De repente ficou barato criticar o presidente Jair Bolsonaro (PL) em Santa Catarina. O corte de quase R$ 40 milhões no orçamento da duplicação da BR-470 e da BR-163, revelado pela coluna nesta semana, desnudou a relação abusiva do governo com o eleitorado que lhe deu 76% dos votos em 2018. E antecipou movimentos de quem não estará ao lado do bolsonarismo na tentativa de reeleição em 2022.
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Até poucos meses atrás, o custo social de se criticar abertamente Bolsonaro em Santa Catarina era alto. O cidadão que o fizesse carregava a pecha de petista. No caso de uma liderança política, significava provocar reações de uma militância feroz. O episódio dos R$ 40 milhões parece marcar uma mudança importante no debate público.
O senador Jorginho Mello (PL) e os demais correligionários do presidente em Santa Catarina ficaram sozinhos na defesa do “cancelamento temporário” dos recursos, da realocação “extremamente normal” de dinheiro, coisa que “quem entende de orçamento” é capaz de compreender, segundo o ministro da Infraestrutura de Transportes, Tarcísio Gomes de Freitas.
Esperidião Amin (PP), que talvez entenda um pouco de orçamento, chamou de “manobra sorrateira”. Dário Berger (MDB) fez meme contra o tratamento injusto da União com Santa Catarina. O prefeito de Blumenau, Mário Hildebrandt (Podemos), disse que o governo “não honra a expressiva votação” no Estado. Exceção aos bolsonaristas de quatro costados e do PL, políticos de todos os partidos dispararam contra os cortes.
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Moção de repúdio
Talvez o sintoma mais evidente tenha sido a aprovação de uma moção de repúdio pela Câmara de Vereadores de Blumenau. Proposta pelo vereador Adriano Pereira (PT), teve o apoio até de Ailton de Souza (PL). Só o bolsonarista Marcos da Rosa (DEM) votou contra. Vereadores costumam sentir antes as mudanças de humor do eleitorado.
Além de pisar no calo dos catarinenses, que são as terríveis rodovias federais, a medida do governo Bolsonaro veio logo após o presidente escolher lado nas Eleições 2022, filiando-se ao PL. O movimento confirmou quem será aliado na disputa eleitoral em Santa Catarina e também quem não será. Para o segundo grupo, os R$ 40 milhões levados embora representaram a oportunidade ideal para tirar o pé que restava na canoa bolsonarista.
Entre o fim de dezembro e o início de janeiro, os R$ 300 milhões cedidos pelo governo estadual começarão a irrigar a duplicação da BR-470. Se a realocação de recursos extremamente normal do ministro Tarcísio não fizer o caminho inverso, acompanhada de uma bolada substancial para dar cara federal aos trabalhos, o que poderia ser o grande trunfo de Bolsonaro na campanha de reeleição em Santa Catarina vai virar um mico.
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