“Berçário da Esperança – Transformando Covas em Berços”, novo documentário produzido em Joinville, foi lançado nesta terça-feira (17). O filme conta a história da professora Silvane Silva, que há quase duas décadas une literatura e natureza para educar de forma afetiva. O título remete à sua experiência mais recente, a do Berçário da Esperança, projeto desenvolvido dentro do Instituto Priscila Zanette (IPZ) entre 2015 e 2019 e que atendeu 800 crianças.

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Como professora cedida pela Secretaria da Educação para a Organização Social sem Fins Lucrativos que oferece atividades extracurriculares para crianças de baixa renda e em situação de vulnerabilidade social, ela viu seus alunos chamarem o espaço destinado à horta de “cemitério”.

— Diferente dos outros espaços, esse não era tão bem cuidado. Eram terrenos baldios em volta de uma quadra. No meio desse mato todo tinham covas. “Tipo assim, sepulturas”, eles diziam — conta Silvane.

Enquanto desenvolvia as aulas de reforço escolar para a qual havia sido designada dentro do projeto, ela ressignificou o local de cultivo. “Que tal se transformarmos as covas em berços?”, sugeriu. Com isso, explicou que a terra não era sujeira e, mais do que isso, era especial por abrigar o germinar de milhares de vidas. Ao mesmo tempo, estimulava o aprendizado unindo a literatura às atividades cotidianas — sem pressão para que cumprissem o período de leitura e com a liberdade para que escolhessem onde e como gostariam de conhecer as novas histórias. Assim, uma biblioteca sem muros foi criada, onde era possível ler sentado embaixo de uma árvore, deitado no gramado ou em uma mesa no meio das hortas criadas pelas próprias crianças.

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Foi assim que nasceu o Berçário da Esperança, e fez nascer mais de 70 hortas e até um jardim em formato de mandala no espaço que o IPZ ocupava no Kartódromo de Joinville. O local recebeu a visita de escritores e especialistas em educação, e foi surpreendido pela ação até mesmo daqueles que não conheciam o projeto de perto. Ao buscar uma forma de criar um acervo para esta “biblioteca verde”, Silvane decidiu escrever cartas para escritores brasileiros de poesia e de literatura infantojuvenil.

— O meu acervo de livros foi esgotando e já não havia mais histórias e lendas do meu repertório que eles não conhecessem. Para nossa surpresa, recebemos mais de 1 mil livros. A grande maioria autografada pelos próprios escritores. As crianças abriam os envelopes, deslizavam a mão em cima do endereço escrito pelo próprio escritor, e crescia ainda mais a admiração por estes escritores — recorda a professora.

Onde começava a “nova Terra”

O documentário também passa pela semente que possibilitou a existência do Berçário da Esperança: a época em que Silvane atuou como diretora na Escola Municipal Hermann Muller, no bairro Rio Bonito, em Pirabeiraba. Entre 2004 e 2014, ela esteve à frente da escola rural que, quando ela chegou, possuía duas salas de aula e um quintal formado por brita. Lá, ela começou a desenvolver este projeto de educação afetiva, e conseguiu levar a comunidade para dentro da instituição de ensino, para criar um sentimento de pertencimento não só entre os alunos, mas também entre as famílias deles. Após visitá-la, o filósofo Leonardo Boff escreveu que havia conhecido o lugar “onde começava a nova Terra”.

O documentário “Berçário da Esperança” foi um projeto desenvolvido pela atriz e produtora cultural Juliana Yara Araújo. O roteiro é do escritor Jura Arruda, com Silvane e Juliana colaborando como co-roteiristas. A produção e direção é de André Bittencourt e a trilha sonora foi desenvolvida pelos músicos joinvilenses Júnior Salves e André Steuernaguel. A produção executiva é de Juliana e Jonas Raitz. O desenvolvimento da produção foi possível após ser contemplado pelo Mecenato Municipal do Sistema Municipal de Desenvolvimento pela Cultura (Simdec) da Secretaria de Cultura e Turismo (Secult), da Prefeitura de Joinville.

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