Na semana em que um ciclone relegou o coronavírus a tema secundário em Blumenau, dois fatos clarearam a estratégia da prefeitura na reação à pandemia e evidenciaram dificuldades para implementá-la.

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Dobrou-se a aposta em UTIs como anteparo da Covid-19 e enfatizou-se a recomendação para que idosos permaneçam em casa. Essa combinação lembra o que o presidente Jair Bolsonaro chamou de “isolamento vertical” no início da pandemia.

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Na terça-feira, fora anunciada a criação de 20 leitos de UTI adicionais aos 65 existentes no SUS em Blumenau. O município investirá R$ 5 milhões em obras físicas nos hospitais Santo Antônio e Santa Isabel para implantar em cada um deles 10 respiradores da WEG enviados pelo estado. Até a semana passada, as casas de saúde não planejavam ampliar leitos, só reforçar os atuais.

Com o estímulo do município, o Santa Isabel construirá uma nova ala de UTI, que levará seis meses para ficar pronta. Enquanto isso, caso a demanda exija, leitos intermediários poderão ser adaptados e receber os respiradores, explicou o diretor técnico, Marcos Sandrini de Toni. No Santo Antônio, as obras serão mais simples e devem durar pouco mais de um mês.

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A comunicação das boas notícias inclui certos exageros. Leitos futuros, ainda sem credenciamento do SUS, são dados como disponíveis e, no Santo Antônio, a previsão é usar cinco respiradores da WEG em leitos pré-existentes. Sobrariam cinco para leitos novos, e não 10.

O segundo fato que delineia a estratégia governamental é a batalha judicial sobre o acesso de idosos aos ônibus. Contrariado com a derrubada do decreto que proibia maiores de 60 anos no transporte coletivo, o prefeito Mário Hildebrandt elevou o tom, quinta à noite:

“Se essa situação continuar, temos um risco muito grande para casos de UTI, de óbito e talvez até de gerar um lockdown no futuro em Blumenau. Não vejo outra alternativa senão pedir, já que nas duas vezes que tentei fui barrado: fiquem em casa, não andem de ônibus neste momento”.

A lógica do isolamento vertical é manter em casa quem está nos grupos de risco, em especial maiores de 60 anos. Assim, menos leitos de UTI seriam ocupados e os pacientes mais jovens, expostos ao vírus, teriam garantia de atendimento.

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Desafiam essa política a decisão judicial, o comportamento dos idosos, cansados do #fiqueemcasa, e principalmente a convivência deles com familiares mais jovens, incluindo crianças. Com o número crescente de doentes simultâneos, é impossível manter a terceira idade numa bolha.

Leitos de UTI aumentam as chances de pacientes que evoluem para quadros críticos de Covid-19. Mesmo assim, 20% deles sucumbem ao vírus. O necessário apelo aos idosos, com todo mundo na rua, pode ser inócuo.