Meu pai havia colocado bandeiras verde-amarelas nos quatro cantos da casa. Estava agitado com algo que o deixava muito empolgado e que eu ainda não entendia muito bem o que era. O ano era 1982. Morávamos em Capoeiras, no continente, em Florianópolis. Meu pai tinha 37 anos e eu era um menino de 9 anos de idade, que havia começado a acompanhar jogos de futebol no ano anterior, 1981.
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Mas entramos, eu e meus irmãos, naquele clima, naquela festa com ele. Era meu primeiro contato real com a tal da “Copa do Mundo”, que naquela época ainda reunia 24 seleções – em contraste com as 32 atuais – durante um mês. O torneio seria disputado na Espanha e havia uma atmosfera muito positiva em torno do time comandado por Telê Santana.
Afinal de contas, a Seleção era cheia de craques, como Zico, Falcão, Sócrates e Júnior e o Flamengo era o atual time campeão do mundo. Lembro de ingenuamente ter perguntado ao meu pai o que era a “Seleção”? Ele me respondeu que era um time que reunia todos os melhores jogadores dos clubes do país (naquele time somente Falcão e Dirceu jogavam fora do Brasil). E eu lembro de ter falado pra ele com espanto: “O quê? Quer dizer que tem um time que pode juntar Zico, Dinamite, Sócrates, Éder? Esse time não vai perder nunca, pai…”. Ele deu muitas risadas.

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Curiosamente tenho uma vaga recordação de 1978, quando ainda tinha cinco anos. Hoje sei que era o jogo entre Argentina x Brasil – a famosa “Batalha de Rosário” que terminou 0 x 0 e que praticamente determinou a sequência das duas seleções naquela Copa, porque depois a Argentina passou (do jeito que passou) por cima da seleção peruana e foi pra final, enquanto o Brasil seguiu para a decisão de terceiro e quarto.
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Minha recordação é de pensar “que coisa chata”. Estavam todos reunidos – meu pai e meu avô juntos com o restante da família. Ficaram ali duas horas na frente da TV. Eu, meus irmãos, e alguns primos não queríamos nada com futebol e fomos para o quarto brincar. Quando chegávamos perto da sala percebíamos todos nervosos e ouvíamos aquela frase: “vão pro quarto brincar!”.
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Mas em 1982 foi diferente. Lembro que assistia aos jogos do meio-dia almoçando, já arrumado para ir para o colégio – estudava no Nossa Sra. de Fátima, ali perto de casa. O mais engraçado foi quando estavam jogando Peru x Camarões, num grupo que também tinha a Itália. Impossível não fazer as piadinhas sobre a relação com o horário do almoço e o nome dos países que se enfrentavam.
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Com a Seleção em campo, cada jogo se transformava em uma festa maior. Havia a expectativa, a espera pelos jogos, o “quando vai ser a próxima partida?” e todo ritual de preparação pra assistir mais um show da seleção canarinho. O ápice foi aquele baile maravilhoso em cima dos argentinos – que eram os campeões de 78 defendendo o título. Foram despachados (3×1) pra casa com direito a samba de Júnior e cartão vermelho de Maradona.
Ia dar tudo certo! Impossível algo ocorrer! Mas veio o capítulo seguinte. Todos conhecem a história… não preciso escrever muito aqui. Sarriá, Itália, Paolo Rossi, eliminação, e… tristeza. Choramos muito. Todos juntos em casa.
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Era então a hora de recolher as bandeiras. Lembro do meu pai fazendo isso no dia seguinte. Guardando tudo. Vieram as explicações, os porquês… meu pai sempre foi meu professor de futebol. Explicava tudo com muita paciência.
Junto com as explicações veio a grande notícia: daqui quatro anos haveria outra! Sim, haveria uma segunda chance! Uma outra Copa do Mundo! Sensacional! E eu, na minha ingenuidade infantil, já apaixonado pelo futebol e por aquele torneio tão especial, comecei uma espécie de espera e contagem regressiva. Passei a viver a vida de quatro em quatro anos. Sempre à espera do próximo mês especial de encantamento, que certamente seria a edição da próxima e da próxima e da próxima Copa do Mundo.
*** Esse texto é dedicado ao meu professor de futebol e de Copa do Mundo, meu pai, Henrique de Sá Faraco, que morreu em 2010, aos 65 anos. Estaria muito feliz hoje, com o filho escalado para cobrir uma Copa “in loco” pela primeira vez.
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