A régua física instalada no Rio Itajaí-Açu, em Blumenau, marcou uma enchente 20 centímetros maior do que a medição oficial divulgada pelo Alertablu nesta semana. Enquanto o sensor da Defesa Civil na Ponte Adolfo Konder registrou 9,40 metros às 2h45min de quinta-feira (5), na beira do rio a régua apontou 9,60 metros. Para o Alertablu, a diferença é resultado da distância entre os pontos de medição. O Ceops acredita que os sensores estejam descalibrados.
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O repórter fotográfico do Santa Patrick Rodrigues fotografou a régua às 6h10min de quinta, quando o rio começava a descer. Marcava 9,46 metros. O nível oficial do sensor da Defesa Civil às 6h foi de 9,29 metros.
O engenheiro Ademar Cordero, professor do Centro de Operações do Sistema de Alerta (Ceops), foi até a régua na manhã de quinta e observou o que mostra a foto: a marca de sujeira mais alta deixada pela enchente na régua. Ele não tem dúvidas de que a história deve considerar o pico da enchente de maio de 2022 em 9,60 metros.
A seção de réguas do Itajaí-Açu foi instalada em fevereiro de 2021, depois que a anterior ficou encoberta pela ponte Adolfo Konder duplicada. Em agosto do ano passado, a Defesa Civil instalou um novo sensor eletrônico na ponte, doado pela empresa MKS Sistemas. Ambos os equipamentos estrearam nesta enchente.
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Um segundo sensor na ponte, da Agência Nacional de Águas (ANA), registrou o mesmo nível que o da Defesa Civil — há uma diferença de um centímetro, que seria explicada pela turbulência da água. Para a diretora de Meteorologia do Alertablu, Tatiane Martins, isso demonstra que o sensor da Defesa Civil usado como referência está calibrado. Para a meteorologista, os resultados diferentes devem-se à distância entre a régua e os sensores. A seção de réguas fica nas proximidades do antigo Shopping Beira-Rio.
— São pontos diferentes de medição. Além disso, próximo à régua há inúmeros obstáculos, como árvores, e a vazão do rio é bastante grande, isso pode gerar muita turbulência próximo à margem — avalia.
Cordero afirma que a régua física sempre foi o referencial das enchentes. A cada três ou quatro medições (feitas de hora em hora nas cheias), comparava-se o que mostrava o sensor com a régua física. O professor, que neste ano colaborou com algumas das projeções divulgadas pelo Alertablu, diz que os sensores precisam ser calibrados tendo a régua como referência. Porque, se os dispositivos eletrônicos pararem de funcionar, o meio físico oferece a segurança de que a comunidade continuará sendo informada sobre o nível do rio.
— A régua é o que comanda a leitura do nível do rio. Se o sensor não está enxergando o que está medido na régua, é o sensor que está fora da calibragem — afirma Ademar.
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Tatiane Martins entende que os sensores estão calibrados e sugere que a régua pode ter se movido com a correnteza do rio. Para ela, quando o rio baixar de vez será possível ter mais certeza do que está havendo.
O sensor da ANA é calibrado pela Epagri. A coluna ainda não conseguiu contato com o órgão.
Dúvidas
Mas e se os sensores pararem de funcionar? A régua deixa de ser útil? Tatiane Martins, do Alertablu, admite que, neste caso, a medição oficial daria um salto de 20 centímetros. Ela considera que o instrumento também é oficial, mantido por outro órgão (a ANA) e deve ser considerado confiável.
A controvérsia deixa dúvidas no ar. Mas uma coisa parece estar clara: a passagem de bastão do Ceops para o Alertablu, que está em andamento, precisa ser melhor conduzida.
Furb
Na quinta-feira, o Conselho Universitário da Furb adiou a decisão sobre o acordo entre prefeitura e universidade para ceder equipamentos e conhecimento técnico do Ceops para o Alertablu. Os conselheiros decidiram ouvir a opinião do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Itajaí-Açu.
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Correção
Até 11h35min desta sexta-feira (6), o texto acima informou que o pico da enchente em Blumenau foi de 9,39 centímetros às 2h. Na verdade, o nível mais alto foi aferido pelo sensor eletrônico da Defesa Civil às 2h45min, de 9,40 metros. A versão acima já foi corrigida.
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