O futebol mudou bastante na última década. Como normalmente muda de década pra década. O grande aviso de mudança chegou no dia 8 de julho de 2014, há sete anos, no histórico 7 x 1 da Alemanha sobre o Brasil, na semifinal da Copa do Mundo, em pleno Mineirão. De lá pra cá, a discussão sobre o trabalho dos técnicos no Brasil se acirrou. E questionamentos muito pertinentes passaram a ser feitos.

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Conceitos simples como intensidade, compactação, pressão pós-perda… as mudanças no meio de campo, que deixou de utilizar jogadores de uma característica acentuada apenas, como volante, armador e meia-atacante, para usar meio-campistas que fazem tudo – que é o que escreve o sempre atualíssimo mestre Tostão. A mudança não está nos termos, nas novas palavras que surgiram no vocabulário do futebol, como muitos tentam desfazer de forma pejorativa. A mudança está no jeito de treinar e no jeito de jogar.

Os negacionistas da bola

Vanderlei Luxemburgo já foi referência, mas há anos vem perdendo relevância
Vanderlei Luxemburgo já foi referência, mas há anos vem perdendo relevância (Foto: Bruno Haddad/ Cruzeiro)

Assim como na nossa sociedade há negacionistas de diversos aspectos de conhecimento, no futebol brasileiro também há. Vanderlei Luxemburgo é um exemplo. Desde 2014 ele briga contra os questionamentos e as mudanças. Chega a dizer de forma recorrente em programas de TV que “tudo que está acontecendo no futebol hoje, a maioria, fui eu que trouxe”, sem querer enxergar que ele mesmo e seus métodos já ficaram pra trás.

Outro é Renato Gaúcho, que segue repetindo a frase envelhecida “vou te mostrar meu DVD”. Ninguém usa e nem compra mais DVDs. Mas nem se trata disso. Renato atualmente comanda o time mais forte do país, o Flamengo. Há dois anos levou uma lição com o Grêmio, em outro jogo emblemático, o histórico “cincun” do Flamengo de Jorge Jesus na semifinal da Libertadores.

A passagem de Jorge Jesus pelo futebol brasileiro em 2019 foi outro aviso. O português veio, mostrou aqui como é o futebol atual no mundo, ganhou o Brasileirão com 90 pontos, ganhou a Libertadores, e foi embora. Renato minimizava os feitos do português com a famosa expressão do “time de 200 milhões”, como se qualquer um, com aquele time, fosse capaz de fazer o mesmo.

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Agora é ele, Renato, que comanda o tal "time de 200 milhões". Pois o tal time desandou nas mãos dele. E derrota após derrota, Portaluppi não consegue explicar por que não consegue fazer num estalar de dedos o elenco milionário jogar, ganhar e dar espetáculo. Era tão simples, não é? Vive repetindo desculpas de “cansaço”, “calendário” e já fez o Flamengo largar o Brasileirão aos poucos e caiu fora da Copa do Brasil levando um passeio do Athletico-PR em pleno Maracanã.

Drible e talento

Renato é xingado pela torcida do Flamengo em pleno Maracanã
Renato é xingado pela torcida do Flamengo em pleno Maracanã (Foto: reprodução)

O mais grave é a negação da evolução, a negação do conhecimento. O futebol hoje ainda admite o drible, como sempre vai admitir, mas ele não é mais a solução para todos os problemas. O jogo está muito mais estudado e coletivo.

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O famoso método brasileiro, que sempre foi achar que o talento resolvia tudo, perdeu espaço. O talento sempre vai ter espaço, jamais vai ficar em desuso. O que já está fora de moda é a arrogância de achar que o profissional brasileiro tem os segredos do futebol no bolso. De achar que o brasileiro é melhor que tudo e tem todas as malandragens do futebol. O futebol do país da "amarelinha", dos "pentacampeões" está tendo que aprender, tomando pancadas, que é preciso pensar e agir diferente. 

O que está em desuso é o mais tradicional “modus operandi” do tradicional treinador brasileiro. Aquele que saiu do campo direto pro banco de reservas e porque jogou bola acha que sabe tudo. Eles já perderam espaço. Os estrangeiros já estão aí, já são uma realidade, e os mais novos técnicos do país buscam cada vez mais o caminho do estudo, da multidisciplinariedade, da atualização. Quem não for neste caminho vai ter, também cada vez mais, menos espaço.

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