Formado em Engenharia de Produção, Marcos Polla Giassi, 25 anos, decidiu abandonar o mercado de trabalho formal e se dedicar à hidroponia. Ele e o primo Evair Mota Polla, 25, aproveitaram uma área na propriedade rural da avó para empreender, na contramão de quem deixa o campo para viver na cidade. Nos últimos cinco anos, eles e outros 1,8 mil jovens passaram por cursos da Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina (Epagri), que visam manter essa turma no campo.
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Os primos moram em Meleiro, no Sul do Estado, e insatisfeitos com o momento profissional em que se encontravam, resolveram apostar na produção de hortaliças em 2015. Evair foi para Florianópolis para um curso rápido pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), e na prática, os dois colocaram o negócio para funcionar. No ano passado, voltaram para a sala de aula, dessa vez no curso da Epagri em Araranguá. Com incentivo do governo, ampliaram a área da estufa, e hoje colhem 700 pés de alface, rúcula, chicória e agrião por semana.
– Qualificou algumas técnicas de manejo, a questão da administração, planilhas, também melhorou. Hoje estamos tendo um retorno bom, vendemos para mercados, feiras, restaurantes, é a nossa fonte de renda – comentou Marcos.
Desde 2012, quando os cursos para jovens rurais começaram em 13 unidades do Estado, mais de 260 alunos passaram pelos centros de treinamento da região Sul, em Araranguá e Tubarão. A estimativa da Empresa de Pesquisa Agropecuária é que pelo menos 15% dos filhos de agricultores, que deixam o campo em busca de qualificação, retornam para aplicar o que aprenderam.
– A maioria dos jovens foi se capacitar para continuar na atividade rural, mas fazendo diferente, seja na mesma atividade ou em novas opções geradoras de renda – explica o Gerente Regional da Epagri Araranguá, Reginaldo Ghellere.
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Atualização no manejo fez dobrar a produção
O conhecimento no meio rural, que costumava ser passado de pai para filho, também tem sofrido mudanças. Na propriedade da família Zilli, em Meleiro, o plantio do arroz e a produção de leite são desenvolvidos há muitos anos, mas a maneira como isso é feito, evolui.
O filho caçula Gabrel Zilli já vai para o quarto curso de qualificação profissional, e o que aprende na cidade, coloca em prática no campo.
A produção de leite, que em 2015 não chegava a 5 mil litros mês, hoje fica entre 7 e 8 mil litros. O número de animais produzindo não aumentou tanto – de 14 para 16 – mas a maneira de trabalhar fez crescer a produtividade. Alimentação, ordenha mecanizada, tudo influenciou para que o volume dobrasse.
– De lá para cá não parei um ano de fazer cursos. Meus pais são aposentados, mas ainda trabalham um pouco no campo, e hoje vejo meu futuro trabalhando aqui, nessas duas atividades. O pai fazia de um jeito, quando cheguei com as mudanças ele ficou meio desconfiado. Hoje ele é bem mais aberto para as novidades – comenta.
A área do plantio de arroz não foi ampliada, mas o investimento em tecnologia e em conhecimento também tem feito diferença. O clima ainda é o fator mais importante nessa cultura, segundo Zilli, mas é possível prover melhor os recursos com mudanças no manejo. Uma área trabalhada com menos agrotóxico, adubos, que passa por uma análise de solo anterior ao plantio, por exemplo, rende mais.
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Mais 390 capacitados até o fim do ano
Nos centros de treinamento pelo Estado, mais 390 alunos irão concluir a capacitação até o final do ano. Em Araranguá, no curso de horticultura, um índice positivo chamou a atenção da coordenadora Lidiane Camargo. Quase metade – 16 dos 35 inscritos – são mulheres, uma tendência que também tem surgido nos últimos anos.
Na sétima turma a estudar no centro da Epagri no extremo Sul do Estado, há lista de espera para a formação em hortaliças e frutas.
Na avaliação dos especialistas, é mais um indicativo de que a vida no campo e o trabalho no meio rural têm atraído cada vez mais interessados.