A febre amarela voltou ao Vale do Itajaí, e desta vez silenciosa. Com a redução da população de bugios na região, eles próprios vítimas da doença, o primeiro caso em humano registrado neste ano, que provocou a morte de um homem de 39 anos, veio quase sem aviso. Os macacos sempre exerceram o papel de sentinelas. Quando aparecem mortos, é sinal de que o mosquito infectado está pelas redondezas.
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A vítima da febre amarela em Blumenau morava entre os bairros Itoupava Central e Itoupavazinha, mesma área onde estavam dois macacos que haviam testado positivo para a infecção semanas antes. Porém, os bichos, mãe e filhote, foram diagnosticados quase que por acaso. O resgate deles ocorrera após um ataque de cães.
Sempre que um macaco morre de febre amarela (bugios raramente sobrevivem ao vírus), a Vigilância Epidemiológica faz uma varredura nas redondezas para identificar pessoas não vacinadas. Em geral, são homens entre 30 e 50 anos de idade, relata Renata Rispoli Gatti, bióloga da Gerência de Zoonoses da Vigilância do Estado.
— É comum encontrar a esposa e os filhos moradores da casa vacinados, mas o marido, não — constata.
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Ninguém sabe ao certo em que medida a população de bugios do Médio Vale sucumbiu à febre amarela. Mas há indícios de que as perdas são enormes. O professor da Furb e coordenador do Serviço de Atendimento de Animais Silvestres de Blumenau (SaasBlu), Júlio Cesar de Souza Júnior, baseia-se na redução no número de incidentes envolvendo a espécie. Normalmente, eram resgatados mais de 40 animais por ano. Em 2021, houve só um chamado em quatro meses, justamente o da mãe e filhote mordidos por cachorros. Sinal de que estão menos presentes nas bordas da Mata Atlântica.
— O serviço ecológico que esse bicho presta gera um impacto enorme à população. Não temos mais quem sinalize a febre amarela — lamenta.
A última onda de febre amarela silvestre deste porte registrada no Vale do Itajaí foi há 70 anos. Com o passar do tempo, a população de primatas recuperou-se. Agora, o temor é de que o vírus permaneça por aqui, impedindo o crescimento populacional.
Como a febre amarela tem sintomas muito parecidos com os de outras doenças, inclusive a Covid-19, o diagnóstico precoce é um desafio. Hospitais e ambulatórios da região já foram alertados. Mas a melhor prevenção é mesmo a vacina.
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