A venda da SAF do Cruzeiro no último final de semana talvez seja o empurrão que faltava para uma corrida dos clubes num mercado que ainda não se sabe realmente se existe. Está aberta a temporada de caça aos possíveis compradores/investidores.
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Já são vários os clubes que estudam ou já têm encaminhados projetos de criação das suas Sociedades Anônimas do Futebol. Vasco, Botafogo, América-MG, Coritiba, Athletico-PR… todos parecem estar no mesmo caminho do Cruzeiro.
Aqui em Santa Catarina, o Joinville já está num processo mais adiantado, decidindo pela venda de 90% da sua SAF, e o Figueirense já tem aprovação do Conselho Deliberativo para a criação da sua sociedade anônima.
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Mas afinal, com base no negócio feito no Cruzeiro – um investimento de R$ 400 milhões –, quanto valeria no mercado a futura SAF do Figueirense? Difícil estimar, mas fui atrás de dois amigos especialistas em finanças no futebol para tratar do assunto. As ponderações do economista César Grafietti e do jornalista Rodrigo Capelo vão fazer o torcedor pensar.
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César Grafietti é economista, consultor em gestão e finanças do esporte

Precisamos neste momento tomar cuidado com a euforia que uma operação como esta envolvendo o Ronaldo gera. Sabemos que ele aportará R$ 400 milhões na SAF ao longo dos próximos anos, mas isto não significa que ele pagou R$ 400 milhões pelo clube. Isto é investimento que ele fará na empresa que comprou. A aquisição do Cruzeiro pelo Ronaldo não foi a chegada de um investidor internacional e sim a presença de um grande nome do futebol, mas que tem vínculo com o clube comprado. Tende a ser um impulsionador do movimento de aquisições de clubes no Brasil, mas está longe de ser um exemplo do que teremos daqui em diante.
Assim, e até pela história recente do Figueirense, é preciso cautela na expectativa. Aparentemente, o que podemos dizer é que hoje os clubes não valem mais que sua dívida, e ainda assim há que se considerar qual o tamanho da dívida em relação à possibilidade de redução numa reestruturação e seu tamanho em relação às receitas.
Acho que o Figueirense precisa cuidar melhor do processo. Tendo passado por uma experiência ruim, onde faltou maturidade e uma boa assessoria para definir regras de governança e preservação do clube, o clube não tem mais o direito de errar.
Mas isso também faz parte da transparência necessária num processo envolvendo clubes de futebol. Não é como vender uma empresa que produz molho de tomates. O “consumidor” tem outra característica, envolve paixão e precisa de mais informações que aquele que compra o molho pelo preço. O mercado terá que estabelecer essas condições.
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Rodrigo Capelo é jornalista especializado em negócios do esporte

Primeiro, precisamos evitar a afirmação “o Cruzeiro foi comprado por R$ 400 milhões”. Como estamos falando da migração do futebol de uma associação para uma empresa, o processo é um pouco mais complexo. Ronaldo prevê investir esse montante na empresa ao longo dos próximos anos, o que é diferente de investir este valor na compra do ativo, de entregar esta quantia na mão do antigo proprietário. Ainda precisamos de mais informações para termos certeza, mas eu não diria, agora, que este é o valor do Cruzeiro SAF.
Valuation de clubes de futebol, ou seja, identificar o valor de mercado desses ativos para um eventual mercado de compras e vendas, é um dos grandes assuntos para o futebol brasileiro a partir de 2022. Em teoria, existem várias técnicas: “fluxo de caixa descontado”, com base em ações de empresas listadas, usando múltiplos de receitas, modelo Markham. O mercado costuma se valer de uma combinação dessas técnicas para chegar ao valor de um clube. Não tenho condições de precificar o Figueirense, mas este é o caminho.