampinhas
Fazer com que orientações sobre o ambiente cheguem a estudantes, inclusive utilizando o acervo para isso, é um dos objetivos do Museu. A cada ano, cerca de 1,5 mil crianças de 45 cidades passam pelo local. A Exposição Impactos, porém, é a que abre o passeio. Os alunos conhecem, por meio de som, luzes e efeitos especiais, ações humanas que ameaçam a vida animal. Queimadas, utilização indiscriminada de agroquímicos, tráfico internacional, caça ilegal e atropelamentos, por exemplo, são abordados de forma interativa.
Durante o passeio, os guias propõem atividades sobre preservação e mostram as coleções que incluem pedaços de corda, redes, tampa de refrigerante, sacolas plásticas, bolinhas e itens do dia a dia que foram retirados no estômago de animais. A intenção é fazer com que eles reflitam sobre aquele canudinho aparentemente inofensivo, que, deixado na areia, pode machucar animais marinhos.
Continua depois da publicidade
Além da exposição, três coleções divididas entre Mata Atlântica, Ecossistema Marinho e Vida Selvagem, com espécies que habitam os principais biomas brasileiros e de outros países, oferecem uma imersão na vida animal. São mais de 1,5 mil deles, conservados, além de esqueletos, como o de uma baleia-de-Bryde de mais de 13 metros. Os professores têm à disposição opções de programas educativos, tornando cada ida ao museu uma experiência diferente.
Tartaruga-verde adoece ao comer sujeira nas algas
A espécie de tartaruga mais impactada por resíduos no oceano é a tartaruga-verde (Chelonia mydas), mais comum no litoral catarinense, pois utiliza a área para alimentação. A dieta dela é baseada em algas, e muitas vezes o lixo fica preso nas plantas e é ingerido acidentalmente, explica o executor técnico do Projeto Tamar Florianópolis, Daniel Rogério.
— Caso o material ingerido seja rígido, pode ocasionar diversas lesões no trato gastrointestinal, desde úlceras até perfurações mais sérias que podem levar ao óbito. Em muitos casos, o lixo se mistura às fezes e resseca, obstruindo o intestino do animal. A tartaruga, então, para de se alimentar e definha. Por estar fraca, o mar a joga para a areia — explica.
A maioria dos animais que chegam para tratamento no Projeto Tamar e não sobrevivem apresenta lixo no conteúdo estomacal ou intestinal. Por meio de programas de educação ambiental a sede de Florianópolis tenta mudar essa situação. O local recebe cerca de 150 mil visitantes por ano e 15 mil alunos.
Continua depois da publicidade
SERVIÇO
O quê: Museu de Zoologia da Universidade do Extremo Sul Catarinense (Unesc)
Onde: Av. Universitária, 1105, bairro Universitário, Criciúma-SC
Contato: telefone (48) 3431.2573
Horário: aberto à visitação de segunda a sexta-feira das 8h às 22h. Aos sábados, das 8h às 17h. Entrada gratuita.