Dentre os vários aspectos inéditos da eleição presidencial de 2022, o mais repetido por analistas nesta reta final é a chamada cristalização dos votos. O brasileiro formou convicção sobre quem deve ser o próximo presidente da República com antecedência jamais observada.
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Os gráficos das pesquisas mostram retas monótonas onde, a essa altura em disputas anteriores, linhas irregulares representavam mudanças de lado ou indecisos tomando posição. Se às Eleições 2022 sobra hostilidade — em discursos e atitudes —, falta emoção.
No papel, as últimas reformas eleitorais promovidas pelo Congresso encurtaram a campanha. São só 45 dias no primeiro turno. Na prática, o país nunca abandonou o clima eleitoral desde a abertura das urnas em 2018. O presidente Jair Bolsonaro (PL) não passou um único dia do mandato sem agir como candidato à reeleição. Atos de mandatário e de governo nunca tiveram como destinatário a nação, o todo do eleitorado, mas restringiram-se a agradar quem poderia apoiá-lo na tentativa de permanecer no cargo.
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Nos últimos quatro anos, o brasileiro acostumou-se a viver tenso, armado com argumentos para debater a polêmica do dia. E todo dia há uma a debater. Bolsonaro riscou o chão para segregar apoiadores e oposicionistas em qualquer tópico, do desmatamento da Amazônia à morte de um funkeiro. Essa estratégia de manter a base política energizada, gerando engajamento nas redes sociais, foi copiada de Donald Trump, nos Estados Unidos.
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De outro ineditismo de 2022 vem a segunda razão do fenômeno: um ex-presidente é o desafiante, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), candidato igualmente conhecido dos eleitores e capaz de despertar altas adesão e rejeição. No governo, à medida em que a campanha aproximava-se, Lula também fazia do cargo palanque e subia o tom do “nós e eles” — não o suficiente para produzir atmosfera violenta, retórica e literal, como a atual.
Nem na cadeia Lula deixou de ser candidato a presidente. Livre dela, atuou para que não houvesse terceira opção em outubro de 2022. O bolsonarismo representa sua melhor chance.
Fosse fruto de consciência democrática, a certeza dos brasileiros sobre o 2 de outubro poderia significar amadurecimento democrático. Parece ser outra coisa. Numa democracia regular, o dia seguinte à eleição aliviaria as diferenças e tensões para que o vencedor pudesse governar num ambiente de discordância, mas civilizado. O que se vislumbra são outros quatro anos de disputa ininterrupta.
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