A aplicação das primeiras vacinas contra a Covid-19 em Santa Catarina evidenciou o drama de prefeitos e gestores de saúde na seleção de quem deve ser imunizado imediatamente. Se o Estado precisou filtrar os grupos pré-estabelecidos pelo Ministério da Saúde, agora municípios apontam a necessidade de delimitar um público ainda menor, dada a escassez. Não é trivial separar quem deve ser protegido já de quem pode esperar a próxima leva. Sem fabricação em massa à vista no Brasil, ninguém dá certeza sobre quando virão novas remessas.
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> Escassez de vacinas provoca reclamações de municípios.
Tome-se o exemplo de Blumenau, que recebeu 2,9 mil doses para profissionais de saúde — 37% do contingente, segundo a prefeitura. Com três hospitais que dispõem de UTIs e enfermarias especializadas em Covid-19, o município ainda precisará reservar doses para o Samu, vacinadores e pessoas que trabalham em instituições de longa permanência.
Como os públicos-alvo iniciais da campanha estão concentrados em poucos endereços (hospitais e casas asilares, principalmente), as equipes volantes do município têm condições de vacinar 2,9 mil pessoas em poucos dias. Ou seja, a espera pela nova carga começará em breve. Para cidades como Doutor Pedrinho, que recebeu 11 doses, já começou.
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Santa Catarina esperava receber cerca de 330 mil doses nessa primeira fase, conforme relataram representantes do Estado ao Comitê Intergestor Bipartite (CIB) na segunda-feira (18). Vieram menos da metade (144 mil). A esperança é que cheguem logo ao Brasil as 2 milhões de doses da Astrazeneca importadas pela Fiocruz, mas ainda retidas na Índia, e sejam aprovadas pela Anvisa outras 4,8 milhões fabricadas pelo Instituto Butantan em São Paulo — as primeiras vacinas nacionais.
O volume adicional seria suficiente para abastecer os municípios brasileiros até o fim de janeiro. Já a vacinação em fevereiro depende da liberação dos insumos chineses para a produção de imunizantes no Brasil. China e Índia são os maiores produtores de matéria-prima para fármacos e também os países mais populosos do mundo. Os dois governos nacionalistas recebem pedidos de toda parte enquanto precisam atender à pressão interna por imunização.
É uma limitação global num instante em que a demanda explodiu. No início da pandemia faltaram máscaras, respiradores e medicamentos hospitalares no mercado. Agora são as matérias-primas das vacinas. Levará tempo para que o fornecimento seja adequado à necessidade e para que o Brasil recupere o tempo perdido nas negociações com parceiros comerciais.
Como disse um secretário de saúde na reunião do CIB na última segunda, tudo isso pode ser compreendido nos gabinetes de Brasília e Florianópolis. O problema é explicar ao profissional que passa o dia coletando material para testar pacientes com suspeita de coronavírus o motivo de não haver prazo para ele ser vacinado. E esse é apenas o exemplo mais aparente.
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