Bastaram uns poucos dias de descanso pra que eu pudesse reconfirmar: a melhor viagem é aquela que fazemos pra dentro da gente. E a minha, desta vez, foi guiada por duas figuras lindas que a vida me trouxe – sem eu sequer esperar ou planejar. Pode-se aqui falar em acaso, mas eu prefiro apostar na vibração: saímos de casa, meu marido e eu, com tanta vontade de uma reconexão com o essencial da vida e vibrando tanto nesta direção, que assim foi – ou até mais que isso. Nosso destino? Os cânions no Rio Grande do Sul – convite irrecusável, vindo de um grande amigo. Só não sabíamos que ele tinha incluído neste “pacote” uma, ou várias paradas, num pequeno sítio onde residem o que chamo de “a verdadeira alma” de toda a nossa aventura…
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Energia boa
Foram quilômetros até chegar em São Francisco de Paula, uma pequena cidade no interior do Rio Grande do Sul. Chovia muito e, depois de um bom tempo percorrendo estrada de chão, a impressão que tínhamos era que as próximas horas seriam de banho e cama. Só que não: numa casa que parece de boneca, cercada por muito verde, flores, plantas e plantações, fomos recepcionados por dona Telva e seu Ilgo, pais de nosso amigo Hélio, com um sorrisão no rosto e um abraço daqueles de “esmagar”. Era fim de tarde, mas nosso dia estava apenas começando, com tanta energia boa. Não precisou muito para engatarmos numa longa conversa: ele, aos 86 anos, com histórias regadas ao inseparável chimarrão e muita sabedoria. A esposa, lá na cozinha, com a corda toda, encantando com seus causos, preparando a comidinha mais incrível dos últimos tempos: pão caseiro, cuca, mel, melado, doces (tudo feito por ela) com leite direto da vaca, aquecido num fogão à lenha. E nós ali, tão urbanos, impressionados com tudo aquilo.
Mestres da vida!
Nosso breve passeio foi intenso em tudo: a isso chamo lazer com qualidade! Os caminhos, sempre cercados de muitas, muitas hortênsias, nos levaram a cachoeiras e cânions incríveis e revigorantes. Mas nada se compara às lições que tivemos com estes dois que acabam de completar 65 anos de casados. Eles decidiram sair de Porto Alegre e se mudar para ali 40 anos atrás, quando seu Ilgo estava se aposentando e “quase morrendo de tanto estresse”, diz a esposa. “A vida do ter que produzir, ter que apresentar resultados, ter que impressionar os outros pra ser alguém, por pouco não me matou. Escolhemos o interior pra resgatar o nosso interior. De lá pra cá, aprendemos a cultivar o simples e o essencial: o estar e ser presente, o olhar nos olhos”, conta o marido. Aliás, chorei quando vi os dois se dando bom dia: ela, bem miúda, agarrada a ele, num abraço apertado e demorado. Também me emocionou a vitalidade de dona Telva, que se formou como produtora ecológica: ela não para, muito menos pra reclamar de qualquer coisa – sempre pra cima, no positivo, no sorriso. Leitora ávida, cercada de livros, ela dá conta da casa, das ovelhas, do herbário, das hortas, da produção de suco de uva orgânico. O segredo dela? “Eu amo o simples, minha filha. Pra que complicar, né? A vida boa ou má é a gente que faz. Eu fico com o que ela tem de melhor”, diz. Voltamos pra casa reforçando essa mesma escolha: o lado melhor! E nos comprometendo retornar mais vezes ao simples – nossos professores aí são prova de que nele reside o que há de mais fantástico na vida. Gratidão, queridos!
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