Joana Ribeiro não é contra o aborto, só quando passa do prazo (?). É coerente com tudo o que faz. Escreveu artigos e livro. Passa os finais de semana lendo. Tem uma biblioteca caríssima e compra obras importadas. Ela aguenta pressão sozinha, sabe que o Judiciário é um sacerdócio.
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A juíza Joana Ribeiro está preparada. Foi promovida por merecimento. É uma pessoa abençoada por Deus porque faz o bem. Os advogados a adoram, elogiam. Ela tem uma empatia muito grande com as crianças.
Joana teme pela própria segurança e da família, o resto não tem nenhum problema. Ela não quer gerar custos com guarda-costas ao Tribunal de Justiça de Santa Catarina. Está certa e é coerente. Quer proteger a criança, ainda que isso gere um custo pessoal.
Quem diz tudo isso não é o colunista, mas a própria Joana Ribeiro em entrevista exclusiva concedida ao Diário Catarinense. É alguém que conjuga verbos quase sempre na primeira pessoa do singular. Eu, eu, eu. Inclusive quando o assunto em tela é o estupro de uma menina, obrigada a gestar um bebê indesejado e ouvir questões sobre a vontade do “pai” quanto ao futuro.
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A juíza fala muito de si, mas não da condução da excruciante audiência revelada nesta semana. Apoia-se na usual e justificada preocupação dos juizados da Infância e Adolescência com a intimidade das partes para desviar das decisões que tomou. Não explica qual dúvida existe sobre a legalidade de se interromper uma gravidez provocada por violência e que põe em risco a vida das duas crianças envolvidas. Cita um prazo legal que, segundo especialistas, não existe.
Por causa da atuação de Joana Ribeiro no caso, uma menina de 11 anos vítima de violência sexual permanece há quase dois meses com a infância interrompida. Ficou abrigada entre desconhecidos no pior momento de sua curta vida, afastada da mãe contra a própria vontade. Segue sem perspectiva de pôr um fim ao inferno criado por adultos.
Empatia, doutora, é a capacidade de pôr-se no lugar do outro. A menina e sua mãe são a favor deste aborto, passam todos os dias da semana sofrendo por causa da gravidez imposta por um criminoso e aguentam pressão maior do que ninguém pode imaginar. Para elas, ao menos até aqui, o Judiciário não é lugar de sacerdócio, mas de crueldade.
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