Santa Catarina liberou hotéis 100% ocupados na alta temporada de verão no mesmo dia em que o respeitado jornal La Nación desestimulou viagens de argentinos a Florianópolis, devido à situação da Covid-19. Numa só canetada, o governador Carlos Moisés (PSL) deu razão às preocupações dos vizinhos e oficializou o descontrole no pior momento da pandemia.
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A medida certamente dá fôlego a um dos mais atingidos setores da economia durante a maratona sanitária que vivemos. Hotéis e pousadas poderão receber reservas de última hora a preços que respondem à alta demanda. No curto prazo, parece ser bom negócio. Quem enxerga para além do Réveillon, no entanto, tem motivos de sobra para ficar de cabelos em pé.
A abertura de mais vagas nos hotéis e pousadas atende ao turista menos preocupado com a pandemia. Aquele que não vê problema em compartilhar elevador, salão de café, piscina e até o mesmo teto (no caso de albergues) com numerosos desconhecidos. Esse turista frequentará praias, bares, restaurantes e festas noturnas sem medo. E deixará de usar a desconfortável máscara sempre que tiver oportunidade.
Por outro lado, o Estado escolhe atemorizar o visitante mais cuidadoso e exigente, aquele que consulta as condições sanitárias do espaço antes de fazer a reserva. Pessoas que deixam de entrar num estabelecimento comercial porque não é arejado o suficiente ou porque está lotado. Que podem inclusive cancelar os planos de férias se perceberem que os anfitriões não priorizam a saúde dos visitantes.
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Quem é destemido aproveitará a oferta extra de camas, aproveitará as férias como se não houvesse amanhã e correrá o risco de levar na bagagem o coronavírus e péssimas memórias da viagem. O turista de perfil cuidadoso tende a assustar-se e ficar com a impressão de que, por aqui, mais vale o faturamento de hoje do que a saúde de amanhã. Isso sem falar no cidadão catarinense, que permanecerá aqui quando todos forem embora. No longo prazo, ninguém ganha.
Como comparação: brasileiros que pretendem viajar a Buenos Aires no verão precisam apresentar um exame RT-PCR negativo antes de embarcar. Argentinos que vierem para cá só poderão retornar mediante testagem. Mesma coisa no Chile, outra origem importante de turistas para Santa Catarina. Quem testar positivo terá de ficar por aqui até recuperar-se.
No Uruguai, as fronteiras terrestres permanecerão fechadas na alta temporada. A indústria do turismo aceitou cortar na carne para manter o país livre do coronavírus — são apenas 10 mil casos desde março, número que Santa Catarina conta em apenas três dias neste dezembro.
Praias em Santa Catarina deverão ter máscara obrigatória e distanciamento entre guarda-sóis
Um destino turístico não vende apenas camas, comida, riquezas naturais e culturais, mas um posicionamento, uma identidade, uma maneira de encarar a vida. Leva-se anos para construir uma marca na mente dos visitantes, mas é possível destruí-la em poucas semanas.
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