Entre as informações reveladas pela Polícia Civil nesta segunda-feira (17) sobre o homem que matou quatro crianças numa creche de Blumenau, dia 5 de abril, chama atenção a justificativa apresentada para ele não ter sido investigado após esfaquear o padrasto. O crime anterior, ocorrido em março de 2021, tem sido citado em críticas às autoridades por suposta inércia diante de sinais de perigo. Segundo o delegado-geral, Ulisses Gabriel, o caso não foi adiante porque a vítima não quis.

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No dia 1º de março de 2021, o homem havia ferido o padrasto com golpes de faca. Depois do crime, de acordo com o relato do delegado-geral, o agressor tomou a mesma atitude que no caso da creche: procurou uma guarnição da Polícia Militar e confessou o crime. O boletim de ocorrência foi registrado pela PM.

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A polícia então chamou a vítima à delegacia. O padrasto teria negado submeter-se aos exames para verificar as lesões causadas. E comunicou não ter interesse em levar o caso adiante.

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— Ele declarou em documento assinado. Disse que, como ele (o enteado) passaria por um atendimento numa internação, não queria fazer mais nada — afirmou o delegado.

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Sem elementos para prosseguir com a investigação, a Polícia Civil teria ficado de mãos atadas. A coluna conversou com o advogado criminalista Ricardo Wippel. Para ele, os investigadores de fato não teriam como concluir o caso sem a colaboração da vítima. O exame de corpo de delito indicaria a gravidade das lesões e, a partir daí, qual o crime cometido: lesão corporal leve, grave ou tentativa de homicídio.

— Se a vítima não quis fazer o exame, a polícia não tem como ter ciência da extensão das lesões para poder encaminhar ao Ministério Público — avaliou.

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O delegado Ulisses Gabriel estimou que, só em 2023, mais de 80 mil casos de ameaças e lesões corporais foram registrados em Santa Catarina. Ele citou o número para dar dimensão do tamanho da demanda de investigações. E para indicar que, num cenário assim, as apurações sem viabilidade de seguir adiante precisam ser deixadas de lado.

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Ao UOL, o padrasto do assassino disse que mudou-se de Blumenau para São Paulo por medo do enteado. O homem disse que era ameaçado com frequência pelo jovem, depois de tê-lo expulsado de casa devido ao uso de drogas.

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Cocaína

A polícia também informou nesta segunda-feira (17) que o exame toxicológico indicou a presença de cocaína no corpo do assassino. Porém, ainda é preciso aguardar o laudo de um segundo exame para elucidar se ele estava sob o efeito de drogas no momento do crime ou se o consumo havia ocorrido no dia anterior.

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