A provocação foi feita pelo colega colunista Roberto Alves no final de semana com o texto “Europa: O que eles têm de diferente?”. E é um conflito que sempre existiu no futebol, com América do Sul x Europa e a disputa dos principais títulos e a coroa de “reis do futebol mundial”. Pois bem, atualmente é impossível não reconhecer que a coroa é deles. Eles têm bastante.

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Resultados

Se formos falar de resultado, o futebol europeu é dono das últimas quatro Copas do Mundo. Desde 2002, quando o Brasil foi campeão, que um país de fora da Europa não levanta o troféu mais cobiçado do futebol mundial. Já são 20 anos.

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No campeonato mundial de clubes da Fifa já são nove edições de europeus campeões. A lista tem Bayern de Munique 2013, Real Madrid 2014, Barcelona 2015, Real Madrid 2016 e 2017, 2018, Liverpool 2019, Bayern de Munique 2020 e Chelsea 2021. O último sul-americano campeão foi o Corinthians em 2012 contra o Chelsea. Sem esquecer que um ano antes teve o baile dos 4×0 do Barcelona de Messi sobre o Santos de Neymar.

Estilo de jogo

Jogadores do Tottenham e do City distribuídos em 20 metros no jogo do último sábado na Premier League
Jogadores do Tottenham e do City distribuídos em 20 metros no jogo do último sábado na Premier League (Foto: reprodução)

Mas deixando de lado o resultado, que na verdade é consequência do futebol que é jogado em campo, o futebol praticado na Europa até parece outro esporte. Os melhores times e seleções jogam um futebol de alta rotação e competitividade, de muita intensidade, com time extremamente compactos em campo, jogando em 20, 25 metros de campo. No futebol sul-americano poucos times jogaram assim nos últimos anos. Dá pra citar o Palmeiras atual, comandando por um… europeu, o português Abel Ferreira, o Flamengo 2019 de outro português, Jorge Jesus, o River Plate de Marcelo Gallardo de 2015 até 2020.

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No futebol de clubes, há verdadeiras seleções mundiais nas ligas inglesa, italiana, espanhola, alemã e francesa. Contratam os melhores jogadores, inclusive os brasileiros e argentinos, que continuam sendo muito talentosos e especiais, como bem lembrou Roberto em sua coluna. Mas lá na Europa eles precisam aprender que o jogo está mais coletivo do que nunca. Precisam entender que o drible é necessário, mas não é o todo do futebol. Precisam entender a diferença que existe entre o “jogar bola” e o “jogar futebol”.

Histórico 7x1 da Alemanha sobre o Brasil ficou como símbolo da hegemonia europeia
Histórico 7×1 da Alemanha sobre o Brasil ficou como símbolo da hegemonia europeia (Foto: reprodução)

No futebol de Seleções, a coisa ficou clara na Copa do Mundo de 2014. O Brasil de Neymar “jogava bola” – bola no Neymar que ele resolve. O time de Felipão era um bando em campo. Já a Alemanha não tinha nenhuma superestrela, mas jogava esse jogo coletivo, esse jogo europeu, e fazia o que é o “jogar futebol”. Deu no que deu… “lá vem eles de novo”. Até a Itália teve que se reinventar depois de ficar de fora da Copa 2018. Largou o velho sistema ultradefensivo e que dependia de um atacante de velocidade e um centroavantão, e resolveu fazer um jogo mais coletivo, baseado nos meias, como Jorginho, para ganhar a Euro 2020.

Infraestrutura

E se formos falar de infraestrutura, a distância, que já era muito grande, está ainda maior. É só assistir aos jogos da Premier League, o campeonato inglês, o melhor do mundo. Gramados impecáveis, respeito ao torcedor/espectador, respeito às regras do jogo. Até o VAR funciona melhor, com mais agilidade e precisão. A Premier League é uma invenção do início da década de 1990. Eles tiveram que mudar para qualificar e competir em alto nível. Hoje em dia são o mais alto nível.

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Mas não é só isso. Há projetos esportivos. Dos mais tradicionais, aos times que ficaram ricos do dia pra noite, os projetos esportivos são valorizados. Um exemplo é o tradicional Bayern de Munique, que em 2013 ganhou tudo com o veterano técnico Jupp Heynckes. O time era recheado de estrelas, como o francês Ribery e o holandês Robben, mas era muito intuitivo. Os alemães resolveram que queriam evoluir ainda mais e foram buscar Pep Guardiola, que havia deixado o Barcelona. Guardiola já foi embora, mas o Bayern voltou a ser vencedor com o legado deixado por ele lá.

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Nada que dá certo é feito do dia pra noite e sem uma ideia de jogo ou uma identidade de clube. Até nas Seleções é assim. A Bélgica trocou o intuitivo técnico belga Marc Wilmots de 2014 pelo estudioso espanhol Roberto Martinez de 2018 pensando do mesmo jeito – querendo evoluir a supergeração comandada por Kevin De Bruyne. Foi à semifinal da Copa eliminando o Brasil.

É preciso reconhecer que eles estão fazendo mais e melhor. Negar isso é dar continuidade a este atraso que vive o futebol brasileiro atualmente, principalmente quando o assunto é pensar o futebol, que vem antes do desenvolver e praticar. O talento brasileiro nunca mudou. A nova geração é fantástica, com jovens que já começam a brilhar na Europa, como Paquetá, Anthony, Raphinha, Vinicius Júnior. Mas para voltar a ser competitivo, o futebol sul-americano vai precisar olhar muito para o que se faz na Europa. Rever e mudar conceitos. Só assim para quebrar a hegemonia imposta por aquilo que é real. 

Não escrevo tudo isso por ser um profundo admirador ou torcedor de clubes ou seleções europeias. Muito pelo contrário, admiro o que é bom. Gostaria, na realidade, de ver nossos times e a Seleção Brasileira jogando neste nível. O resto Bob, é saudade ou conversa de bar.