Mais da metade das pessoas que morreram de Covid-19 no Brasil partiram depois que já havia uma vacina disponível contra a doença. Esse dado ficou evidente no último fim de semana, quando as mortes dos quatro meses de 2021 superaram todas as perdas humanas de março a dezembro de 2020. Quem o expressou de maneira sintética, no Twitter, foi o sociólogo Celso Rocha de Barros. A velocidade da morte neste ano expressa a irracionalidade das políticas nacionais de combate ao vírus.
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De um lado, o país em que “a pressa pela vacina não se justifica” (Bolsonaro, 2020) escolheu depender de dois fornecedores. Confiou exclusivamente na produção nacional, sem contar com a previsível escassez da matéria-prima para fabricar os fármacos. Pagamos caro, em vidas e perdas econômicas, o desinteresse pelo imunizante da Pfizer, que há cinco meses está abastecendo o mercado. A demora na vacinação não é exclusiva do Brasil, mas tornou-se dramática no contexto nacional.
Porque, na outra ponta do combate à Covid-19, o país da “imunidade de rebanho” (Terra, 2020) decretou que a circulação do vírus era inevitável, e também a carnificina consequente dela. Estados com o sistema de saúde em colapso mantiveram atividades não essenciais em funcionamento. Os que tomaram medidas mais eficazes demoraram a fazê-lo.
A Covid-19 é uma doença evitável. Ao longo de 2020, fizemos esforços coletivos, em alguns estados mais do que em outros, para conter a disseminação enquanto não existisse vacina. Quando, em dezembro, a vacinação começou no hemisfério norte e a perspectiva de início da imunização concretizou-se, o Brasil simplesmente pagou para ver.
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A CPI da Covid-19, que começa nesta semana no Senado Federal, terá evidências de sobra da inépcia do Ministério da Saúde na compra de vacinas, estimulada por um presidente desinteressado por elas. Mas navegará em um mar de provas de que o governo Jair Bolsonaro, ao sabotar a prevenção, entregou dezenas de milhares de brasileiros à morte a poucas semanas da agulhada que os protegeria.
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