Na próxima semana Blumenau completará 18 meses sem fiscalização da velocidade dos veículos no trânsito. Uma das razões para a demora é que o governo federal tornou o processo para contratar lombadas eletrônicas burocrático ao extremo. A outra é o sucesso eleitoral do discurso que combate as ferramentas de monitoramento do tráfego.

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O argumento infantil da suposta “indústria da multa” venceu o debate sobre fiscalização do trânsito, em julho de 2020, às vésperas da eleição municipal. A Câmara de Vereadores aprovou, por unanimidade, uma lei que proíbe o município de contratar os radares portáteis, chamados de “secadores”. O prefeito Mário Hildebrandt (Podemos) concordou com a norma e sancionou.

Isso ocorreu exatamente no instante em que a cidade ficou sem lombadas eletrônicas — timing perfeito para provocar tragédias. O contrato com a fornecedora anterior terminou e o município não lançou licitação a tempo. Dois meses depois, o Conselho Nacional de Trânsito (Contran) impôs uma série de dificuldades para a contratação de radares eletrônicos. Desde então, os municípios precisam fazer um estudo técnico para justificar os equipamentos. Entre as regras está a exigência de que os locais escolhidos tenham histórico de acidentes fatais. Ou seja, primeiro é preciso que morra alguém.

A mistura de burocracia estatal e imprudência de agentes públicos deixou Blumenau sem um mísero equipamento eletrônico para medir velocidade. Pior para pedestres e ciclistas, as principais vítimas dos apressadinhos.

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Agora, o município reconhece que a alta velocidade é um problema grave. O plano em curso é contratar mais de 100 lombadas eletrônicas e radares fixos. Daqui até o início da fiscalização, entretanto, será preciso fazer o plano técnico e a licitação para escolher os fornecedores. Mesmo sendo otimista, Blumenau deve completar dois anos sem fiscalização.

Apesar da violência crescente, há quem queira ainda menor rigor com os que demonstram pouco apreço pela vida alheia. O vereador Jovino Cardoso (Solidariedade), artífice da lei que proibiu os radares, trabalha também para impedir que as câmeras de monitoramento sejam usadas para punir infratores. Não o faz só por convicção, mas porque conhece os clientes do populismo. Os mesmos que berram contra a “indústria da multa” são os primeiros a pedir cadeia a quem atropela na faixa.

Quem combate os mecanismos de controle do trânsito, mesmo que sem intenção, faz apologia da morte.

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