Unanimidade na chegada à Seleção Brasileira, em 2016, treinador passou a ser questionado pelo rendimento da equipe após o bom futebol jogado pelo Flamengo
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Tostão escreveu recentemente que os 7 a 1 de 2014 tinham sido uma chance para o futebol brasileiro se reconstruir, dentro e fora de campo. E que o Flamengo deste ano, com o ápice simbolizado nos 5 a 0 sobre o Grêmio, na Libertadores, era uma segunda chance. Na sexta-feira imediatamente após os 5 a 0, Tite convocou a Seleção Brasileira para os últimos amistosos do ano, que ocorrem neste mês. A coletiva, logo após a convocação, teve um assunto principal: o Flamengo e o futebol que apresenta nos jogos do Campeonato Brasileiro e na Libertadores da América.
O que Tite talvez não esteja enxergando é que todas aquelas perguntas sobre o Flamengo significam uma pressão a mais para ele. Por um simples fato: atualmente a Seleção não joga a bola que o Flamengo joga. Pior do que isto, a Seleção sob o comando de Tite teve apenas um momento de dar gosto realmente.
Aliás, na mesma coletiva, Tite foi perguntado “se a Seleção conseguiria jogar como o Flamengo?”. Despejou um caminhão de números estatísticos sobre a média de troca de passes, posse de bola, e gols marcados da Seleção.
EM 2016, CERTEZA E ESPERANÇA
O treinador não percebeu que a pergunta escondia uma definição, que é certeza da maioria, e vai além das estatísticas que estão sempre no bolso nos momentos de maior aperto: a certeza de que ninguém viu a Seleção jogar, sob o comando de Tite, com tamanha fome de bola, agressividade, e, acima de tudo, coragem, como o Flamengo atual. Um futebol que dá gosto, que todo mundo gosta de ver.
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Quando chegou à Seleção, logo depois da Olimpíada do Rio de Janeiro, em 2016, Tite era unanimidade. Era o técnico campeão brasileiro de 2015 e a “bola da vez” para reverter um cenário de desastre criado por Dunga. O caos era enorme. Em seis jogos pelas Eliminatórias da Copa do Mundo da Rússia, com Dunga, a Seleção havia feito apenas nove pontos. O risco era enorme. Tite chegou como salvador do orgulho nacional. E correspondeu.
De largada, um time com cara de jogo coletivo, mais organizado e sem jogar o terrível “Neymarbol” da época anterior, com Dunga. A estreia era um jogo considerado muito difícil contra o Equador, então líder das Eliminatórias, fora de casa. Vitória de 3 a 0, com show de uma das novidades do time, o atacante Gabriel Jesus.
Daí em diante foram nove vitórias consecutivas, com direito a goleadas sobre Argentina com Messi (3 a 0) e Uruguai com Cavani e Suarez (4 a 1), e classificação antecipada para a Copa do Mundo de 2018. Tudo funcionou. O futebol era bonito, agressivo, até encantador, em muitos momentos. Havia confiança de que o futebol do Brasil estava resgatado e iria fortíssimo para o Mundial.
O que Tite talvez não esteja enxergando é que todas aquelas perguntas sobre o Flamengo significam uma pressão a mais para ele. Por um simples fato: atualmente a Seleção não joga a bola que o Flamengo joga.
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O encanto acabou com a chegada da Copa do Mundo

Gabriel Jesus se machucou no segundo semestre de 2017, já na Inglaterra, no Manchester City; Neymar, no primeiro semestre de 2018; Daniel Alves, às vésperas da Copa da Rússia. Tite efetivamente perdeu somente um deles para o Mundial. Jesus e Neymar ficaram à disposição, mas não estavam 100%. O cenário pedia ação rápida. Nada seria como nas Eliminatórias.
Na Copa do Mundo o time não funcionou. E o técnico que encontrava soluções e havia chegado como salvador não conseguiu achar novos caminhos. O extracampo também não foi bom. Neymar estreou mais preocupado com os cabelos, no empate com a Suíça. Gabriel Jesus estava em péssima fase. E Tite não controlava Neymar, que fazia o que queria em campo, até virar meme mundialmente, e insistia com Gabriel Jesus. A Copa se foi sem nenhuma atuação convincente do Brasil.
Tite permaneceu, mas já não é mais o mesmo e nem tem o mesmo apoio popular. O discurso se tornou enfadonho, com explicações intermináveis sobre situações em que uma ação efetiva seria mais simples, como ter comando real sobre o camisa 10 da Seleção. Tite abriu 2019 mostrando a face mais conservadora. Resolveu não experimentar nada, para não arriscar o cargo na Copa América.
Mesmo com novos talentos surgindo, o time base da Copa América tinha poucas novidades. Ganhou o torneio sem Neymar e com Everton Cebolinha como grande destaque – um exemplo de que os novos estavam pedindo a vez. O atacante do Grêmio, que só virou titular durante o torneio, simbolizava a necessidade de arriscar mais.
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Que nada! A escalação que entrou em campo nos amistosos recentes ainda tinha a mesma cara, com Cebolinha no banco e com o olhar voltado para o passado e não para o futuro da Seleção. Seguia com atletas como Daniel Alves e Thiago Silva, que provavelmente não vão estar no Catar, em 2022. As atuações entre setembro e outubro foram um tédio.
Em 2020 começam as Eliminatórias e já não há mais a mesma certeza de que Tite vai emplacar o próximo Mundial. A impressão que dá, vendo o Flamengo de Jorge Jesus, é de que o futebol brasileiro deu alguns passos para frente, no caminho de novidades e reconstrução, como disse Tostão. Enquanto Tite ficou parado em 2017 e ainda acumulou desgastes. E na dúvida entre ver um jogo do time de Jorge Jesus e do time de Tite, ninguém pensará duas vezes.