Tem um bode no meio da duplicação da BR-470. Aquele mesmo da alegoria da sala. Quem o colocou na rodovia foi o senador Jorginho Mello (PL). Como ninguém sabe quem e nem como vai tirar o bicho de lá, os R$ 200 milhões que poderiam acelerar as obras continuam parados na conta do Estado. E só os usuários da estrada parecem incomodados.

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O bode sentou-se no asfalto em março, quando o DNIT informou ao Estado que não aceitaria investir todo o dinheiro nos lotes 1 e 2, entre Navegantes e Gaspar, como deseja o governador Carlos Moisés (sem partido). Uma vez que o DNIT é comandando pelo PL, da direção em Brasília até a superintendência em Florianópolis, observadores políticos enxergaram as digitais de Jorginho no movimento. Neste mês de julho, ele adicionou rosto e voz. O parlamentar, que trabalha para candidatar-se ao governo em 2022, tornou-se o principal defensor da tese de distribuir o dinheiro nos quatro lotes, que alega ser técnica. 

Jorginho cumpriu agenda em Blumenau nesta semana. Jantou segunda-feira com o prefeito Mário Hildebrandt (Podemos) e almoçou com 14 empresários na casa de um industrial, na Ponta Aguda, terça-feira. Estavam à mesa o presidente da Associação Empresarial (Acib), Renato Medeiros, e o presidente do Sindicato das Indústrias de Fiação e Tecelagem (Sintex), José Altino Comper.

O senador ouviu apelos para que o impasse não continue atrasando o reforço financeiro à duplicação, mas insistiu na posição do DNIT. Nas duas reuniões em Blumenau, pôs ao telefone o superintendente do DNIT-SC, Ronaldo Carioni Barbosa, indicado por ele ao cargo. Conseguiu o apoio dos empresários e de Hildebrandt para uma grande reunião com Carioni no dia 2 de agosto, na Acib.

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Na presença de prefeitos, vereadores e presidentes de entidades do Vale do Itajaí, caberá ao gestor da duplicação explicar por que a condição imposta por Moisés, o gestor do cofre, é impossível de ser atendida. Ou, em outras palavras, por que o fedor do bode pode ser suportado.

Com o movimento, Jorginho Mello conseguiu fazer Hildebrandt dar um passo atrás no apoio à posição de Moisés. Entre os empresários, foi menos convincente. Mas ao fincar o pé contra os R$ 200 milhões nos lotes 1 e 2, deixou as entidades numa sinuca de bico: qualquer apoio enfático será compreendido como sinalização político-eleitoral.

— Para nós tanto faz se vai lá ou aqui, nós queremos o dinheiro na BR-470. Agora, o dono do dinheiro (Moisés) pode ter o direito de escolher — avalia Medeiros.

Enquanto isso, há 32 dias repousa na gaveta do diretor-geral do DNIT, Antônio Leite dos Santos Filho, a minuta de convênio que formalizaria o reforço à duplicação da BR-470.

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